39.

56 4 1
                                    



Depois de toda a informação que me foi fornecida hoje somente conduzi até um bar que conheço, localizado perto da universidade. Sei perfeitamente que não o devia ter feito. Porquê? Porque neste preciso momento estou na minha quarta bebida seguida e o efeito do álcool no meu sistema começa finalmente a fazer efeito. Apesar de ter passado uma boa tarde na companhia de um dos meus melhores amigos, não posso negar o facto de que na prática toda a minha vida foi uma mentira. Tudo o que alguma vez julguei que sabia não passou disso, de um julgar, de um supor. Agora percebo o porquê de imensos acontecimentos, nomeadamente a verdadeira razão para a qual Liam quis partir naquela noite, porque se encontrava no seu auge de ira. Não o posso julgar, provavelmente teria feito o mesmo no seu lugar. Por mais que tente esquecer o assunto, dizendo repetidamente para mim mesma que nada mudou, simplesmente não vale a pena. A minha quinta bebida é servida e o rapaz do bar deita-me um olhar preocupado. Contudo, não necessito da sua preocupação impertinente. Eu estou bem, só quero desanuviar a mente e beber whiskey rasca num bar qualquer, penso que depois dos acontecimentos recentes que mereço deixar-me levar nem que seja por apenas uma noite. É tudo o que peço, uma noite de irresponsabilidade, uma noite para ser capaz de esquecer.


Há uma música de fundo bastante relaxante. É Jazz, um dos melhores géneros musicais de sempre. O meu corpo responde com pequenos e ritmados movimentos assim que termino com o sexto copo. Sei que já gastei um balúrdio em bebida, se calhar mais valia ter ido comprar uma garrafa a um supermercado e me ter embebedado no meu próprio carro. Respiro fundo ao realizar que isso teria sido uma boa ideia, uma excelente ideia para dizer a verdade, contudo agora é tarde de mais e o estrago já está feito. Sinto o álcool pulsar nas minhas veias, queimando todo o rasto de preocupação e pensamentos indesejados da minha mente anteriormente sóbria. Era exatamente isto que desejava, ficar totalmente intoxicada pelo whiskey, na tentativa de desprezar todos os problemas da minha vida.


Opto por ir para o exterior, somente para apanhar um pouco do ar fresco da noite. Assim que a brisa fresca atinge a minha pele, um arrepio percorre o meu corpo. Começo a rir como se tivesse ouvido uma anedota, o que não deixa de ser verdade, a minha vida é uma autêntica piada. A meio do meu ataque de riso sinto o telemóvel vibrar no bolso das calças. Vejo que é uma mensagem de Marcel, tento carregar no ecrã para a ler, porém a luz é demasiado forte e magoa a vista. Há décima tentativa consigo por fim ler o texto.


Espero que tenhas chegado bem a casa. Adoro-te.


Encontro-me demasiado embriagada para lhe responder de volta, além disso o que lhe iria dizer? Que não fui para casa e que decidi vir beber? Reviro os olhos para mim mesma. Nem sei porque raio voltei a ser sua amiga, afinal antes estávamos em maus termos e de um momento para o outro ficou tudo bem como por magia. Além disso, ainda não estou esquecida do facto de que Marcel sabe algo sobre Harry e que não me contou. Rio sem fôlego, obviamente que ele não me iria revelar fosse o que fosse. Harry muito certamente o ameaçou se me contasse o seu pequeno e sujo segredo.


Repentinamente sinto uma tontura e cambaleio para trás, quando penso que vou definitivamente cair algo me ampara a queda. Quando recupero os sentidos vejo que o algo é na verdade um alguém. Um homem segura-me e ajuda-me a manter-me de pé, porém mesmo quando recupero o equilíbrio as suas mãos continuam em mim. Tento sair do seu aperto, contudo é como se os seus dedos tivessem literalmente vincados na minha pele. Estou somente a usar uma t-shirt e sinto os seus dedos grossos e ásperos nos meus braços, agarrando-me possessivamente.

Burn2Where stories live. Discover now