9.

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Fez duas semanas que fechei a porta na cara de Harry. Consegui ser firme o suficiente para não me permitir ouvir mais ilusões vindas da sua boca. Ele não lutou nem falou o que fosse após o sucedido, após a minha falta de educação bem merecida da sua parte. Não guardo quaisquer remorsos, não há espaço para os mesmos quando a desilusão ocupa todo o lugar. Nunca mais o vi. Enfim.

Respiro fundo e abandono a cabine de duche. Vapor a invadir a área. Passo a mão pelo espelho embaciado na tentativa de ver a minha figura. O meu rosto limpo, o meu cabelo curto, o meu olhar duro. Sinto-me diferente, mudada. Olho mais uma vez no reflexo e a Sky antiga desvaneceu-se completamente, não há um único rasto dela. Mordo o lábio e reviro os olhos para mim mesma. Agarro na toalha e enrolo-a à volta do meu corpo nu.

Tenho ganho peso.

Pensei sem querer. Ultimamente não tenho medido aquilo que como e simplesmente como. As coisas não podem continuar assim, tenho que começar a praticar desporto novamente. Seria tudo muito mais fácil se pudesse frequentar um ginásio, pois assim teria diversas máquinas à minha disposição.

Seria tudo mais fácil se falasse com Liam e colocasses o orgulho de parte.

 

O meu subconsciente atira sem dó nem piedade e sinto aquele frio na barriga com a sua afronta. Nem pensar que vou voltar a falar com o meu irmão, pelo menos não por agora.

Agora não. Então quando?

Inspiro e expiro, fechando os olhos. Levo as mãos às têmporas e massajo-as lentamente. Não importa quando, não me sinto preparada para o olhar nos olhos depois do que fez. Antes que me possa deixar levar eu caminho para o meu quarto e quando vejo as horas quase me dá uma coisa má. Eu vou chegar atrasada se não me despachar o mais rápido possível. Não posso chegar atrasada ao trabalho e mesmo Zayn sendo o gerente não tenho direito de chegar fora de horas, não é desculpa.

[…]

Saio do bar a passar da uma da manhã. Não me despedi de ninguém, estavam todos tão importados com o trabalho que nem uma alma viva deu pela minha partida. Melhor assim, pensei. Entrei no meu velho Toyota Corolla cinzento. Ultimamente tenho pensado imenso sobre se o devo vender ou trocar. É um carro bom, de qualidade. Foi o meu primeiro e único carro… E foi Liam que o comprou para mim. Lembro-me tão bem do dia em que o recebi.

“Nada de espreitar!” – ele disse, fazendo-me sorrir.

 

“Não estou, prometo.”

 

As mãos de Liam tapam a minha visão por completo, mesmo que quisesse muito ver (porque quero) não iria conseguir. Ansiedade apodera-se de mim e faz com que tenha aquela sensação indescritível no meu estomago. Caminhamos para fora do elevador e segundos depois sinto uma leve brisa bater no meu rosto, dando-me a informação que nos encontramos na rua.

 

“Pronta?” – a voz do meu irmão ecoa.

 

Burn2Where stories live. Discover now