9. REENCONTRO

872 96 53
                                    

AIYRA TALA

Meus olhos se remexeram inquietos, e mesmo que eu não quisesse acordar naquele momento, acabei o fazendo. A casa está uma escuridão por estar toda fechada, o que me lembrou de acender velas, mesmo que eu possa enxergar na escuridão.

Olhei para todos os lados e não vi sinal de Demetri. Sorri ao me lembrar dele. Acho que estamos formando uma bela amizade, mas eu ainda sinto algo estranho, como uma ligação. Eu o quero por perto.

Balancei a cabeça em negação tentando espantar todos esses pensamentos. Deve ser apenas o agradecimento depois dele ter me salvado de Abraham e sua matilha maluca, e a forma como ele sempre me tenta manter segura. Mas ainda sim, por que ele faz isso?

Frios não costumam ser tão bondosos assim com meros desconhecidos, pelo contrário.

Espreguicei meu corpo e me levantei. Não havia sobrado lombo de porco, e nem sequer faço ideia de onde Demetri conseguiu. Encontrei uma carta em cima da mesa, ele estava me avisando sobre os homens que nos abordaram na entrada da cidade. Eu realmente preciso tomar cuidado.

Sai para fora da casa e senti o vento frio bater sobre minha pele, havia voltado a nevar de novo. Eu sinto falta do sol agora, eu ao menos não precisaria me cobrir fingindo que sinto frio.

Vi os mesmos homens nas quais Demetri havia me avisado, e fiquei em estado de alerta. Eles estavam destruindo a loja de um senhor que gritava pedindo para que parecessem. As pessoas olhavam para tudo assustadas, até que o homem foi puxado para fora aos empurrões.

— ESSE HOMEM TEM VENDIDO CARNE SANGRENTA PARA OS FRIOS SE ALIMENTAREM — Um dos homens acusou o pobre senhor que chorava.

— Por favor, não façam isso. Este é meu único ganha pão. A carne que vendo sangra por natureza, não tem haver com os frios. Juro aos senhores.

Eles riram vendo o pobre homem se ajoelhar diante deles, até retirar as moedas dos bolsos e oferecer a eles.

— Isto é muito pouco pela sua vida — um deles desdenhou, mas ainda sim pegaram as moedas e dividiram entre si.

— Matem-o — ouvi um dos homens sussurrar ao outro que pegou o Machado.

Ali eu havia entendido. Não estavam realmente caçando seres sobrenaturais, estavam intimidando os cidadãos para conseguir benefícios.

— Você não pode matá-lo — intervi dizendo de forma alta, e os homens me encararam.

— Como? — O de machado deu um passo a frente na minha direção tentando me intimidar.

— Eu disse que você não pode matá-lo. O senhor é surdo ou não fala italiano? — ouvi algumas risadas vindo de outros moradores, e o homem fechou a cara — Segundo as leis, é errado acusar injustamente uma pessoa sem provas. Você pode pagar com a vida.

Ele riu em descrença.

— É uma mulher falando.

— Uma mulher que tem demonstrado saber mais das leis do que você. Acho que invés de bancar o justiceiro, deveria ir estudar mais pra não cair na sua própria armadilha.

Novamente, os moradores riram da cara do homem que veio na minha direção com fúria. Continuei parada no mesmo lugar o esperando. Ele levantou o machado para me acertar fazendo a multidão arfar, mas segurei o machado a tempo antes que me acertasse.

Não sei a que ponto senti a raiva pela sua ousadia, mas vi as cores do lugar ficarem mais fortes e um leve comichão nos olhos. Naquele momento eu quis me bater. Meus olhos estão amarelos.

𝕽𝖎𝖘𝖎𝖓𝖌 𝕾𝖚𝖓 || 𝕯𝖊𝖒𝖊𝖙𝖗𝖎 𝖁𝖔𝖑𝖙𝖚𝖗𝖎Onde histórias criam vida. Descubra agora