27.

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Calor é tudo o que sinto assim que forço os meus olhos a abrirem-se e pestanejo várias vezes até clarear a visão. O quarto estaria praticamente às escuras se não fosse a luz da lua a iluminá-lo através dos vidros da janela. Olho para a minha esquerda e posso ver um Harry dormente, os seus cabelos numa total confusão espalhada pela almofada. Os cantos da sua boca ligeiramente levantados como se estivesse a ter um sonho, os seus grandes cílios a adornarem as pálpebras descontraídas. O seu corpo encontra-se excessivamente ardente, daí ter acordado completamente a suar. Com todo o cuidado abandono a cama e calço os chinelos pronta para uma aventura até à cozinha. Digo aventura porque certamente não irei dar com o raio da cozinha, só de pensar até perco rapidamente a vontade. Mas uma vez que já me encontro levantada opto por sair do quarto e sem fazer qualquer barulho encosto a porta e desço para o piso inferior. Tento lembrar-me das direções e momentos mais tarde consigo localizar-me e servir-me um copo de água fresca, mesmo o que estava a necessitar. Os meus olhos observam o jardim das traseiras pela janela e sem pensar no assunto destranco a porta e com toda a precaução saio para o exterior. O frio é imenso e um vento sopra gélido sopra o meu rosto. Ainda bem que vesti o robe ou então ainda iria ficar doente, coisa que não quero certamente. Há duas semanas apanhei uma valente constipação, também não é para menos, passo a vida a entrar e a sair de estabelecimentos.


Sento-me num dos bancos de jardim, aconchegando-me no robe peludo e quente. Fico imensamente agradecida a Anne por me ter emprestado roupa de noite para vestir ou então teria de dormir de roupa interior, obviamente que essa ideia agradou imenso a Harry, mas não a mim evidentemente. Porém, Harry fez questão de gozar comigo por estar vestida com um dos pijamas da sua mãe até cair no sono, dizendo o quão atraente ficava enquanto se ria. Sorrio com o pensamento.


As minhas reflexões viajam agora para a conversa que tive com Anne sobre Harry e sinto que tenho um peso enorme a carregar, uma responsabilidade que antes não possuía. Ele é a pessoa que é hoje graças a ti. Foram estas as suas palavras e elas não me saem da cabeça, possuem um efeito em mim nunca antes visto. Não quero acreditar nisso, nós somos quem somos porque o queremos ser, certo? E não porque pura e simplesmente alguém chega e nos muda. Bem, pelo menos era assim que eu pensava antes de Anne me ter feito ver este seu ponto de vista. Suspiro um pouco frustrada e olho para a lua. Começo a pensar na minha mãe e em Liam, na situação no geral e quanto mais raciocino sobre isto menor parecem ser as resoluções existentes. Tenho que tomar uma atitude qualquer e já passou uma semana, logo tenho que lhe ligar e marcarmos um encontro, também terei de pressionar um pouco o meu irmão para que me dê uma resposta. Não é fácil, nada disto é, mas quanto mais rápido agirmos melhor.


Tomando consciência do frio gélido do exterior faço o caminho de volta para a cozinha e tranco a porta após entrar. Encho novamente o copo com água, subo as escadas caminhando até ao quarto e encostando a porta. Antes de me deitar bebo um pequeno gole e acabo por adormecer pouco depois.


*


"Sky" – ouço uma voz chamar-me.


Faço uma careta e alguém ri, fazendo-me virar para o lado aposto.


"Vá lá, tens de acordar." – a voz fica mais nítida à medida que começo a acordar.


Um beijo é depositado no meu rosto e sei imediatamente que é Harry. Sorrio castamente e abro os olhos de uma vez por todas, levanto-me ligeiramente e sei automaticamente que estou com o pior aspeto possível e imaginável. Mas Harry parece não se importar com a minha aparência e somente sorri.

Burn2Where stories live. Discover now