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                 Em um mundo que pessoas não estão mais tão ligadas as outras, onde um abraço é substituído por uma ligação de dois minutos no máximo, pessoas não sentem mais as ligações como antes. Hoje, aos meus dezessete anos sinto que todo meu mundo foi embora e caiu aos pedaços.

Eu sabia que em algum momento esse dia chegaria, mas nunca imaginei que seria tão rápido. Nunca imaginei que enterraria minha mãe tão nova, nunca imagine crescer sem ter ela para me dar os conselhos, as broncas, as risadas e até mesmo me irritar ás vezes como ela fazia.

                Eu ainda estava parada olhando para aquele caixão como se fosse mentira. Eu sentia que ela iria levantar e falar que era só uma brincadeira comigo e meus irmãos. Mamãe sempre foi do tipo brincalhona, que nunca ficava de mal com a vida. Ferdinando falava que o que lhe fez se apaixonar pela minha mãe foi o jeito dela, sempre espontâneo e nunca reclamando do que a vida lhe oferecia, seja a pior coisa ou a melhor, o lema dela era sempre agradecer.

Eu falo demais, desculpe. Vou me apresentar.

Meu nome é Lara Lis, tenho dezessete anos e sinto que nesse momento não tenho rumo.

— Suas malas já estão prontas? – Joaquim perguntou, ficando perto de mim e envolvendo seu braço em minhas costas num modo de me acalentar. — Precisamos fazer isso pela mamãe, era o que ela desejava.

— Minhas malas estão prontas, Quim – suspirei. — Sei que temos que fazer isso por ela.

                 Tenho quatro irmãos. Isso mesmo, quatro irmãos homens. Todos homens. De acordo com nossas idades eu me encaixaria como irmã do meio, considerando que os gêmeos nasceram depois de mim, temos 11 meses de diferença somente. Mamãe foi rápida, eu sei.

Meu irmão mais velho é o Francisco, vinte e três anos. Não temos muito contato pois aos dezesseis ele saiu de casa e foi morar com nosso pai em Gramado, uma pequena cidade no estado do Rio Grande do Sul, se não me engano fica na Serra Gaúcha. É, eu andei pesquisando. Não poderia me mudar para um local onde não conheço nada, não é mesmo?

                 Não convivo com meu pai desde meus cinco anos de idade, Joaquim tinha oito quando ele foi embora e Francisco onze e os gêmeos pouco mais de quatro anos e alguns meses. Eu não lembro de muita coisa, não lembro o porquê de se separarem mas lembro que havia sempre muita briga e que papai sempre foi um escroto com mamãe. Mas, como disse, não me recordo de muita coisa.

Francisco e Joaquim lembram mais, porém não tocam muito no assunto, pelo menos Joaquim não é muito de falar. Francisco, como disse, se mudou para morar com papai quando tinha dezesseis anos e pela nossa diferença de idade ser de seis anos nunca conversamos muito, sempre estávamos em fases diferentes. Assim como ainda estamos.

Ele me julga por ser a única, aos olhos dele, de não querer me mudar, acha que estou empacando todo o processo da mudança e atrasando o processo de adaptação, todo metódico. Chato.

Ele sempre foi assim, nunca mantivemos muito contato. Primeiro por ele sempre ser um insuportável de galocha , segundo por ele só vir visitar a mamãe uma vez por ano e mal ligar para a mesma e terceiro porque Francisco é o Francisco. Mesmo sendo meu irmão não deixa de ser um pé no saco.

— Cara, podemos dar no pé? – Afonso perguntou, com tom de voz um pouco entediado. Olhei para ele e seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar, de todos nós estavam, menos os de Francisco. Arghh. — Só quero entrar logo no carro e irmos embora, não aguento mais todas essas pessoas chorando como se realmente se importassem com a mamãe.

Afonso era o gêmeo mais ''revoltado'', se podemos assim dizer. Antenor era o gêmeo mais calmo.

— Que horas é o nosso voo? — Antenor perguntou, se achegando mais a nós.

— Oito e meia da noite.

Suspiramos uníssono.

Eu sabia que não estava sendo fácil para ninguém ali, ambos estavam deixando para trás amigos, namoradas, colegas, toda uma vida inteira. Em nossos olhares de cumplicidades buscávamos forças uns pelos outros para superar essa barra. A barra mais pesada que já passamos todos juntos.

                     Todos tentavam se manterem fortes, Joaquim era o que mais estava sentindo o sentimento de perda. Seus amigos estavam lá, mas acima disso estava Beatriz, sua namorada de sabe se lá quantos anos. Eles eram apaixonados um no outro e por mais que Joaquim já tivesse idade para poder seguir sua vida ele ainda não tinha dinheiro suficiente, ainda dependia de terminar sua faculdade e não conseguiria se manter sozinho no Rio de Janeiro.

Eu estava deixando só minha melhor amiga Fernanda e meu cachorro Tobias. Tive que doá-lo, porque, em palavras de Francisco, nunca um cachorro se encaixaria na nossa nova casa.

— Está na hora, pessoal — Ferdinando disse.

            Meu coração dói por pensar em deixar Ferdi sem ninguém ali, ele foi nosso pai, nosso protetor, durante todos os esses anos que foi casado com a nossa mãe mas infelizmente temos um ótimo pai que não permitiu passar nossa guarda para ele e cá estamos nós, nos mudando para a casa do caralho. Me exaltei. Perdão.

— Abraço em grupo! — Antenor agitou.

— Não – fiz uma careta.

— Anda, abraço em grupo! – Joaquim insistiu.

E assim nos abraços, os cinco. Era um abraço de força, despedida, saudade e sentimentos. Muitos sentimentos.

 Muitos sentimentos

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Hey, guys!!!! 

Esse primeiro capítulo foi só um aquecimento. Espero que vocês tenham gostado. Comentem bastante e deixem estrelinhas para que eu consiga continuar a história, bjks.

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