Capítulo 14

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Rhysand

Fui ao quarto de Amarantha logo após deixar Ayla. Certamente a rainha iria querer me ver antes que eu saísse.

Como imaginei, ela já estava de pé, dando ordens para criados que corriam por todos os lados. Quando me viu, um sorriso cruel se estampou em seu rosto.

- Alguma coisa aconteceu? - perguntei, olhando para o vai e vem de pessoas.

- Como ainda pergunta? Amanhã fará mais um ano de meu reinado e teremos uma grande festa para comemorar.

- Sinto muito por ter que perder esse evento, mas a desejo um longo reinado. - no inferno, quase acrescentei.

- Tenho certeza que vai me compensar quando estiver de volta. - ela passou a mão pelos meus braços e eu sorri. - Me dê de presente a aliança com os illyrianos. Quero que todos sirvam a mim.

- É o que farei, minha rainha.

- Vou devolver parte dos seus poderes. - não consegui esconder o choque com aquela informação e meus olhos se semicerraram rapidamente. - Apenas para que possa atravessar até às montanhas, nada mais. Não quero que use isso como desculpa para se atrasar.

- Obrigado, Amarantha. - passei a mão por sua cintura - Não vai se arrepender por confiar em mim, garanto.

- Pelo seu bem, espero que sim.

Ela pegou minha mão e senti uma faísca de poder voltando ao meu corpo. Apenas uma névoa, compara à escuridão de antes, mas era suficiente.

- Não se atrase, o espero em três dias. Nada mais que isso. - Amarantha virou as costas para mim e saiu do quarto.

Fui caminhando até a saída mais próxima. Eu sabia que poderia simplesmente atravessar, mas queria ter a sensação de sentir o sol novamente em minha pele, de ver as montanhas. De ser livre.

Enquanto caminhava pelos corredores, pensava se não deveria fugir. Simplesmente desaparecer. Sabia que não podia abandonar Velaris, mas se eu conseguisse juntar um exército, talvez fôssemos capazes de derrota-la.

Talvez. Isso não era suficiente.

Com quantos Grão-Senhores poderia contar? Kallias, com certeza. Ele odiava Amarantha tanto quanto eu. Helion era uma incógnita. Sempre confiei nele, fomos amigos, mas ele jurou lealdade à rainha sem nem pensar duas vezes. Thesan tomara o lugar do pai há pouco tempo, provavelmente não iria querer apostar numa causa perdida. Tarquin estava na mesma situação. Beron era um grande filho da puta, mostrou isso quando deixou que Amarantha arrancasse o olho de seu filho. E Tamlin... completamente inútil.

Não, eu não poderia arriscar. Mesmo que conseguisse juntar um exército, o que parecia altamente improvável, não seríamos fortes o suficiente para matá-la. Não sem nossos poderes.

Ayla parecia ter um plano sólido para derrubar a rainha, mas nunca me contou exatamente o que era. Eu sabia que não era por desconfiar de mim, era medo de ser ouvida. Eu compreendia esse medo. Me acostumei a ele depois de mais de uma década. Aprendi a usar as palavras com cautela e nunca deixar nada transparecer.

Quando cheguei à escadaria que levava à superfície, meus pés pararam. Tive que forçar os passos seguintes para subir os degraus, era tão estranho poder ir para onde eu quisesse.

A luz do sol me cegou quando finalmente saí para a superfície e o vento me atingiu em cheio, despenteado meus cabelos.

Meus olhos demoraram vários minutos para finalmente se adaptarem às luz, e olhei ao meu redor. Pela inclinação do sol, parecia ser o meio da tarde. O céu estava claro, e os raios do sol o pintavam de laranja. As montanhas ao meu redor se erguiam até onde a vista se perdia, e percebi que não havia neve. Era verão então.

Corte de Sangue e MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora