4. LOBISOMENS

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AIYRA TALA

MEUS olhos se entreabriram lentamente, sentia o cansaço de cada pálpebra e a claridade me incomodar. Meu corpo ardia com o contato de algo úmido sobre eles, até sentir minha visão retornar e ver as ervas colocadas sobre cada parte do meu corpo. Era como se um cavalo tivesse me pisoteado, meu corpo inteiro estava cansado. Tentei falar, mas a garganta ardeu de sede e havia um incômodo no pescoço. Desviei o olhar e vi mais ervas ali. Tentei me recobrar do que havia acontecido, e me lembrei de um vulto pulando em cima de mim. O corpo ereto e forte, mas o rosto de um lobo feroz. Me levantei de supetão e minhas costas reclamaram.

- Você não deveria se mover tão rápido assim - Ouvi uma voz ao fundo. Suave e doce. Olhei ao redor e eu estou dentro de uma caverna, e a frente vi a figura feminina em pé cozinhando algo. Ela é branca, olhos castanhos e enormes cabelos da mesma cor.

- Quem é você? - sussurrei com a voz fraca. Ela sorriu pra mim, e veio até perto deixando um caldo em cima de mim.

- Meu nome é Gwendolyn, uma amiga no meio de tantos lobisomens selvagens te fará bem.

Quase engasguei quando ouvi a palavra LOBISOMENS. Ela percebeu minha reação, e pareceu se repreender murmurando sozinha. Antes que eu dissesse alguma coisa, Ariesla entrou com um sorriso discreto e fez um sinal para Gwendolyn, que imediatamente saiu. Olhei para o caldo e resolvi bebe-lo, estava com fome e sede.

- Você deve estar cansada depois de tudo que aconteceu ontem - sussurrou se aproximando cautelosamente, analisando minhas reações.

- Foi você quem me salvou? E o que a Gwendolyn quis dizer com lobisomens? Foram aqueles monstros que me atacaram, não? Eles estão aqui ? - A bombardeie de perguntas, e ela fez um sinal para que eu parasse.

- Eu irei te explicar tudo, mas preciso que você tenha calma e uma mente aberta. Não precisa ter medo - disse com a voz suave, como se tentasse me passar calmaria. Ariesla sempre agia daquela forma - Não são monstros, são filhos da Lua, lobisomens. E sim, foram eles que te atacaram. Eu impedi que matassem você.

Respirei aliviada, e coloquei a mão sobre o peito. Graças a ela, estou viva. Com machucados profundos e ardentes, mas ao menos viva. Agora eu entendo porque meu pai não queria caça-los, e muito menos me deixar ir. Ele já adivinhava que seria algo além de nosso alcance.

- E quanto aos homens que estavam caçando essas feras? Estão bem? conseguiram retornar vivos ao vilarejo? - indaguei.

- Eles não caçaram ninguém, eu menti pra você - revelou.

Frangi o cenho, a encarando. Eu sempre soube que havia algo errado nela, eu sentia isso dentro de mim. A forma como se aproximou, toda hospitalidade e empatia. Mas por que tudo isso? Resolvi não perguntar, e sim deixa-la terminar.

- Você sabe que a igreja costuma caçar os frios, bebedores de sangue, vampiros na verdade.

A olhei com mais atenção, a lenda dos frios sempre me interessou, e muitos me chamaram de louca justamente por isso.

- Então, nunca foi uma...

- Mentira? Não! Os frios realmente existem, se escondem dos humanos que os caçam, é melhor assim. Mas a igreja não caça apenas eles, bruxas também.

𝕽𝖎𝖘𝖎𝖓𝖌 𝕾𝖚𝖓 || 𝕯𝖊𝖒𝖊𝖙𝖗𝖎 𝖁𝖔𝖑𝖙𝖚𝖗𝖎Onde histórias criam vida. Descubra agora