Capítulo 1

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Carla

Despertei com aquele barulho incômodo do alarme ressoando em meus ouvidos. Mexi-me levemente e já senti o peso do braço de Gustavo sobre minha cintura.

"Havia esquecido que ele dormiu aqui essa noite" pensei suspirando e me desvencilhando de seu agarre para poder me levantar. Creio que não fui muito delicada, pois, após meu movimento, ele logo despertou.

– Que horas são? – Sussurrou com a voz rouca pelo sono e esfregando os olhos.

– 6:30. – Respondi já de pé e colocando meu robe.

– Nossa! – Exclamou surpreso. – Por que acordar sempre tão cedo? – Questionou, se erguendo e apoiando as costas na cabeceira da cama. – Podíamos dormir mais um pouco, amor.

Se quiser pode ficar dormindo. – Respondo seca já me direcionando para o banheiro. – Pra mim já foi o suficiente. – Encerrei o assunto entrando e fechando a porta às minhas costas.

Eu tinha essa "mania" desde que era bem pequena e comecei a estudar de manhã. Não importava o dia, nem o local, eu sempre acordei antes das 07:00. Já era algo biológico em mim. Sempre que me deixava vencer pela preguiça, era como se meu dia fosse perdido, pois me sentia cansada e irritada o dia inteiro.

Fiz meu asseio e fui direto tomar meu café. Gustavo resolveu se mexer e levantou também, apesar de reclamar que ainda era cedo para tal. Tomei um café leve e me dirigi à academia de meu prédio para realizar meu exercício diário. Eu nunca exagerava, era uma corrida leve na esteira, mas era algo que, além de me ajudar a manter a forma, também me auxiliava a pensar, manter a calma.

Eu gosto bastante do condomínio onde vivo. Além de ter um apartamento amplo e aconchegante, ele me oferecia vários serviços que me agradavam. Quando saí de casa, para fazer meu mestrado nos EUA, eu decidi que, mesmo que voltasse ao Brasil, não queria mais dividir o mesmo teto que meus pais, então, assim que retornei, dei um jeito de me encaixar na empresa fundada pelo meu pai, subi, me tornei rapidamente Diretora Financeira e comprei esse apartamento.

Enfim... gosto da minha independência, tanto financeira quanto a sentimental. Gosto de sentir que tenho as rédeas de minha vida e, mesmo mantendo um relacionamento de 7 anos com Gustavo, não permito que ninguém mande em mim ou decida o que eu devo fazer de minha vida.

Por essa razão, devido a detestar que alguém se meta em meus assuntos e em meus pensamentos, é que estou tão desnorteada com o que minha cabeça vem me aprontando desde sexta-feira a noite.

Coloco a esteira em uma velocidade confortável e começo a correr. Nos fones de ouvido Lucille de BB King toca trazendo um ambiente diferente. Eu sei o que pensam: 'Quem em sã consciência faz exercícios ouvindo esse tipo de música?!'. Eu sei que parece estranho – e de certa forma é – mas me acalma e me traz a paz que gosto para correr.

Passadas constantes, a música ressoando em meus ouvidos, o suor já começando a se formar em minha testa, mas minha mente não se afasta daquela imagem.

"Linda, cabelos dourados, olhos emanando uma sedução natural, lábios provocantes... Quem era ela?"

Paro de súbito e quase sou lançada para fora da esteira.

– Merda!!!!! – Exclamo atordoada passando as mãos pelos cabelos. – Não posso deixar essa garota invadir minha mente desse jeito. – Falo exacerbada.

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.

Núbia

No rádio toca uma canção enquanto minhas cadeiras se movem no ritmo que ela impõe e eu canto.

– Girls like you... love fun, yeah me too... what I want when... I come through... I need a girl like you, yeah yeah... yeah yeah yeah... yeah yeah yeah... I need a girl like you, yeah yeah... yeah yeah yeah... yeah yeah yeah... I need a girl like you, yeah yeah... I spent last night... on the last flight to you... took a whole day up... trying to get way up, ooh ooh... we spent the daylight... trying to make things right between us... and now it's all good baby... Roll that Backwood baby... and play me close...

Danço enquanto preparo um sanduíche natural para meu café da manhã, mas sou interrompida pelo toque de meu celular "convencional", o que me faz deixar meu afazer e ir por ele, dando de cara com o nome de Patrícia, minha amiga de curso.

– Para estar me ligando tão cedo assim, só pode estar com problemas. – Comento comigo mesma sorrindo.

Bom dia, Pat...

Bom dia, Núb... Como está? – Patrícia responde ao outro lado e já noto o "desespero" em suas palavras.

Estou bem e você, pelo jeito, está com problemas no trabalho para hoje, né?! – Respondo rindo da situação.

Eu não consegui fazer aquele relatóriooooo! – Patrícia fala exageradamente, me fazendo gargalhar.

Ela sempre é assim... apesar de ser inteligente para diversas coisas, Patrícia é muito desligada, o que lhe atrapalha quando precisa realizar algo em que demanda muita atenção. "Ainda bem que ela tem a mim".

Tá bom, Pat... só vou tomar meu café e já saio. – Falo voltando para a cozinha, enquanto toca Perfect no rádio. – Nos encontramos na biblioteca e você pode dar uma olhada no meu, tá bom?

Aí, amigaaaaa! Não sei o que seria de mim sem você! – Patrícia diz toda manhosa, me fazendo rir e balançar a cabeça.

Provavelmente você ainda estaria no primeiro período da faculdade.

Nem brinca com isso. – Retruca. – Ainda bem que você está comigo, por isso te amo.

Sei...

Enfim! Deixa eu me aprontar, porque daqui até o centro é dureza. Nos vemos daqui a pouco. Beijos! Te amo.

Beijos... também te amo e até daqui a pouco. – Falo encerrando a chamada e deixando o celular de lado.

Volto para meu sanduíche, pois vou precisar sair mais cedo que o normal. Termino de prepará-lo, pego meu suco natural de acerola e me sento para fazer meu desejum.

Faz quase 4 anos que vim para essa cidade. 4 anos em que tive que me virar como pude para conseguir me manter, porém, no fim das contas, estou conseguindo. Talvez o que eu faça não seja tão digno quanto muitos encaram, mas é a única forma que encontrei para conseguir me virar depois que vi minha vida sendo virada de cabeça para baixo.

Hoje consigo manter o apartamento onde vivo, consigo pagar minha faculdade e ainda ter uma vida, de certa forma, confortável.

Claro que não queria ter que pagar pelas coisas que possuo como eu pago, com meu corpo, com minha aparência, mas essa foi a forma que achei para tentar sair do buraco onde um erro cometido pela minha mãe me enfiou.

Me chamo Núbia, tenho 23 anos, frequento o 7º período de direito de uma das melhores Universidades para essa profissão no Rio de Janeiro e tenho, digamos, algumas facetas.

Para meus professores e amigos de curso, uma estudante modelo e talentosa. Para algumas pessoas pelas ruas e corredores da faculdade de direito, uma garota linda e desejada. Mas, para poucos que podem pagar, uma excelente acompanhante de luxo, que cobra caro por seus serviços.

"Uma garota precisa sobreviver nesse mundo, essa foi a forma que eu encontrei para fazê-lo. Podem me julgar! Podem me apontar, mas, enquanto fazem isso, eu vivo uma vida de luxo ao lado dos mais poderosos homens dessa cidade decadente que ainda se acha a maravilha do Brasil. Indigno? Talvez, mas é a minha vida".

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Como o primeiro capítulo estava pronto, resolvi postar logo.

No começo, os capítulos serão curtos, alguns mais focados em uma que na outra, mas isso vai aumentando gradativamente.

Enfim... tá aí. Infelizmente só revisei rapidamente, então, se tiver algum errinho, me apontem que eu arrumarei assim que puder.

Bjs e boa leitura. :* 

Refém do Desejo (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora