Capítulo 37

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Carla

O gosto do beijo era diferente... estranho ao meu paladar. Minha cabeça rodava, meu corpo estava entorpecido, mas não da forma como eu gostaria que estivesse...

Num momento, em meio ao meu ato totalmente fora do normal, senti meu corpo ser fortemente repelido e uma ardência fora do comum acometer minha bochecha.

– O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?! – A voz de Liliane escoou pelo espaço, me trazendo de volta a realidade.

Meu corpo estava caído no chão da academia e ela, de pé, me olhava com ar de revolta e reprove, verdadeiramente transtornada.

Liliane levou a mão aos lábios, limpando qualquer sinal do meu ato e balançou a cabeça negativamente, voltando a me encarar. O transtorno em seus olhos era nítido.

– Você ficou maluca? – Perguntou e eu estremeci. "O que deu em mim?" perguntei-me, aturdida, sem conseguir pronunciar nenhuma frase ou sequer pensar em uma resposta palpável para aquilo. – Com que direito você me beija dessa forma?! Que tipo de... – Tentou dizer, mas era claro que não podia.

– Eu... – Balbuciei, sem conseguir me justificar.

– Quer saber? – Ela falou, passando as mãos pelos cabelos soltos. – Foda-se você e seu acidente... deve estar bem o bastante pra se virar, já que tem a cara de pau de me atacar assim. – Finalizou, pegando suas coisas que havia deixado jogadas no chão e saiu em toda pressa.

– Espera... – Sussurrei tentando pará-la. Mas o que eu diria para ela? Que fiz aquilo por tomar consciência de que estava apaixonada por uma mulher que, provavelmente, está pouco se lixando para mim? Só pioraria a situação vexatória em que havia me enfiado. Então, a deixei ir, torcendo para poder encontrá-la depois e me explicar e evitar uma má fama no meu prédio.

Ali, sozinha, com o rosto ardendo devido ao tapa que levei e o pé latejando por causa do tombo, deixei meu corpo cair deitado de costas, no chão gelado e, desanimada, levei as mãos ao rosto, liberando um suspiro cansado.

– Mas que merda! – Foi o único que consegui falar diante de toda essa loucura toda.

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Núbia

O dia de trabalho já estava por acabar. Muitos já tinha ido embora para aproveitar o início do final de semana. Seja em uma viajem demorada e cansativa para a Região dos Lagos. Sempre achei isso estranho: a pessoa mora no Rio, um lugar com praias e, no final de semana, enfrenta um trânsito desumano para ir a um... lugar de praias?!Enfim...

Eu estava terminando minhas coisas em minha mesa. Já havia recusado o convide de happy hour de boa parte dos trabalhadores do escritório, incluindo Flávio, que queria porque queria me apresentar seu namorido, mas recusei todas.

Quando o relógio estava batendo as 17:30, vi Júlia saindo enquanto mexia em sua bolsa.

– Tchau, Núbia. – Falou de forma cordial. – Não precisa se apressar em nada, na segunda você termina suas coisas... bom descanso pra ti. – Acenou se dirigindo ao elevador e eu só sorri e acenei de volta.

Enfim, tirando alguns poucos gatos pingados que nem sabiam que eu estava por ali, só estava eu e a única pessoa que me importava naquele escritório todo.

Juntei toda a coragem e atrevimento que tinha dentro de mim e, pegando algumas pastas que protelei para entregar, fui caminhando cadenciadamente até o seu local de trabalho.

Meu coração acelerava mais a cada passo que eu dava e, quando alcancei aquela porta, sentia como se ele fosse quebrar minha caixa torácica e sair por vontade própria, mas não retrocedi em nada.

Refém do Desejo (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora