32.

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Já no dia seguinte acordo sem ter vontade de o fazer, por mim podia passar o dia inteiro aqui, na cama e com a companhia de Harry. Porém, ele não se encontra em qualquer parte. Forço as minhas pernas a caminharem para longe dos cobertores convidativos, visto uma das suas camisolas por cima do meu corpo completamente nu e um arrepio de frio percorre a superfície da pele. Rapidamente os meus olhos avistam um dos seus casacos colocado na poltrona e visto-o sem pensar no assunto. Está uma manhã bastante glacial para o meu gosto. O apartamento encontra-se vazio e não há um único som a preenche-lo no mínimo dos mínimos. Volto novamente ao quarto e vejo que não tenho qualquer mensagem, decido então ligar-lhe, mas apesar de tocar várias vezes vai parar ao voicemail. Em vez de ficar parada à espera e a encher-me de preocupação caminho até à cozinha e começo a fazer café, pelo menos isso vai distraindo-me.


Repentinamente a porta bate e dou um salto. Somente vejo Harry entrar na cozinha com um saco na mão e um sorriso no rosto assim que os seus olhos caem sobre mim. Adoro a forma como me olha, são tão diferentes agora as coisas entre nós, de certa forma estão mais fáceis, mas também sérias. Pousa o saco branco na mesa e quando chega perto de mim as suas mãos rodeiam a minha cintura na sua totalidade e os seus lábios juntam-se aos meus numa sintonia lenta e serena, não à pressa neste mesmo instante.


"Onde estiveste? Estava preocupada." – admito assim que os nossos lábios se separam.


O seu rosto afasta-se do meu e olha-me nos olhos, sorrindo e acariciando a minha face com a sua mão fria. Suspiro com o toque gélido e inesperado. Acaba por afastar-se na totalidade de mim e sinto a necessidade de o ter perto uma vez mais, é uma carência que em parte até parece irracional.


"Fui comprar pão." – diz enquanto o tira do saco e o coloca no cesto.


Pode ser mera paranóia minha, mas o meu instinto leva a querer que essa não é toda a verdade. Quando Harry não me consegue olhar nos olhos e dizer as coisas é porque está a mentir, e neste preciso momento é o que está a acontecer.


"Só isso?" – questiono.


"Sim." – encolhe os ombros ainda sem me olhar. – "Como previ que ia demorar pouco tempo achei melhor não te acordar."


Opto por não responder e tento conter a ansiedade interior que possuo de lhe arrancar a verdade nem que seja à força. Não gosto que me mintam por nada deste mundo, nem sequer para fazer uma surpresa. As mentiras não passam de ilusões e eu prometi a mim mesma que não me ia deixar iludir por nada nem por ninguém. Contudo, também me recordo vivamente que Harry prometeu igualmente em não mentir para a minha pessoa, fosse qual fosse o problema ou situação.


Caminho de volta para o quarto e encontro a roupa do dia anterior ao fundo da cama, completamente amarrotada. Não me importo com o facto e começo a vesti-la à pressa. Respiro fundo e tiro uns momentos para pensar enquanto arranjo o cabelo na casa de banho. Espero mesmo que ele não me esteja a ocultar alguma coisa ou então não sei do que serei capaz de fazer. Acabo por desistir da ideia de colocar o meu cabelo minimamente apresentável e volto para a cozinha. O café está servido assim como algumas torradas. Não estou com muito apetite e fico-me pela cafeína que é o meu bem essencial de sobrevivência.

Burn2Where stories live. Discover now