Burn2

1.

Eu estava certa e errada ao mesmo tempo e só precisava da confirmação para ambos. Para o meu estado. E a única vontade que tenho neste preciso momento é de rir. Rir de tudo e de nada. Porque chega a um ponto em que temos de colocar todas e quaisquer preocupações de parte, e simplesmente apreciar a beleza. Dar valor ao que temos e parar de nos queixarmos devido ao que queremos. E a verdade é que nem sempre aprendemos isso da melhor maneira. Talvez eu me possa considerar um exemplo disso mesmo. Porém não devo lamentar-me, nem o vou fazer. Porque para ser honesta a minha vida deu uma grande reviravolta. As mudanças foram feitas e sou honesta quando digo que não as aceitei de bom grado ao princípio. O que é perfeitamente normal. Nós, seres humanos, ficamos demasiado presos, trancados a rotinas, a pessoas, a hábitos, a vícios... E quando vemos já é demasiado tarde. Já estamos cativos em tudo isso. Contudo a vida só te aprisiona se não amares o suficiente a tua liberdade e lutares por ela. E foi o que eu fiz.

"Sky?"

O meu nome soa pelo corredor e não há melhor voz para o dizer. E arrepios correm pela minha pele. Rapidamente me levanto da cama e caminho em bicos de pés para o corredor. Ouço passos e apreço-me a fugir para a sala.

"Sky?"

Tento conter o riso e entro na cozinha. Posso respirar fundo finalmente, pego num copo e verto um pouco de água para o mesmo. O líquido divino assassina a minha sede e fecho os olhos em apreciação. As minhas noites têm sido fantásticas, digo isto no sentido de conseguir finalmente dormir umas boas horas de sono sem quaisquer interrupções ou pesadelos. É uma grande melhoria no meu sistema. Agora sou capaz de fazer tudo da melhor maneira que me é permitida e com um humor mais razoável.

"Aqui estás tu."

As suas mãos apertam ligeiramente a minha cintura, enquanto coloca o seu queixo no meu ombro. A sua barba por fazer incomoda um pouco a minha pele sensível, demasiado sensível. Rapidamente me volto e o afasto de mim com um sorriso nos lábios. O seu próprio sorriso é mostrado e ambos nos rimos com a situação no geral. Trocamos um bom dia praticamente inaudível enquanto os nossos olhares não estão mais cruzados. Assim que o silêncio começa a invadir demasiado a divisão eu opto por falar qualquer coisa.

"Não tens de ir trabalhar?" - torço o lábio, mordendo-o seguidamente.

"Estás-me a despachar é?" - um sorriso torto adorna os seus lábios cheios.

Reviro os olhos, porém não contenho um pequeno riso. Simplesmente não consigo ser de outra maneira com ele. Porque a verdade é que desde o primeiro dia que o conheci que as coisas mudaram bastante por aqui... e por ali, se é que me faço entender. Sinceramente, não estava à espera que nada disto acontecesse comigo. Principalmente quando já não tinha qualquer esperança de tudo melhorar. Mas acho que a vida é mesmo assim, surpreende-nos quando menos esperamos, o problema é que nem sempre a surpresa é boa. Contudo, desta vez eu tenho que agradecer pelo seu bom e positivo trabalho.

"Sendo assim eu vou indo." - a sua voz grave ecoa nos fundos da minha mente.

Assim que o vejo vestir o seu casaco de cabedal preto, pouso o copo vazio na banca e acompanho-o até à porta.