Capítulo 15

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Rhysand

Passei algumas horas sozinho sentado no sofá gasto olhando para o fogo crepitante da lareira.

Estar naquela casa depois de tantos anos me fazia recordar minha infância, quando minha mãe me levou pela primeira vez ao acampamento. A primeira vez que conheci Cass e nos socamos sem parar, e quando Az foi acolhido por nós. 

Minha irmã também passava muito tempo ali conosco. Ela e Azriel eram melhores amigos. No início ela era a única com quem o encantador de sombras falava. Ela era gentil, doce e bondosa e todos a amavam. Principalmente eu. Minha irmãzinha, quem eu deveria proteger e cuidar sempre, mas falhei. Nunca conseguiria me livrar da culpa por sua morte. 

Nossa casa era simples, como a maior parte das construções do acampamento, mas diferente de todas, oferecia conforto. Ela realmente parecia um lar. 

O sofá cor de caramelo era o mesmo da minha infância. Com o passar dos séculos, ele havia se desgastado, mas eu tinha feito tudo o possível para que fosse consertado sem perder sua essência. Ainda podia me recordar de quando minha mãe nos sentava de frente à lareira para nos contar histórias sobre os grandes guerreiros illyrianos. 

Eu, Az e Cass costumávamos imaginar que éramos um desses guerreiros, e que juntos formariamos um time capaz de vencer qualquer guerra e derrotar qualquer inimigo. Sempre juntos.

Por ironia do destino ou maldade dos deuses, agora estávamos separados e não havia nada que pudéssemos fazer para vencer o maior inimigo que já assolou nossas terras. 

E agora a única fêmea que já amei estava presa, nas mãos desse inimigo. Meu peito apertou só de pensar no que Amarantha poderia fazer com Ayla se descobrisse o que ela significava para mim. 

Eu tinha que tirá-la daquele lugar, fazer com que fosse para longe de Prythian, longe de Hybern para que pudesse viver uma vida de paz, mesmo que isso significasse que estaria longe de mim. Pelo menos até encontrarmos uma maneira de acabar com Amarantha, se isso sequer fosse possível. 

Após algum tempo, uma hesitante batida na porta soou. Era estranho que alguém viesse me procurar, e pensei em ignorar o chamado, mas a curiosidade me venceu. 

Quando abri a porta, dei de cara com uma linda illyriana de aparência muito jovem. Como a maioria do nosso povo, tinha olhos e cabelos castanhos. Não devia ter feito ainda dezoito anos, mas consegui perceber que suas asas haviam sido arrancadas. Um tradição em acampamentos illyrianos que há anos eu tentava erradicar. Segurando uma bandeja, ela falou com uma voz fina e entrecortada:

- Vim trazer seu jantar, Grão-Senhor.

A jovem mal conseguia olhar em meus olhos. Deveria ter feito alguma coisa para receber a punição de vir até mim. Geralmente os illyrianos não deixavam que as jovens saíssem sozinhas, mesmo que fosse para servir o Grão-Senhor.

- Obrigado. - eu disse, quando peguei a bandeja de suas mãos e a coloquei na cômoda próxima a porta.

A illyriana não se moveu, continuou olhando para o chão e abriu a boca como se quisesse falar algo, mas não disse nada. 

- Qual o seu nome? - perguntei em um tom amigável, antes que a garota saísse correndo de medo.

- Meu nome é Thea, senhor. - ela arriscou me encarar por alguns segundos, mas logo voltou  a olhar para o chão.

- Cresceu nesse acampamento, Thea? - eu estava particularmente curioso para saber se Devlon ainda destruía as asas das fêmeas, apesar de minha proibição. 

- Não, senhor. Cresci no acampamento do Lorde Nylos, ao norte da cordilheira. - sua voz era quase um sussurro.

- E como veio parar aqui? 

Corte de Sangue e MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora