2. UMA PEQUENA AJUDA

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AIYRA TALA

Aquele novo vilarejo não havia sido exatamente como eu esperava, não era como meu antigo que a cada chegada de um novo morador comemoravam e faziam uma festa. Ariesla, uma das moradoras ali foi quem cuidou da casa e nos recepcionou, mas eu via algo misterioso nela. Seu olhar sobre mim me aparentava ser sombrio, como se tentasse ver algo além de mim e me conhecesse antes mesmo de eu me apresentar. Resolvi ir descansar ao lado de meus pais na nova casa, havíamos andado demais para chegar no novo vilarejo. Meus pés mereciam um descanso, mas ainda sim, os sonhos não foram misericordiosos comigo. A imagem dos corpos mutilados não saiam da minha cabeça.  Acordei bruscamente me sentindo zonza.  A única coisa que se passava na minha cabeça é a lenda dos frios, bebedores de sangue. No meu antigo vilarejo, eles sempre contavam a história dos frios e sempre nos deparamos com casos semelhante as lendas em outros vilarejos, tanto que o nosso padre saia em excursões para matar as criaturas. Uma parte minha queria acreditar que fossem eles, poderiam ter feito os graves machucados para parecer que foi um animal, mas de qualquer forma os corpos eram para estar secos. Não queria mais pensar nisso, mas eu estava curiosa demais para saber o que houve.

— Aiyra, já acordou? — ouvi a voz da minha mãe da cozinha e murmurei afirmando que sim, mas obviamente ela não ouviu e precisei gritar para que ela escutasse. Me levantei da cama espreguiçando cada parte do corpo, e comecei a me despir. A água já estava na pequena banheira de madeira, supus que foi minha mãe quem deixou ali. Entrei na água que agora já estava fria, mas não me importei muito e comecei meu banho. Vesti um vestido amarelo e branco com detalhes que lembravam bem o país da minha avó, a Índia. Minha avó era indiana e meu avô indígena. Na tradição da tribo do meu avô, os filhos sempre levavam o nome do pai como sobrenome assim como as esposas. Por isso meu sobrenome é Tala, o nome do meu pai. 

Coloquei um véu sobre meus cabelos e sai do meu quarto para a cozinha. Não havia sinal de meu pai por ali, apenas minha mãe que limpava a pele de um veado que parecia estar recentemente morto. 

— A sua benção, minha mãe — Falei estendendo a mão pra ela que desejou que Deus me abençoasse — A onde está meu pai? 

— Nós trouxe esse veado de uma caçada para comer, e voltou para lenhar com os homens e conseguir dinheiro. Me ajude a preparar o almoço. 

— Sei que preciso te ajudar, mas posso dar uma volta pelo vilarejo? Apenas para conhecer. Prometo que não vou longe e tomarei cuidado.

Minha mãe esboçou um sorriso brilhante, e eu já sabia o que se passava na sua cabeça. Ela deve estar pensando que quero achar pelo caminho um rapaz de boa família para casar. Eu nunca tive interesse em casamento arranjado, sempre quis alguém que eu amasse e que eu teria a certeza que não me faria mal como os outros homens ali. Na nossa sociedade os homens não podem violentar de todas as formas outras mulheres, mas a que são casadas com eles sim, e ainda podem sair impune mesmo que seja outra mulher. 

— Tudo bem, pode ir. Não arrume encrenca e se cuide. Não fique sozinha em lugares inapropriados com um homem, você sabe que eles são como animais irracionais. 

Assenti entendendo sua preocupação, e sai levando um arco e flecha que meu pai havia me dado quando comecei a caçar. Prefiro ir presa por assassinato do que deixar alguém me tocar sem meu consentimento. Sai pra fora sentindo o ar frio bater contra meu rosto e me agasalhei mais, me esqueci que estava uma neve lá fora. Caminhei com o vestido arrastando pela neve, e vi alguns rapazes ali carregando lenha e animais. Uns pararam e sorriram pra mim, fechei ainda mais a cara e eles se olharam sem entender. Eu apenas não quero dar esperança a algum deles e arrumar problemas. Havia um poço para abastecer água bem no centro do vilarejo, e me sentei ali tomando todo cuidado para não cair. Tudo que eu menos quero é perder minha vida tão cedo por acidente em um poço.  Senti uma presença ao meu lado, e me virei vendo Ariesla com um sorriso gentil para mim. Sorri de volta por educação, mas ao lembrar de seu olhar, senti calafrios pelo meu corpo. Mulher esquisita. 

𝕽𝖎𝖘𝖎𝖓𝖌 𝕾𝖚𝖓 || 𝕯𝖊𝖒𝖊𝖙𝖗𝖎 𝖁𝖔𝖑𝖙𝖚𝖗𝖎Onde histórias criam vida. Descubra agora