Capítulo 44

5.1K 405 102
                                    

Carla

Muitas coisas vinham acontecendo em minha vida nesses últimos dias. Ter consciência de meus sentimentos, do quanto minha vida estava do lado do avesso há tanto tempo e eu achava que estava tudo bem, o "desprezo" de Núbia... tudo, absolutamente tudo, me fazia querer mudar, querer reescrever as coisas e decidi que isso que faria daqui para frente.

Havia passado uma semana desde que as coisas em meu apartamento desandaram comigo e Núbia. Neste meio tempo me foquei em me recuperar e pensar em tudo que precisaria fazer.

Pedro me ajudou muito, pois, mesmo com toda minha recusa, me levou para sua casa dizendo que ali eu não conseguiria descansar e me recuperar como devia. Recusei não por não querer ficar perto do meu irmão caçula, mas sim por saber que acabaria invadindo a privacidade dele e Flávio, porém, o próprio insistiu para que fosse e não tive como negar.

Lá, mais leve de tudo, consegui me focar nas minhas obrigações no trabalho e também comecei a planejar tudo que queria fazer e, quando me senti bem e curada da entorse, voltei para meu apartamento com a consciência leve e decidida nos passos que tomaria. Eu sabia que seria complicado, mas eu precisava mudar o rumo ou acabaria me perdendo de vez, ou, melhor dizendo, mais do que já estava.

O dia amanhecia diante de meus olhos que focavam a janela de meu quarto. Era como se há anos não enxergava aquela cor alaranjada do céu limpo ao nascer do Sol em sua essência. Era tão surreal que cheguei a me emocionar.

Levantei-me e, contrariando toda a minha metodológica rotina, não me apressei para me arrumar. O fiz em uma calma que chegou a relaxar todos os músculos de meu corpo.

Não desci para a academia, o que pegou Marília de surpresa e a fez se apressar para preparar meu café. Tranquilizei-a e disse que poderia fazer com calma, pois não tinha pressa. Eu queria saborear toda aquela nova rotina, toda aquela nova história que estava escrevendo para mim.

Tomei meu café em uma conversa animada com minha empregada. Ri de suas histórias, conheci um pouco mais sobre sua rotina, sobre sua vida. Ela trabalhava para mim há tantos anos, era incrível como eu não sabia nada sobre as pessoas que me cercavam e isso me entristeceu.

Desci, peguei meu carro e senti o quão confortável ele era, tanto que me fez suspirar aliviada. Liguei o som em uma estação qualquer e logo a música preencheu o espaço, liberando um sorriso em minha face.

Segui pelas ruas estressantes do Rio, pensando em tudo que acontecia em minha vida e como, ao mesmo tempo que tinha medo, estava esperançosa. Logo uma música que conhecia bem começou a tocar na rádio, me fazendo aumentar o som e começar a cantarolar junto, algo inimaginável na Carla carrancuda que saia de casa já estressada todos os dias.

Be Like That do 3 Doors Down, lembro que, quando vivi nos EUA, ouvia muito essa música, pois amava essa banda e, meio que essa canção representasse algo em minha vida, algo que nem eu mesma sabia o que era, mas agora eu entendo bem.

He spends his nights in California,

Watching the stars on the big screen

Then he lies awake and he wonders,

Why can't that be me?

Cause in his life he's filled

with all these good intentions.

He's left a lot of things

he'd rather not mention right now.

Just before he says goodnight,

He looks up with a little smile at me and he says

If I could be like that (like that)

I'd would give anything

Refém do Desejo (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora