8. ESPOSA

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AIYRA TALA

Demetri correu por um bom tempo comigo em seu colo para bem mais longe do vilarejo que estávamos, e depois de tudo que passamos, confiava nele para me levar a onde fosse. Com ele ali, eu nem sequer me lembrava daquela família. Pensar neles me causava arrepios. Não era eu ali, mas ainda me causava náuseas. Matar para sobreviver é uma coisa, mas matar inocentes sem uma causa exata não me agrada. Ainda sim, enquanto eu for uma lobisomem, terei que me acostumar com o sangue de inocentes sujo em minhas mãos.

O vampiro parou de correr e me colocou sobre o chão em cima de um monte, lá embaixo se via uma grande cidade. Whallevile o seu nome. Demetri puxou cobriu seu rosto com a capa já que agora precisaria dela bem mais que eu. Ele segurou firme em minha mão me dando um olhar reconfortante, me senti mais segura com aquilo. Descemos o monte até a cidade, e assim que entramos nela fomos bombardeados por olhares curiosos e sinistros. Apertei a mão de Demetri por instinto, e ele acariciou a minha como um sinal para que mantesse calma.

Havia um grupo de homens com armas nas mãos, olharam para nós e vieram como guardas e nos fizeram parar.

— Quem são vocês? — O mais velho perguntou.

— Não sabia que para entrar em uma cidade é preciso dar minha identidade — Demetri retrucou deixando o homem envergonhado.

— Perdão, senhor. Mas a igreja tem caçado lobisomens, bruxas e frios. Precisamos ter a certeza — O homem abaixou a cabeça tentando ver melhor o rosto de Demetri, e se afastou com medo de algo — Por que seus olhos são vermelhos?

— A última anomalia dos últimos 10 anos não me foi muito oportuno, por favor, sem mais questionamentos. Essa é a senhora Tala, minha esposa.

— Apenas Aiyra — sorri para pensar amigável.

Eles nos analisaram uma última vez, e se afastaram com as armas na mão. Pude respirar mais aliviada, e Demetri e eu adentramos a cidade. Havia mulheres sendo arrastadas pelos maridos pelos cabelos, mulheres se vendendo em plena luz do dia e outros limpando o cabaré, senhores em ruas pedindo moedas.

— Essa cidade é podre — sussurrei pra ele que riu.

— Se acalme, estamos chegando na parte mais limpa da cidade.

Andamos por mais um tempo, até que chegamos em quase o final da cidade e parecia outro lugar. Donas de casa ajudando os maridos a limpar a neve, crianças brincando fazendo bonecos e as mães brigando pelo desperdício de cenoura nos narizes, lenhadores trabalhando. Era como se tivesse uma linha tênue que separava o lado bom e ruim da cidade.

Mais uma vez recebemos olhares curiosos, mas ainda sim pareciam mais agradáveis. Demetri me levou até uma pequena casa, e abriu a porta com uma chave velha. Entramos na casa que estava toda cheia de poeira, e forcei uma tosse para que entendesse a minha insinuação.

— Não seja chata, você nem fica doente — resmungou. Ele foi até os simples móveis e retirou os panos dali. Mais poeira veio.

— Essa casa precisa ser limpa, vamos jogar uma água aproveitando que não sentimos frio.

Ele assentiu E fez um sinal para que eu esperasse. Logo, ele voltou com um balde carregando água e começou a jogar por todo chão. Molhei um dos panos que estava sobre os móveis, e o torci bem para deixar apenas úmido e passei pelos móveis ali. Demetri continuava jogando água por todo canto, enquanto eu limpava uma das cadeiras.

— Estamos parecendo dois donos de casa, isso não é lindo?! — brinquei.

— Considerando que eu sou quem sou, ninguém esperaria me ver assim.

𝕽𝖎𝖘𝖎𝖓𝖌 𝕾𝖚𝖓 || 𝕯𝖊𝖒𝖊𝖙𝖗𝖎 𝖁𝖔𝖑𝖙𝖚𝖗𝖎Onde histórias criam vida. Descubra agora