Capítulo 35

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Carla

Cheguei ao meu apartamento já se aproximava das 10:00 da manhã, pela primeira vez em anos de empresa, desde que comecei, chegaria atrasada no escritório e isso, além de estranho, me faz pensar, ou melhor dizendo, questionar toda minha metódica vida.

"Quando foi que me tornei essa pessoa fria, cheia de regras e esquemas para tudo em minha vida?"

Não me recordo de nada fora do lugar em minha vida antes de Atena, ou seja, Núbia entrar em minha vida.

Quando tirei alguns dias para mim? Qual foi a última viagem que fiz só para poder desopilar? Quando e onde foram minhas férias do último ano? Tirando as poucas vezes que saí com meu irmão ou com Regina para beber, jantares com Gustavo, ou os encontros desastrosos na casa de meus pais, quando foi a última vez que me permitir sair da minha bolha do trabalho e ter um instante de ócio só meu? Onde eu não pensava em nada, só curtia a sensação da preguiça de não querer fazer nada?

São coisas tão banais para a maioria das pessoas, mas para mim estava tão longe da realidade, das minhas prioridades.

– Quando me tornei uma pessoa tão seca e tão sem leveza para aproveitar coisas simples? – Sussurrei, enquanto deixava minhas coisas sobre o sofá da sala.

– Dona Carla?! – Marília me chama, me puxando de meus pensamentos e fazendo com que a olhe meio desconcertada.

– Bom dia, Marília! Não precisa colocar a mesa para o café, estou atrasada, vou comer algo no escritório mesmo. – Falo, já me dirigindo para meu quarto.

Sinto os olhos dela me seguindo, mas, Marília não me questionaria nada, ela sabe bem o que deve ou não dizer para mim, perguntar ou "insinuar".

Essa sou eu, Carla Arantes Vasconcelos. Esse muro que construí a minha volta é o que me faz permanecer de pé. Ser perfeita em tudo que faço, ser destaque, não deixar que sentimentos volúveis tomem conta dos meus planos sempre foi um dos meus objetivos. Creio até que seja por isso que aceitei ter um relacionamento e, até mesmo, cheguei a aceitar noivar com Gustavo. Porém...

Lá vem a vida com seus "poréns". Nunca fui de crer que ela fosse capaz disso, de colocar conjunções em nossas cabeças, em nossas vidas. "Só haverá dúvidas se a pessoa for uma desqualificada que não controlar suas ações, seus passos" esse era meu pensamento.

Que tola! A vida sempre achará um jeito. Acho que foi isso que foi dito naquele filme do Steven Spielberg ao qual não me recordo o nome.

"A vida encontra um jeito"... e ela encontrou. Quem diria que eu, toda metódica, pararia numa festa na qual não queria ir, acompanhando meu noivo em mais uma noite que seria tediosa e me encantaria com uma garota de programa? Nem nas minhas mais loucas fantasias eu pensaria em algo assim, mas aconteceu.

Estou vivendo tanta coisa diferente com Núbia. Tantas primeiras vezes. Nunca que gastaria meu tempo – precioso tempo – para buscar uma prostituta, nunca marcaria com uma mulher que sempre se mostrou tão longe da minha realidade. Não colocaria em risco minha reputação, carreira, vida, para ter uma noite com uma mulher assim, que faz o que faz por dinheiro. Mas aí está o porém... Eu só não o fiz como isso se tornou uma necessidade para mim.

Adoro sentir seu cheiro, seu gosto. Perco-me com seus toques tão precisos, suaves e, ao mesmo tempo, dominantes. Me enlouquece seu sorriso de lado, sua mordida de lábio e a forma como me olha, de cima, com toda sua petulância. Sei que ela está comigo por interesse, ela não esconde, pois é da sua natureza animal deixar claro que sou sua presa e ela não me largará até que se sinta saciada e, eu, em toda minha tolice e pequenez, quero ser seu alimento para sempre.

Refém do Desejo (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora