03

284 39 0
                                    


— Pai, chegamos! – Francisco anunciou.

Adentramos naquela casa e fomos tomados por uma onda de espanto e deslumbre. Se a casa já era linda por fora, por dentro ela parecia uma verdadeira mansão.

O hall de entrada que estávamos tinha pinturas expostas e um tapete sedoso, andando um pouco mais passamos pela sala que continuava com as pinturas modernas e com certeza de alto valor. A mesa de vidro grande iluminada por um lustre enorme reluzia na noite, aquele provavelmente era a sala de jantar.

Na parede havia foto das duas meninas quando pequenas, abraçadas e com um vestido engomadinho. No quadro ao lado havia meu pai e sua esposa, eles sorriam como se nada os preocupasse e realmente parecia que nada os preocupava. Outras fotos estavam espalhadas por todos os cômodos. Fotos deles em outros países, da formatura das meninas no fundamental, almoços em família, natais e anos novos.

Um sentimento ruim percorreu todo o meu corpo, sei que não deveria sentir raiva do meu pai por ter nos abandonado tão cedo mas eu simplesmente não conseguia. Ver a vida que ele construiu enquanto mal nos mandava pensão no Rio de Janeiro era realmente aborrecedor.

— Vocês chegaram! – ele apareceu na sala sorrindo, estava vestindo um roupão de lã e calçava pantufas. Quem usava pantufas, cara? — Perdão por não ter buscado vocês, tive alguns problemas e fiquei ocupado mas Francisco se propôs a buscá-los. Como foi a viagem?

— Normal – Joaquim se manifestou. — Estamos cansados.

— Onde podemos dormir? Realmente estamos muito cansados – Antenor disse com a voz calma e singela. Ódio, ele não tinha que ser tão simpático com o cara que nos abandonou para construir outra família.

— Vou mostrar o quarto de vocês – nosso pai disse. — Mas antes preciso abraçá-los. Foram tantos anos.

Fiquei calada.

Ele se aproximou dos gêmeos e os abraçou todos juntos, em seguida foi para Joaquim e lhe deu um abraço apertado seguido de um ''você está um verdadeiro homem''.

Argh!

E por último veio até mim, ele me abraçou e acariciou meus cabelos como se tivesse intimidade para tanto. Continuei calada, esbocei um sorriso mínimo porque infelizmente minha mãe se reviraria no caixão se eu demonstrasse algum tipo de falta de educação nesse momento.

Subimos para o segundo andar e ele mostrou primeiro o quarto dos gêmeos, era grande e eles ficaram encantados, nunca tivemos muito luxo. O quarto dos meninos na nossa casa no Rio era simples, duas camas e escrivaninha. Esse era o necessário.

O quarto de Joaquim era de frente para os dos gêmeos, ele não se importou muito com toda comodidade mas também havia uma cama de casal, televisão e um espaço para seus estudos já com alguns livros de Medicina. Realmente nosso pai havia se empenhado para nos acomodar.

Seguimos para o meu quarto, ele era clean, com uma cama de solteiro, televisão, área de estudos e algumas decorações bobas. Ele era bonito, muito diferente do que eu tinha no Rio, mas era bonito. Era organizado.

— Aqui é a parte mais calma, se precisar de alguma coisa o quarto do Francisco é logo na frente.

— Tudo bem – respondi sem muito ânimo. — Boa noite – desejei para ele e Francisco, ambos retribuíram e eu entrei no meu quarto, fechando a porta e me jogando na cama. — Mamãe, esteja comigo. Por favor – pedi baixinho, me acomodando para dormir.

O Que Dizer De VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora