23.

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Na noite passada tivemos que sair do hospital sem mais informações do que as que já possuíamos. Estávamos cansados, completamente devastados com toda a situação, com o acidente de Collin e o seu estado de saúde incerto. A última coisa que nos disseram foi que estava sedado devido às dores que poderia ter assim que acordasse. Collin sofreu um traumatismo craniano ligeiro, logo isso não era o pior, mas sim o facto de poder ficar paraplégico.


Paraplégico.


A palavra ressoa na minha mente vezes sem conta até dizer a mim mesma para parar de ser paranóica. Disse a Evelyn para ser forte e para pensar positivamente e tenho que fazer o mesmo, tenho que ter fé e acreditar que o meu amigo vai recuperar. Não é fácil quando os médicos nos dão tão pouca informação, e nos deixam horas e horas à espera naquelas cadeiras clinicamente brancas desconfortáveis como tudo. Evelyn está num estado mental que nunca julguei ser possível nela, mas a verdade é que está de rastos e por isso disse-lhe que poderia vir passar a noite comigo no apartamento. Ofereci-lhe a cama e informei que dormiria no sofá, mas protestou dizendo que ou ela iria para o sofá ou então dormiríamos na mesma cama. Eu vi no seu olhar que tinha medo, medo de estar só e por isso optei por dormir junto a ela. Evelyn chorou até adormecer e apenas a abracei e confortei-a em cada minuto até cair no sono. Não é fácil vermos as pessoas que amamos neste estado, mas é para isso que a amizade existe, pelo menos a verdadeira amizade. Porque quando as pessoas estão mal deve-se insistir, por mais chato e difícil que seja, deve-se sempre insistir e saber o que passa e estar lá não importa o quê. E eu sou esse tipo de pessoa que fica e ajuda, porque já faz parte de mim é algo que não posso negar ao meu próprio ser.


*


De manhã acordo com uma cama vazia e rapidamente me levanto. O cheiro a café invade as minhas narinas e a minha barriga ronca instintivamente. Caminho até à cozinha para encontrar Evelyn a fazer café e crepes, o cheiro delicioso paira por toda a atmosfera fazendo criar água na boca. Os olhos concentrados de Evelyn demovem-se para mim e um pequeno sorriso curva os seus lábios. Devolvo-lhe o sorriso com todo o gosto e vou abraçá-la. Um abraço que dura ainda bastante tempo até dizer que os crepes estão a queimar e apressa-se a virá-los. Somente solto uma gargalhada. Esta é só a mínima amostra da Eve que conheço, mas também sei que está a fazer isto para demonstrar que está minimamente bem e eu deixo-a fazê-lo. Às vezes fingir que estamos bem realmente leva a que fiquemos felizes novamente, não é um processo fácil mas requer uma grande força de vontade. Sei bem do que falo.


"Achas que me vão deixar vê-lo hoje?" – a voz de Evelyn soa fraca e com dúvida.


"Penso que sim." – digo enquanto ponho a mesa. – "Tenho a certeza."


Evelyn murmura mais para si mesma do que para comigo e por isso opto por não dizer mais nada. O pequeno-almoço estava fantástico e apesar de nenhuma de nós ter apetite psicológico, o apetite físico tem que ser alimentado. As pequenas conversas que tivemos foram todas em torno de Collin e o seu estado. Lavo a loiça enquanto Evelyn se vai vestir para irmos até ao hospital. Hoje é sábado o que significa que não tenho aulas, mas que tenho o turno da noite para fazer. Tenho o pressentimento que vai ser um longo dia naquele hospital, mas irei acompanhar a minha amiga sempre. Os meus pensamentos são interrompidos quando Evelyn fala do quarto:


"Sky o teu telemóvel está a tocar. É o Harry."


Burn2Where stories live. Discover now