33.

110 9 1
                                    



O hospital encontra-se num alvoroço total assim que entro e me embrenho na multidão de pessoas adoentadas e dos seus acompanhantes. Automaticamente o cheiro clínico queima as minhas vias respiratórias, o ambiente é excessivamente pesado para os meus pulmões e parece que tenho a cabeça à roda. Sinto que posso perder os sentidos a qualquer momento. Rapidamente me dirijo a um dos balcões e pergunto pela minha mãe, dizendo o seu nome completo. A mulher informa-me que deu entrada há pouco tempo, porém ainda não pode receber visitas. Essa última parte da conversa mal ouvi pois já estava a correr pelo corredor, mal soube o número do quarto onde se encontrava a minha primeira reação foi dirigir-me para lá o mais depressa possível.


"A senhora não está autorizada a entrar." – ouço uma voz bastante grave à minha retaguarda.


Volto-me lentamente e vejo um médico jovem a encarar-me de volta. Alguns papéis descansam por entre os seus dedos. Franzo a testa e mordo a língua para não dizer um disparate qualquer que me venha à cabeça, mas também admito que tenho de me conter imenso para que isso não se suceda.


"Eu sou familiar." – digo sem fôlego. – "Sou a filha para ser mais concreta."


Os seus olhos escuros fitam-me incessantemente, começo a ficar desconfortável e sinto a necessidade de mexer os dedos das mãos e entrelaça-los com os nervos. Somente paro o movimento quando o seu olhar se foca no mesmo.


"Acompanhe-me, por favor."


Não protesto contra o seu pedido e opto por caminhar a seu lado pelo corredor. Tenho imensas questões para colocar, mas parece inoportuno. Contudo, engulo esse sentimento e sigo em frente com a minha decisão.


"O que é que ela tem?" – a minha voz enche-se de desespero.


"Pensei que..."


Não o deixo terminar o raciocínio e falo na sua vez.


"Não, eu sei que a minha mãe tem cancro..." – abano ligeiramente a cabeça para clarear as ideias. – "O que eu quero saber é o que se passou para estar numa cama de hospital sem poder receber visitas."


Nunca pensei vir a passar por uma situação destas, jamais imaginaria que um dia a iria reencontrar, principalmente nestas condições impostas pela vida. Sei que não há muita coisa que possa fazer por ela agora, nem ela por mim, apenas nos podemos contentar com o facto de ainda podermos estar em contacto. O médico clareia a garganta e só agora me determino a ver o seu nome na placa. William.


"A sua mãe encontra-se num estado extremamente frágil. Não é fácil dizer isto, mas a situação tornou-se mais complicada."


É por isto que odeio hospitais, não posso dizer que odeio os médicos porque isso não é verdade, mas claramente nutro um ódio profundo quando tentam amansar a conversa e usar palavras reconfortantes, principalmente quando uma pessoa já sabe que a outra não tem muito mais tempo de vida, que se encontra doente com um cancro em fase terminal.

Burn2Where stories live. Discover now