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Passaram dias, talvez até mesmo semanas. Tentei ao máximo levar a minha vida com normalidade, mas depois de saber toda a verdade eu simplesmente não consigo esquecer. A minha vida não passou de uma mentira. Digo pela milionésima vez a mim mesma, fazendo com que a dor de cabeça se agrave ainda mais. Talvez esteja a ser egoísta com este meu comportamento autodestrutivo, contudo não sou capaz de evitar isto. Já não me sentia desta forma há muito tempo, se é que alguma vez me senti assim.


Obviamente que Liam me ligou vezes sem conta. Nos primeiros dois dias não me encontrava apta psicologicamente para falar fosse com quem fosse, muito menos por telefone. Eventualmente acabei por atender às suas chamadas desesperadas e tivemos uma conversa que só irmãos entendem. Surpreendentemente não ouve lágrimas de nenhuma das partes. Somente desabafamos um com o outro sem limites como sempre fizemos, mas o meu irmão tentou chamar-me à razão, dizendo que não devia cortar relações com aquela mulher. Honestamente, sei que isso não é o mais correto, mas estou apenas a tirar uns tempos para me habituar à ideia de que tudo não passou de uma mentira, de um jogo que ela fez questão de criar, jogar e assistir na primeira fila. E sinceramente não sei como me sinto perante isso. É angustiante.


Os meus pensamentos são interrompidos quando a campainha soa, o barulho lateja na minha cabeça e levo os dedos às têmporas, massajando-as. Acabo por me levantar do sofá, pousando o copo meio vazio de whiskey na mesa. Falo com um rapaz através do intercomunicador, ele apenas me diz que veio fazer uma entrega. Fico confusa, porque sei perfeitamente que não encomendei nada nos últimos tempos e a única coisa que recebo são cartas com contas para pagar. O rapaz bate à porta e abro-a, rapidamente vejo um ramo de flores que quase lhe cobrem o rosto na sua totalidade.


"Bom dia." – a sua voz abafada devido às flores soa.


"Bom dia." – respondo, claramente confusa e à espera que diga algo.


"Vim entregar-lhe estas flores." – as mesmas vêm na minha direção e quase sou forçada a aceitá-las.


"Deve haver algum engano aqui." – rapidamente contesto.


"Não, a morada está correta, eu fiz questão de confirmar." – com o ramo nos braços olho para o rapaz que deve ter a minha idade, talvez até seja mais novo. – "Só preciso que assine aqui."


Vejo retirar da mala um caderno, na capa do mesmo estava escrito Entregas. O rapaz fornece-me uma esferográfica e assino onde está anotado o meu primeiro e último nome. Assim que tudo se encontra em ordem, o rapaz das entregas agradece, desejando-me novamente os bons dias e vai embora. Fecho a porta ainda não acreditando no que acabou de acontecer. Deixo as flores em cima da bancada, procuro uma jarra e encontro uma no armário da cozinha, coloco alguma água e deposito as flores no seu interior. Fico a observá-las por alguns instantes. Rosas brancas. É aí que reparo em algo no meio delas, os meus dedos apreçam-se a retirar um pequeno envelope branco. Não me admira que não o tenha visto antes, este camufla-se no meio das rosas.


Faço novamente o caminho para o sofá, sentando-me. Respiro fundo antes de abrir o envelope. Provavelmente foi Liam que mas enviou para me alegrar, ou talvez tenha sido Marcel visto que não vou a sua casa há dias e praticamente não temos falado. Mas obviamente que o ramo não veio de nenhum dos dois.

Burn2Where stories live. Discover now