Capítulo 23

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Ayla

Rhys me encarou por um momento, confuso, antes que entendesse tudo. Ele se levantou e alcançou Helion com alguns passos. 

- Nem pense nisso. - Rhys esbravejou. - Não pode pedir que Ayla volte para aquele lugar. Principalmente carregando algo que pode matá-la a qualquer segundo. 

Helion parecia extremamente calmo, completamente diferente de Rhys, que exalava raiva e desespero. 

Eu sabia que ele ficaria assim, sabia que ele tentaria a todo custo me fazer desistir para que eu ficasse segura. Mas eu sabia que era a única pessoa que seria capaz de nos dar uma chance real de derrotar Amarantha. 

- Rhys, ele não me pediu para fazer nada. - falei, tocando em seu braço levemente, tentando acalmá-lo. - Eu me ofereci para ir, não há mais ninguém que possa fazer isso. 

Rhys olhou para mim e balançou a cabeça, negando várias vezes. 

- Vamos tirar esse feiticeiro de lá. - ele colocou meu rosto entre as mãos, com a expressão cheia de desespero. - Você fugiu, podemos encontrar uma maneira de libertá-lo também.

- Eu fugi, mas Julius teve que se sacrificar para que isso pudesse acontecer. - ele balançou a cabeça e ia falar quando o interrompi. - Não deixarei que se ofereça para entrar lá e trazer Davos até nós. Até porque não sabemos se o feitiço funcionaria de fosse feito de tão longe. 

Rhys olhou para Helion, provavelmente esperando que ele pudesse dar alguma outra possibilidade, mas eu sabia que não haveria nenhuma.

- Amarantha nos prendeu a ela, nos prendeu àquela montanha. - Helion falou. - Não sabemos se conseguiríamos quebrar a maldição de fora para dentro. A energia tem que vir de lá, do centro dos nossos poderes. 

Rhys assentiu, o rosto sério como poucas vezes eu havia visto. Eu sabia que isso seria difícil. Ele sempre tentou me proteger, mesmo quando éramos crianças e implicávamos sem parar. Rhys sempre me viu como alguém que ele deveria cuidar a todo custo. Eu era grata por seu cuidado, mas isso teria que parar. 

Eu estava longe de ser a garota indefesa que um dia fui.

- Então você quer voltar para Sob a Montanha com o amuleto? - ele perguntou, olhando nos meus olhos com uma profundidade que me fez tremer.

- Eu vou levar o amuleto a Davos. Sou a única que pode fazer isso. - minha voz saiu mais firme do que eu imaginei. 

- Tem certeza que não há outra maneira? - ele olhava para o chão enquanto perguntou. Percebi que ele já sabia a resposta mesmo antes de Helion falar.

- Não. Não conseguimos encontrar nenhuma outra alternativa. 

Rhys entornou uma taça de vinho e levantou. Ele caminhou até a janela, onde ficou olhando para o campo com um olhar perdido. 

Helion me chamou para onde a cozinha ficava e eu o segui. Por mais que conhecesse Rhys desde minha infância, há muito tempo não tínhamos contato. Era triste e frustrante admitir, mas eu não o conhecia mais. Não sabia o que ele estava pensando, não sabia como ele iria reagir. Eu só esperava ter tempo suficiente para descobrir todas as nuances escondidas em suas sombras. 

Helion parou na porta que dava para lateral da casa. Apenas mata densa nos encarava dali. A visão me deu um calafrio, eu ainda conseguia sentir o calor e as árvores densas do Meio se fechando sobre mim. 

- Vou voltar para o palácio agora. Não posso ficar tanto tempo longe. - ele apertou meu ombro carinhosamente. - Descanse um pouco, coma e converse com ele. Rhys é um macho razoável, ele sabe o que há em jogo para todos nós. 

Corte de Sangue e MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora