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O silêncio destroça a casa assim que acordo, não há um único ruído, causando-me arrepios. São quase dez da manhã, o que significa que Zayn já saiu para ir trabalhar e significa também que só dormi umas cinco míseras horas. O meu aspeto não está nada famoso quando observo as enormes olheiras ao espelho. As minhas mãos cravam-se na cómoda de madeira e respiro bem fundo para me acalmar e pensar mais claramente. Estou um caco, não há maquilhagem suficiente neste mundo para cobrir esta desgraça. O cansaço é tão evidente nas olheiras escuras e profundas que só me apetece dormir por uns bons meses e depois acordar e ter uma vida perfeita. Mas isso nunca seria possível e assim sendo tenho mais é que me levantar, acordar de uma vez por todas e deixar de me queixar.

Tratei de mim, tomei um duche rápido e de água quase fria, o que é extremamente raro, não há nada melhor de que um banho de água bastante quente para mim. Acabei por vestir algo mais confortável e apresentável, porém só coloquei corretor de olheiras e devo dizer que o produto não resulta com estes estragos tão colossais como os meus. Seria fantástico se quando cometêssemos um erro tivéssemos um corretor da vida para o apagarmos. Mas nem mesmo o corretor de olheiras as apaga, ele simplesmente as encobre. E não há nada de mais cobarde do que encobrir um erro e não o admitir.

Estou tão cansada de tudo e de toda a gente, só gostava de me poder afastar daqui, da faculdade, do trabalho, das pessoas e ir embora durante uns tempos. Sei lá, voltar a ir uma semana para Londres e estar lá somente com Liam, mas as coisas já não são as mesmas para ninguém. Quero dizer, eu sei que se lhe propusesse a ideia que a iria aceitar sem pestanejar, contudo não posso deixar as realidades para trás. Tenho a universidade, o meu emprego (que preciso imenso), os meus amigos. Não posso voltar a fugir como uma fraca e preciso de ir à luta.

A campainha toca e dou um salto, fiquei demasiado habituada ao silêncio. Só pode ser ele. Só quando a campainha soa pela segunda vez é que sou capaz de me mexer do lugar e abrir cuidadosamente a porta do quarto. Caminho rapidamente pelo corredor até chegar ao intercomunicador e ver que a minha previsão não podia ter sido mais certa. Simplesmente carrego no botão para abrir a porta da portaria. Só tenho uns minutos para me recompor e ele estará aqui mesmo à minha frente. Dou um jeito ao cabelo e reparo que as minhas mãos estão a tremer.


"Acalma-te Sky." – murmuro para mim mesma umas dez vezes.


Dois batimentos soam na porta e encontro-me aqui, de frente para ela completamente estática como se estivesse à espera que abrisse sozinha, ou que outra pessoa a abrisse para mim porque parece que toda a adrenalina e coragem se esvaíram do meu corpo.


"Tu consegues." – falo novamente para mim mesma.


Quero acabar com isto o mais rapidamente possível e se estiver com este drama todo só irá demorar mais tempo, coisa que não quero prolongar de certeza. Então somente abro a porta de uma vez por todas e os seus olhos voltam-se rapidamente para a minha figura. Harry está vestido quase todo de preto, exceto a camisola que é branca como se fosse a luz no fim do túnel. Não sou capaz de raciocinar uma única palavra.


"Bom dia." – fala indiferente.


E algo dentro de mim morre, aquele seu tom de voz austero e arrogante voltou novamente. Mordo a língua, contendo esta vontade irracional de chorar que me atingiu como um comboio a duzentos quilómetros por hora.


"Bom dia." – a minha voz sai excessivamente rouca para o meu gosto. – "Estás à vontade para entrar."

Burn2Where stories live. Discover now