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Estamos finalmente em novembro e o inverno faz-se sentir em cada parte da cidade, em cada mísero milímetro de pele. A faculdade tem corrido bem, não deixo que os trabalhos se acumulem como antigamente, visto que a minha técnica de organização melhorou bastante nos últimos tempos. Para ser sincera, penso que sou uma pessoa mais coordenada e prudente agora. Talvez tudo isto se deva ao facto pelo que passei, mas o que realmente importa foi a descoberta da estabilidade que tanto desejei, porém que nunca pensei atingir. Esse era uma dos meus objetivos que vejo cumprido. Tenho orgulho em mim mesma por diversos motivos. Olhar para o passado não me entristece e já não penso no mesmo por horas. O que tiver de ser será.

O trabalho tem sido mais esgotante que a própria universidade. O bar tem ganho muita procura, principalmente agora com as sextas de karaoke. Devo dizer que é divertido ver a figurinha das pessoas, e sei que se fosse eu que não fazia melhor, que provavelmente seria uma outra figurinha triste. Não sei cantar e não me atrevo a fazê-lo, só mesmo no duche. Depois há também os sábados à noite onde um pequeno palco ganho foco com um ou mais microfones, isto para pessoas que gostem de mostrar talentos, qualquer um que seja. Aos domingos costuma ser a noite tropical, bebidas vindas de não sei onde, dançarinas e dançarinos dão espetáculo. Segunda-feira as coisas voltam ao normal até chegar novamente a sexta e o fim-de-semana preenchido. Adoro o meu emprego. Estou entre amigos e é algo que gosto de fazer. Servir às mesas e observar as pessoas felizes a conversar.

“O que estás a fazer?” – a voz de Zayn acorda-me dos meus pensamentos.

Os meus olhos observam os seus movimentos cautelosamente, dando a volta ao sofá para se acomodar bem a meu lado. O cheiro do seu perfume invade as minhas narinas e digo desde já que só me apetece largar tudo para me deitar no seu peito, ouvir o seu ritmo cardíaco.

“A ler…” – deixo as palavras divagarem, encontro-me demasiado embriagada com o seu cheiro.

“O quê?”

Partilhamos um sorriso.

“Um policial.” – digo com demasiado entusiasmo. – “É um livro genial, bem cativante.”

O sorriso permanece nos seus lábios cheios, pequenas rugas formam-se na minha testa em dúvida.

“O quê?” – não consigo esconder o embaraço.

“Nada. Só gosto de te ver a ler. Concentrada naquilo que estás a fazer.” – mordo o interior da minha bochecha. – “Devoras livros.”

Rio com o seu último comentário. Não deixa de ter razão, é a mais puras das verdades. Desde que goste do que estou a ler, eu posso ficar quieta no sofá por horas a consumir página atrás de página, esquecendo-me do resto do mundo. Só eu e o livro existimos. Porém, agora vou deixar o meu pequeno amigo de lado e deitar-me com Zayn. Ele aprecia o meu gesto.

“O que queres fazer hoje à noite?”

A sua voz vibra pelo seu peito, arrepios na minha pele.

“Sei lá, queres ir sair?”

Sinceramente, não me apetece muito sair de casa com estre frio e chuva, prefiro ficar no calor acolhedor do apartamento e no conforto dos braços de Zayn. Nunca pensei ser tão feliz como agora. Parece que a minha vida ganhou finalmente algum rumo, alguma firmeza de uma vez por todas. Sinto que não há nada nem ninguém que possa estragar nada disto. As coisas estão perfeitas exatamente como estão.

Burn2Where stories live. Discover now