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Alguns dias se passaram e o fim de semana chegou.

Todos estavam se arrumando para um churrasco beneficente que teria em um clube conhecido de Gramado, se não me engano eram vários empresários juntos. Meu pai e sua esposa, a Carli. Fiquei meia hora pensando no que eu poderia ou deveria vestir e nada me vinha a mente. Ouvi batidas na porta e fui atender.

Era Letícia.

— Papai pediu para eu ver se você estava pronta – disse me olhando de cima em baixo. Acho que ela percebeu que eu não tinha nem tirado meu pijama. — Acho que você não está... Vou avisá-lo que... – eu a interrompi.

— Você poderia me ajudar? – pedi de um modo sincero. Eu nunca havia participado de eventos desse tipo, eu nem sequer sabia que eles existiam dessa forma.

Letícia me olhava e ao mesmo tempo parecia travar uma batalha interna com ela mesma.

— Eu não estou pedindo muito, só queria que você me desse uma dica de como me vestir para ir em eventos desse tipo.... Eu nunca participei de nenhum, só estou com medo e, - suspirei – cansada de sentir que não pertenço a esse lugar.

Ficamos naquele silêncio por mais uns cinco segundos até ela resolver se manifestar.

— Você não precisa ir cheia de coisa, só coloque uma roupa que seja discreta. Um macacão junto com um cardigan ficaria bonito. Você tem um macacão branco de renda com seu cardigan branco ficaria bonito. Já vi você usando ele algumas vezes. Não precisa ir chique. Lá são pessoas simples.

Sinto em te dizer, Letícia, mas as suas pessoas simples são bem diferentes das minhas pessoas simples.

— Tudo bem – sorri. Posso estar doida ou coisa parecida mas senti ali o início de uma aproximação e eu gostei. Letícia era o tipo de pessoa que eu gostaria de ter amizade. — Obrigada.

— Por nada, vou avisar ao papai que você vai demorar mais uns trinta minutos - ela assentiu, deu um meio sorriso e se retirou do meu quarto.

O fato dela chamar o nosso pai de papai era algo que me incomodava. Era estranho perceber que ela e Katarina foram criadas com esses costumes, elas pareciam realmente próximas dele... já eu, se pudesse, nem o chamaria de pai.

Enfim...

Coisas da vida.

Terminei de me arrumar e fiquei me encarando no espelho uns cinco minutos pensando o que esperar desse evento. Algo em mim sentia que eu poderia encontrar Bruck, Jack ou até mesmo o Miguel nesses eventos, afinal, eles pertencem a Elite de Gramado e esse evento era da classe deles.

Sinceramente? Eu não sabia como me portar mas também não deixaria que eles me humilhassem. Sinto muito se magoei ou falei merda pro amiguinho deles, eles que se ferrem naquele circulo idiota e elitista.

— Está pronta? – Joaquim perguntou aparecendo no batente da minha porta.

— Acho que sim – dei de ombros. — Estou magnifica? – perguntei de um jeito engraçado virando-me para o mesmo e mandando um beijinho pelos ombros.

— Sim, você será uma das mais bonitas desse churrasco.

— Você e seus elogios Joaquim... – suspirei.

— O que foi? – perguntou ao notar minha expressão.

— Nada, só queria que as coisas não tivessem mudado. Ainda queria estar no Rio e com a mamãe.

Só de mencioná-la meu coração já apertava e eu sentia uma vontade enorme de chorar. Joaquim adentrou meu quarto e me abraçou forte. Instantaneamente deixei uma lágrima escorrer. O que me acalmava no meio de toda essa mudança era saber que eu tinha meus irmãos e por eles eu faria tudo.

— Vamos? – Francisco disse, aparecendo na porta. — Desculpa eu não...

— Estamos prontos – falei me soltando de Joaquim. — Todos já estão lá embaixo?

Ele assentiu.

Concordei com a cabeça e limpei rapidamente a lágrima que havia escorrido, passei pelo mesmo e desci as escadas deixando Joaquim e Francisco.

O Que Dizer De VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora