Capítulo 25

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Ayla

Eu sentia a morte pairando ao meu redor. Implacável e incansavelmente tentando me destruir. Cada pedaço do meu corpo gritava de dor e desespero. Cada pedaço meu implorava pela libertação de se desfazer e deixar de existir. Mas eu segui lutando contra aquele poder sombrio, minha luz brigava e refazia partes de mim que estavam prestes a se despedaçar. 

Um segundo tocando aquela caixa era como horas de agonia. Helion pensou que o freixo ou o metal poderiam diminuir seu poder, mas não poderia estar mais errado. 

Vi quando os olhos de Rhys se arregalaram. Vi quando Helion disse alguma coisa, seu rosto tão tenso quanto o de Rhysand. Mas eu não conseguia escutar nada. Apenas o pulsar do sangue em meus ouvidos e o ruflar do amuleto em minha cabeça. 

Como antes, da primeira vez que o toquei, eu sentia que o amuleto queria me destruir. Porém agora tudo era pior. Parecia que aquele poder antigo e sombrio queria tomar conta de mim e meu corpo. Queria me fazer sua arma. 

Lutei com tudo que tinha para formar uma barreira ao redor da minha mente. Eu não poderia me deixar sucumbir ao poder. Se perdesse o controle, os danos poderiam ser irreparáveis. 

Olhei para Rhys, tentando encontrar em seu rosto algo que me prendesse à realidade, e consegui. Os olhos violetas me fitaram intensamente, me impedindo de perder o controle naquele momento. Mal senti quando Rhys tocou em mim e a escuridão nos envolveu. 

Reconheci as paredes de pedra carmim assim que atravessamos. O dourado da minha pele brilhava contra a parede, iluminando o rosto de Rhys. Ele balançou a mão e senti seu poder me envolvendo, escuro e cuidadoso ao mesmo tempo.

O ruflar em minha mente ficou cada vez mais alto, como se o amuleto estivesse tentando falar comigo. Mas a voz, se é que aquilo era uma voz, falava uma língua antiga demais, talvez esquecida há milênios. 

Rhys tocou meu rosto e suas mãos estavam mortalmente frias. Sua expressão saiu de tensa para preocupada e percebi que ele não estava frio, era eu quem estava queimando. 

Seus lábios se moveram, mas eu não conseguia escutar nenhum som. Ele esperou por minha resposta, que não veio. Não era capaz de mover a boca, minha língua era um peso morto. Rhys falou de novo, devagar e pude ler em seus lábios "Você está bem?".

Eu não estava. Mas apenas balancei a cabeça, concordando. O que mais eu poderia fazer?

Rhys falou novamente e não precisei de muito esforço para compreender que ele queria que eu o seguisse. 

Caminhamos pelos corredores vazios. Talvez os feericos estivessem dormindo, o tempo Sob a Montanha não era levado em consideração. 

Mal notei quando Rhys fez uma curva abrupta, abriu uma porta e me puxou para dentro com ele. Percebi que estávamos em seu quarto. A cama estava intocada, e as velas se acenderam como se apenas esperassem por ele.

Rhys falou e fez um gesto que obviamente queriam dizer para que eu soltasse a caixa. Hesitei por um segundo. Tudo que eu mais queria era me ver livre daquele sentimento opressivo de dor por um segundo, mas não sabia se seria capaz de pegá-la de novo.

Ele deu um passo em minha direção, com as mãos estendidas em direção à caixa. Entrei em pânico só de pensar em Rhys perto daquilo e a deixei em cima da mesa, longe de seus dedos. 

Assim que meus dedos deixaram aquela fonte de poder, meu corpo todo se retesou. Meus joelhos cederam e caí no chão com um baque surdo. Comecei a tremer freneticamente, com o rosto em chamas colado ao mármore frio do chão. 

Eu me sentia morta por dentro, como se tudo estivesse oco e congelado. Apenas o tremor me lembrava que eu estava viva. 

- Ayla. - Rhys disse meu nome, desesperado, e eu pude ouvir dessa vez.

Corte de Sangue e MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora