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O dia estava nublado – tão bonito quanto meu humor – coloquei meu moletom e passei uma base no rosto na tentativa falha de tentar esconder minhas olheiras devido à noite mal dormida. Não havia contado para ninguém o que tinha acontecido e nem iria, era melhor fingir que nada tinha acontecido e seguir em frente do que reviver sempre a mesma decepção. Sei que a coisa mais difícil seria olhar para Miguel depois de todas as coisas duras que ele me disse, mas se não havia mais sentimento da parte dele o que me restava era lidar com meus próprios monstros e decepções devido a situações que eu mesma criei na minha cabeça.

Era algo completamente desgastante ficar pensando em como reagir ao ver Miguel novamente no colégio, para minha infelicidade ele conseguiu conversar com o diretor e voltar para terminar os dois últimos meses de ensino médio, pelo que eu entendi o conselho entrou em um consenso devido tudo o que havia acontecido e pelos pais do mesmo serem grandes contribuidores para com o colégio ele p0deria retornar sem pendência nenhuma.

Benjamin foi a primeira pessoa que avistei logo quando desci do carro, ele estava conversando com algumas garotas e uns amigos, me olhou rapidamente e eu apenas passei reto. Não éramos amigos, apenas colegas de um trabalho escolar no qual só pedia a nossa interação ao realiza-lo e não em outros momentos. Durante meu caminho percebi que o colégio estava agitado, havia muitos grupinhos juntos e com certeza era alguma fofoca que estava acontecendo e por coincidência eu já sabia exatamente de quem todos estavam falando, Miguel.

Entrei no corredor e logo no final já avistei Bruck e Jack conversando e abraçando Miguel o tempo inteiro, eles estavam de costas para mim e por esse motivo tinha tempo para sair dali e inventar uma dor de cabeça qualquer para não assistir a primeira aula.

Ao me virar para ir à diretoria trombei com uma pessoa duas vezes maior que eu, Benjamin.

— Olha quem temos aqui — ele disse, rindo — essa foi uma tentativa de fugir da primeira aula de matemática?

— Sim, não sou de exatas — menti. — E também não estou afim de assistir essa aula.

— Quer matar aula em um lugar interessante?

O olhei desconfiada, vindo de Benjamin poderíamos esperar qualquer coisa e nenhuma dessas coisas, ao meu ver, eram boas.

— Não, vou falar que estou com dor de cabeça e entrar para a segunda aula.

— Cara, você já percebeu que nunca realmente me deu uma chance? — o encarei sem entender e ele prosseguiu — Desde que começamos o trabalho eu sempre sou recebido por você com uma cara fechada ou alguma grosseria, você deveria me agradecer por tentar ser educado com você, geralmente não sou com quase ninguém.

— Pois então você deveria ser — rebati. — Educação na maioria das vezes tem a ver com falar com todos sem ter algum interesse por trás disso, parece que seus pais não lhe ensinaram isso. Que pena!

— Aí que está.... — ele continuou, dessa vez pegando uma mecha do meu cabelo e enrolando no seu indicador — eu não tenho interesse em você, em nenhum sentido. Não sei porque ainda estou insistindo em tentar ser agradável. Geralmente eu sou a pessoa que dá patada, não a que recebe.

— Ok, nossa conversa não vai chegar a lugar nenhum e eu não vou assistir essa aula então você pode me deixar passar?

— Reizinho — um garoto gritou. — Vamos logo! Todo mundo está esperando.

Um grupinho estava se aproximando e parece que todos esperavam por Benjamin, ele me olhou e logo em seguida olhou para os amigos.

— Eu vou ficar aqui — disse, me encarando — podem ir sem mim.

Ficou evidente a frustração de todos e eu estava totalmente sem entender aquela reação dele.

— Eu acabei de dizer que eu não vou a lugar nenhum com você e que só quero perder a primeira aula em paz, você ir com seus amigos me faria um favor por não mais aperrear a minha cabeça.

— Você é bem chatinha, mas hoje, por incrível que pareça, não estou afim de matar aula fora do colégio.... E sim aqui, e com você, dona Larinha.

Larinha? Ele está usando meu nome em diminutivo como se eu fosse uma criança de dez anos, é sério?

Comecei a andar pelos corredores sem ter um destino certo, eu até poderia ter surtado com Benjamin por ele estar me seguindo, mas eu estava tão cansada sobre o que tinha acontecido na noite anterior que ele ali era a última pessoa que eu me preocupava em manter longe de mim. Cheguei no ginásio e me sentei em uma das arquibancadas, Benjamin sentou-se ao meu lado e começou a mexer no Instagram, rindo sozinho. O ignorei por alguns minutos até sentir vontade de conversar.

— Do que você está rindo?

— O pessoal do colégio — disse, me mostrando o stories de uma menina da nossa sala — eles foram matar aula e agora estão na casa de algum cara mais velho fazendo toda essa bagunça.

No stories eles bebiam e fumavam narguilé, muitas meninas riam e tenho certeza que já estavam sem rumo às 8 da manhã, porém quem sou eu para julgar — disse eu, já julgando.

— Você poderia estar com eles — disse.

— Sinto que você tem uma imagem errada sobre mim — Benjamin disse, ficando mais próximo.

— A imagem que eu tenho de você é você socando meu amigo.

— Ele mereceu, era a minha irmã o motivo.

— Nada justifica violência gratuita.

— Depende... — ele se aproximou mais — eu defendo com todas as forças as pessoas que eu amo, sem exceção.

— Você não pensa direito então — respondi, sentindo-o se aproximar cada vez mais — as coisas jamais se resolvem assim, independente do que for.

— Vai me dizer que não gostaria que eu socasse a pessoa que te fez chorar a noite inteira?

Eu gelei com a sua pergunta, ele não falou aquilo atoa. Sua pergunta me deixou nervosa, mas a nossa proximidade estava me deixando mais nervosa ainda e atrapalhando a minha capacidade de raciocinar direito. Naquele momento eu parecia estar projetando o Miguel em Benjamin e isso era completamente errado.

— Isso é, se você fosse uma pessoa especial para mim, o que você não é — disse. — Música maneira, — falou pegando um lado do meu fone e se afastando — Lagum né? Eles são foda.

Por um momento eu senti meu coração sair pela boca. Eu nem tinha percebido que ainda estava ouvindo alguma música no meu fone de ouvido. O que está rolando?

— Sim, gosto deles — respondi tentando não transparecer o que tinha acabado de sentir.

O Que Dizer De VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora