Capítulo 28

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Rhysand

Trinta e sete anos.

Naquele dia completava trinta e sete anos da morte de Ayla. Mesmo depois de tanto tempo, não parecia real que ela se fora. 

Eu ainda me sentia culpado. Por sua morte, por tê-la levado até Amarantha e principalmente por não conseguir mais me lembrar de seu rosto. Eu tentava com afinco, mas não conseguia me lembrar com detalhes de seus olhos, seus lábios macios e bonitos. Isso me destruía. Não era justo que eu a esquecesse quando ela sacrificou tanto para nos salvar. 

Culpa e raiva eram os únicos sentimentos que eu tinha nas últimas décadas. Mais especificamente quando o aniversário da morte de Ayla se aproximava. No restante do tempo, eu era um grande vazio. Era até reconfortante não sentir nada. 

Depois que matei os dois hyberianos me torturaram quando Ayla morreu, Amarantha me deixou retornar ao posto de seu executor. Ela não confiava mais em mim como antes, mas com o tempo percebeu que eu não hesitava em matar quem quer que ela quisesse, então fui ganhando mais liberdade.

E com isso retornaram os convites para que eu me juntasse a ela no quarto. Mas não me importei. Era difícil eu realmente me importar com alguma coisa. Eu odiava, claro, mas se era algo necessário para proteger minha família, eu não hesitaria.

Helion foi preso em Sob a Montanha ao mesmo tempo que fui jogado nas masmorras. Julius aparentemente conseguiu mentir o suficiente para inocentar o Grão-Senhor, mas Amarantha queria puni-lo de alguma maneira. Então matou metade de sua corte, queimou suas milhares de bibliotecas - com os estudiosos dentro - e o prendeu aqui. 

Ele tentou falar comigo algumas vezes, mas eu não suportava olhar para ele. Tudo que eu via era Ayla sorrindo enquanto conversava com ele, sentada em frente à lareira da casa na Corte Diurna. E aquilo doía como o inferno. 

Talvez ele pensasse que eu ficaria mais inclinado ainda a matar Amarantha depois do que aconteceu, mas a verdade é que eu estava destruído. Tudo em mim parecia que tinha sido sugado. Eu me sentia completamente vazio e quebrado. Não tinha forças para fazer mais do que sobreviver um dia após o outro. 

Contei a ele sobre o que aconteceu em uma das noites de festa, quando todos estavam ocupados demais para prestar atenção em dois machos conversando em um dos corredores. Helion chegou à mesma conclusão que eu, Ayla de alguma forma tinha absorvido os poderes do amuleto, mesmo sabendo que não poderia aguentar muito tempo. 

Nós não sabíamos se o objeto tinha sido destruído quando ela explodiu, mas eu esperava quem sim. Não queria olhar para aquela coisa nunca mais em minha vida. 

Fora as breves conversas que tivemos quando ele chegou, não entramos em contato. Em parte por minha culpa, eu não queria conversar com ninguém. Minhas únicas companhias eram Nuala e Cerridwen, tão silenciosas como sempre, mas eu gostava daquilo. Gostava do silêncio, pois assim eu conseguia que minha mente desligasse e não pensasse mais em nada. Não pensasse nela, e como ela sorriu para mim antes de morrer. 

Deitei em minha cama naquela noite, exausto, mas não queria dormir. Toda vez que eu fechava os olhos, pesadelos tomavam conta. Não havia um único dia em que eu conseguia ter paz em meu sono. Amarantha podia não me torturar fisicamente com frequência, mas ela me torturava todos os dias em minha mente. 

Uma batida na porta me fez levantar. Um soldado de Amarantha esperava do outro lado e não precisei que ele falasse para saber o que era. Eu o segui até os aposentos da rainha, tentando controlar a náusea que sempre me atingia quando caminhava por aqueles corredores. 

Amarantha estava com um bom humor, então infelizmente não me mandaria embora depois que terminássemos. Era cada vez mais comum que ela me fizesse dormir em sua cama. Talvez tivesse percebido que eu odiava ficar perto dela e queria me punir.

Corte de Sangue e MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora