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L A R A

''E bom, é isso''? Foram com essas palavras de merda que ele me deu um fora na porta da minha casa?

— Eu achei que você fosse melhor que isso — argumentei, ele se inclinou um pouco para frente enchendo seu peito de ar para continuar, mas não continuou, então eu continuei. — Eu passei sim, meses pensando que aquele fucking beijo havia significado alguma coisa. Eu esperei diversas mensagens de você dizendo alguma coisa, eu passei todos esses meses e fiquei preocupada com você, para agora, você voltar na porta da minha casa e dizer que que não quer mais falar comigo, que nosso beijo não significou nada e bom, é isso. Cara? Vai se foder.

A expressão de Miguel permanecia a mesma, mas era nítido sua mandíbula dura e contraída.

— Eu quero te mandar para o quinto dos infernos por me fazer sentir o que eu estou sentindo nesse momento, você é um covarde! — gritei. — Vai embora.

Ele me olhou por mais alguns segundos e não disse mais nada, virou as costas e saiu andando. Adentrei em casa pisando forte e subindo para o meu quarto, agradeci aos Deuses por não ter ninguém em casa, todos foram comer pizza mas como Miguel havia me mandado uma mensagem dizendo que queria conversar disse para meu pai que estava com dor de cabeça e ficaria deitada. Como fui idiota.

Sentimentos são uma droga, sentimentos não recíprocos são piores ainda.

Na minha cabeça eu criei um cenário totalmente diferente, um cenário em que Miguel voltaria, conversaríamos e tentaríamos algo, e caso não desse certo, tudo bem. Pelo menos teríamos a sensação de consciência tranquila que tentamos, mas não, agora eu tenho a sensação que fui uma idiota e que só de pensar que poderíamos ter tido algo fico com mais raiva ainda.

E, sem que eu menos esperasse ou reparasse, lágrimas escorriam descontroladamente dos meus olhos. Eu sempre senti muito, eu sempre senti demais. Boa parte das pessoas que me conhecem me consideram uma pessoa que não se entrega com facilidade, que não se deixa levar por falsos amores. Errado. Eu sou a pessoa que mais se deixa levar por falsos amores.

Tinha me esquecido como dói chorar por alguém no qual depositei tantas esperanças, mas o erro em grande parte foi meu, Miguel não tinha obrigação de voltar e ficar comigo, isso foi novamente uma das várias vezes que projetei algo na minha cabeça e que por um milagre achei que seria diferente, não foi.

Meu celular vibrou despertando a minha atenção, olhei no visor e era quem eu menos gostaria de falar naquele momento.

— Por que você está ligando? Não sabe digitar uma mensagem? — meu tom saiu mais estressado do que imaginei.

— Nossa, você sempre está de mau humor assim, cara? — do outro lado da linha pude ouvir sua risada seguida de várias vozes e música. — Eu queria saber se posso passar na sua casa amanhã para começarmos a dissertação.

— Não vamos começar nada amanhã, temos três meses para que eu possa te ajudar.

— Quanto mais cedo começarmos mais cedo você se livrará de mim e eu de você.

— Benjamin as coisas serão do meu jeito, se eu digo que eu não irei te ajudar amanhã é porque eu não vou — gritei, desligando em seguida.

Benjamin é o amigo do meu irmão, sim, ele é a grande estrela da confusão da semana passada. Depois de todo o ocorrido as coisas ficaram bem complicadas no colégio, o diretor descobriu e ameaçou reprovar todos os que já estavam quase que na linha de reprovação.

Me tranquilizei porque, mesmo com pouco tempo, consegui me recuperar nas notas e estava tranquila para finalmente me formar. Até que, nossa professora de Literatura propôs um trabalho de auxílio, que se baseava em: alunos destaques ajudando alunos com notas baixas.

Foi feito um sorteio e por uma peça do destino Benjamin e eu estávamos como duplas. Antes que pensem eu implorei de todas as maneiras para que a professora me mudasse de dupla, coloquei todos os empecilhos mais idiotas e até disse que teria um infarto se fizemos dupla juntos, ela não aceitou. E bom, agora como vocês podem ver estou com uma dupla insuportável e que me liga nos momentos mais inoportunos.

Só depois de desligar o celular pude perceber como fui uma tremenda idiota com Benjamin, ele pode realmente ser um idiota mas não merecia que eu depositasse nele toda a minha raiva e frustração.

— Oi — disse, sem graça.

— Oi — ele atendeu, dessa vez estava silencioso do outro lado da linha.

— Me desculpa pela maneira que eu te tratei há exatos — olhei no relógio — trinta minutos atrás. Eu estou passando por uns problemas mas eu não queria descontar nada em você.

— Tudo bem, acho que na minha testa estava escrito que sou seu saco de pancadas desde que você apertou os roxos do meu rosto — eu ri. — Aquele dia achei que iria ganhar um carinho e recebo o golpe mais duro de todos, você é uma farsante.

— Nunca se deixe levar por um sorriso meigo — dei de ombros. — Vocês homens se distraem com um par de peitos muito facilmente.

— Geralmente eu nunca pego qualquer par de peitos — se gabou.

Fiz uma careta de nojo.

— Enfim, amanhã é um dia legal, depois da escola vou direto para lanchonete mas você pode passar lá depois que meu turno acabar.

— Que horas?

— 18h.

— Tudo bem.

É, eu esqueci de contar que tinha conseguido um trabalho de meio período em uma lanchonete, mesmo com o meu pai dizendo várias vezes que não havia necessidade porque tudo que eu quero ele pode me dar, mas a questão não era essa, eu queria algo para me distrair e ficar o maior tempo possível longe daquela casa. 

O Que Dizer De VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora