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A minha cabeça doía e muito.

— O que vocês fizeram, idiotas? – ouvi a voz de Afonso e ele parecia puto.

— Foi mal, cara. Não vimos que ela estava passando.

— Pois da próxima vez vejam! – retrucou.

— Calma! – Ester deu um gritinho chamando a atenção de todos para ela – a professora de vocês já está vindo.

Essas vozes pareciam vir do além e ao mesmo tempo pareciam estar muito perto de mim. Abri meus olhos lentamente e vi meus irmãos, Ester, e, o que de acordo com meus cálculos rápidos e com a cabeça doendo, eram 15 meninos. Todos ao meu redor com os olhos curiosos e preocupados.

— Saiam da frente – uma vez ríspida feminina invadiu meus tímpanos. — Vocês só fazem bagunça! – ela se abaixou ao meu lado e passou a mão na minha testa. — Ela vai precisar de ponto, vocês são ótimos - a parte do ''ótimos'' foi mais ironia impossível.

A mulher, que eu ainda não sabia o nome, mas que vestia uma roupa de educação física que na lateral continha o bordado escrito ''professora'' ajudou-me a sentar lentamente. Minha cabeça ainda doía e eu fui abrindo melhor os olhos. Eram ao total 16 meninos, não vi o último que estava quieto no fundo dos meninos.

— Você está bem, querida? – dessa vez sua voz parecia mais calma. Assenti com a cabeça e dei um sorriso de lado. — Quem foi que fez isso?

Silêncio.

Ninguém se manifestou. Os meninos se entreolharam e algo parecia estar estranho, eles pareciam ter medo de falar quem tinha feito aquilo.

— Eu quero saber, agora!

O silêncio ainda reinava.

— Fui eu.

Sabe o garoto que era o último dos meninos e que eu não tinha conseguido ver quando estava deitada no chão? Foi ele quem respondeu. O encarei bem e pude perceber que ele não parecia nem um pouco se importar com o que tinha acontecido.

Babaca, pensei.

— Muito bom, Miguel. Acho que depois dessa a sua expulsão está mais que clara.

— Ele não fez de propósito – o menino que estava ao seu lado o defendeu.

— Independente. Vocês nem deveriam estar aqui, estavam matando aula. Isso é pior ainda.

— Tanto faz – o tal Miguel deu de ombros – e agora que eu vou pra direção?

Gente, como ele poderia agir com tanta tranquilidade assim? Ele nem sequer olhava na minha cara, que garoto mais babaca! Parece que está com o rei na barriga. Alguém fala pra esse idiota descer do pedestal. Que ódio.

A esse momento eu já não conseguia disfarçar a minha cara de totalmente puta e insatisfeita querendo socar aquele garoto e já estava ficando cansada de todo aquele bate-boca que no final não daria em nada.

— Será que posso ir para a enfermaria?

— Claro! Eu te levo – Afonso propôs junto com Antenor.

— Não, vocês são alunos novos e precisam estar em suas salas. Além de serem do segundo ano. Alguém do terceiro ano vai levá-la.

Afonso fechou a cara no mesmo instante e eu olhei para o mesmo com um olhar de que ele não precisava se preocupar e que eu ficaria bem. Eu esperava ficar bem.

— Eu levo ela — o que defendeu o Miguel se ofereceu.

— Tudo bem, Jack. – a professora agradeceu – e você Miguel, vem comigo agora.

Miguel deu de ombros e passou ao meu lado saindo com a professora como se nada tivesse acontecido. É sério, aquele garoto era muito babaca e eu já o odiava de cara.

— Quer uma ajuda para se levantar?

— Nem um pedido de desculpas? É sério? Seu amigo sofre de algum problema ou quando ele era pequeno a mãe dele não lhe ensinou essa palavra?

Despejei tudo isso em Jack sendo que nem culpa ele tinha. Dane-se, eu estava com raiva.

— O Miguel é complicado.

Foi a única coisa que ele me respondeu antes de irmos para a Enfermaria. Mas isso não ficaria assim, ele iria ouvir poucas e boas da minha boca ou eu não me chamo Lara Lis!

O Que Dizer De VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora