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Somente consigo sentir a água quente jorrar pelo meu corpo como uma cascata furiosa e apenas quero parar de pensar em Harry e na discussão insuportável que tivemos. Não sei dizer ao certo o que estou a sentir, penso sim que é uma mescla interminável de sentimentos e não há qualquer tipo de organização na minha mente. A verdade é que terminei o nosso relacionamento, talvez tenha sido uma decisão precipitada da minha parte, mas não me sinto ressentida por isso. Fiz o que achei mais acertado no momento e não vai ser por isso que irei ficar em baixo. Agora sei melhor que isso, irei clarear a minha mente e tirar um ou dois dias para pensar sobre este assunto. Não nego a angústia que sinto apenas de pensar nas suas palavras imprestáveis, mas esse sempre foi o nosso maior problema. Somos ambas pessoas temperamentais e por vezes basta meia dúzia de palavras na hora errada para acabar com tudo.


Assim que sou capaz de sair do duche vejo uma série de chamadas não atendidas de Marcel bem como algumas mensagens. Rapidamente deslizo o dedo pelo ecrã e ligo-lhe de volta.


"Finalmente Sky! Estava a ficar preocupado, pensei que tivesse acontecido algo de grave. Estás bem?" – sou bombardeada com a preocupação de Marcel.


Suspiro ao tentar encontrar as palavras certas para dizer, porém termino a busca quando percebo que as mesmas não existem de qualquer das maneiras.


"Estou bem dentro dos possíveis." – falo enquanto caminho para o quarto.


"Ele fez-te alguma coisa." – a sua forte afirmação fez com que suspendesse a minha marcha a meio do corredor. – "Nem precisas de o confirmar, sei bem do que ele é capaz."


Suspiro novamente e relembro-me que estou a tentar levar as coisas com calma, e por isso mesmo entro no quarto. Coloco a chamada em alta voz e começo a vestir-me.


"Sempre queres que vá a tua casa?" – pergunta segundos depois.


"Uh, se pudesses vir seria ótimo." – digo sem qualquer problema.


"Não precisas dizer mais nada, estou aí dentro de momentos." – as suas palavras ecoam pela pequena divisão e sorrio.


"Obrigada e até já." – digo, terminando a chamada.


Olho em redor e constato que o apartamento se encontra uma completa desorganização, ultimamente quase nem tenho estado em casa. A minha vida é feita de idas e vindas para a universidade, hospital e casa. Não necessariamente por essa ordem, mas é basicamente a rotina que se instalou e que vejo que veio para ficar. Opto por fazer uma pequena limpeza à sala/cozinha. Honestamente, nem estaria preocupada com limpezas e coisas do género se não fosse pela visita de Marcel. Assim que tudo se encontra minimamente apresentável a campainha soa mesmo a tempo. Respiro de alívio e vou até ao intercomunicador carregar no botão para que a porta da portaria abra. Aproveito e destranco a porta da entrada, abrindo-a para receber Marcel. Assim que ele sai do elevador a primeira coisa que faz é sorrir-me e a segunda é abraçar-me. Deixo os meus braços caírem confortavelmente nos seus ombros e sinto os seus apertarem ligeiramente a minha cintura.


"O que é que ele fez desta vez?" – a sua voz soa abafada de me estar a apertar.


Burn2Where stories live. Discover now