Capítulo 17

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Rhysand

Depois que Thea foi embora, quase não consegui dormir. Sabia que apenas uma coisa me traria paz, então a fiz. Eu mostraria para os lordes illyrianos na reunião da manhã seguinte.

Estar deitado no meu quarto, na minha cama, sozinho, me trouxe tanta tranquilidade, tanto alívio, que não impedi as lágrimas silenciosas que escorreram de meus olhos.

Eu daria tudo, absolutamente tudo para ter aquele tipo de paz outra vez. Para estar em casa, com minha família, com Ayla. E foi pensando nela, no seu sorriso, no seu cheiro e na maciez daquela pele que consegui adormecer.

Despertei logo antes do alvorecer com uma batida insistente na porta.

Era uma criada com o café da manhã. Dessa vez ela apenas deixou a comida e foi embora, parecendo assustada.

Comi mecanicamente, já me preparando mentalmente para a reunião. Precisaria de todo meu auto controle para não matar algum - ou vários - dos lordes. Por mais que alguns merecessem, eu tinha que manter uma frente unida, tinha que mostrar que estava do lado deles e ainda era seu Grão-Senhor.

Saí para o prédio principal antes mesmo de os raios de sol despontarem no horizonte. Várias fêmeas já trabalhavam, levando bandejas, baldes de água e roupas entre as tendas. Crianças órfãs se aglomeravam em um canto do acampamento, provavelmente buscando calor uma nas outras para sobreviver.

Eu mudaria aquilo. Se sobrevivesse, tentaria mudar aqueles costumes tão ridículos e desprezíveis dos illyrianos.

Entrei no salão de reuniões, alguns lordes já me aguardavam. Devlon e os demais chegaram menos de um minuto depois.

Sentado às cabeceira da mesa, usando a máscara de autoridade e desprezo que me era tão familiar, fiz uma oração silenciosa ao caldeirão para que tudo desse certo e comecei a falar.

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Tudo correu melhor do que eu esperava. Muito melhor. Percebi, com desgosto, que uma parte dos acampamentos - os mais radicais - estavam felizes em se unir a Hybern. Os demais apenas acataram minhas ordens, apesar dos resmungos e dos olhares de irritação.

Após um quase pacífico acordo de que agora eles seguiriam e obedeceriam Amarantha, uma interminável discussão sobre questões dos acampamentos e tarefas diárias se seguiu.

Honestamente, eu não estava nenhum pouco interessado naquilo e já me preparava para sair, porém me lembrei da jovem illyriana enviada ao meu quarto na noite anterior e da minha breve visita aos aposentos dos criados durante a madrugada.

- Senhores - eles se calaram e me observaram, irritados por eu interromper aquela discussão ridícula - Tive conhecimento de que as fêmeas estão sendo sobrecarregadas nas tarefas diárias nos acampamentos. Principalmente com os... serviços extras que algumas jovens são obrigadas a fazer.

Todos ficaram mortalmente quietos, e eu percebi que eles sabiam do que eu estava falando.

- Não sei a que ponto tão baixo vocês desceram para usar jovens refugiadas, famintas e desesperadas como escravas sexuais. - minha voz era baixa, carregada de um ódio que eu quase nunca me deixava demonstrar - Isso acabou. Agora.

- Senhor, - um deles começou a falar - elas são impuras e dispensáveis. Algumas chegam até mesmo a se oferecer por livre e espontânea vontade.

O imbecil riu. Riu. Como se aquilo fosse engraçado. Outros o imitaram.

Uma risada seca saiu de mim. Não sei como deveria estar meu rosto, mas pela expressão dos lordes ao meu redor, deveria ser algo como morte encarnada.

Corte de Sangue e MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora