26.

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A semana seguinte passou excessivamente devagar, cada dia parecia arrastar-se por infinitos segundos, causando um mal estar interior. Liam voltou para Londres certificando-me que ira pensar no assunto, sendo o assunto a situação da nossa mãe. Quando mais penso menos quero pensar. Não há realmente volta a dar à questão e só tenho duas alternativas: aceitar que aquela mulher está aqui e é minha mãe ou virar costas e tentar esquecer. Tenho momentos em que quase acredito que consigo aceitar a segunda opção, mas é óbvio que não capaz. Podem chamar-me de fraca, mas é o que sinto e prometi a mim mesma que não iria negar mais os sentimentos. Logo, terei que reconhecer o facto de após seis anos a minha suposta mãe veio à minha procura e à do meu irmão, que pediu perdão, implorando por uma última oportunidade. Apesar de não haver mais nada a fazer continuo a rever cada simples pormenor.


"Estás deslumbrante." – a voz sussurra no meu ouvido.


Um sorriso forma-se nos meus lábios e acabo por esquecer os meus pensamentos. Os seus lábios resvalam no lóbulo da minha orelha arrepiando-me a pele ao toque. Ao encará-lo os nossos rostos ficam demasiado próximos, mas isso não me impede de admirar o verde florestal dos seus olhos. O seu olhar fixa-se em mim, alternando para os meus lábios. Inevitavelmente acabamos por nos beijar. As minhas mãos no seu pescoço, as suas ao fundo das minhas costas. Paramos e afastamo-nos quando um flash atinge os nossos rostos.


"Mãe." – Harry fala antes que eu possa sequer reagir.


Vejo Anne, mãe de Harry, com uma máquina fotográfica e um sorriso largo e satisfeito. Rapidamente lhe sorrio de volta, porém a mulher de olhos claros lança um olhar menos satisfeito para o filho.


"Sabes que odeio fotos." – a voz grave de Harry ecoa com um tom insatisfeito e contrariado.


Uma das coisas que temos em comum penso. Também não sou muito apreciadora de fotografias a não ser que seja eu a fotografar e não a ser fotografada. Mas nesta ocasião não me vou opor, porque o faria? Harry olha para mim e sorri, procurando pela minha mão. Os nossos dedos enlaçam-se e ambos partilhamos um sorriso. Quando menos esperamos mais um flash, mais uma fotografia. Harry volta a protestar, mas Anne oferece resistência. Tal mãe tal filho.


"Vocês ficam tão bem juntos que não consegui resistir!" – as suas palavras fazem com que eu fique sem jeito.


Meramente agradeço o elogio e Anne deixa-nos a sós no enorme jardim para ir tratar de um assunto qualquer. Olho para Harry admirando o sorriso que lhe chega aos olhos, formando pequenas rugas e covinhas no rosto. Aqui estamos um ano depois para festejar o seu vigésimo primeiro aniversário, novamente em Holmes Chapel a sua terra natal. Este ano a festa não é muito diferente, a sua família está presente, assim como alguns, porém poucos, amigos de infância. Nunca pensei que Harry tivesse conservado tais amizades, logo fiquei bastante surpreendida quando conheci dois rapazes e uma rapariga os quais não me recordo os nomes. Seguindo-se os seus primos e tios que pareciam nunca mais terminar. Fui apresentada a tanta gente e tanta gente foi-me apresentada que a maioria dos nomes já não reside na minha memória, somente os rostos que vagueiam pelo jardim e pelas salas.


Sou apanhada desprevenida quando uns lábios suaves colidem com os meus. Harry sabe mesmo como ser subtil não haja dúvida. Mas é destes momentos que gosto em nós, aqueles que não estamos realmente à espera que aconteçam, deixando a espontaneidade reinar entre nós.

Burn2Where stories live. Discover now