Capítulo 20

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Empurro a comida para dentro. Acompanhado pelo silêncio do quarto. Pela janela vejo o vai e vem de pessoas se dirigindo para a emergência que fica no andar abaixo de nós.

Quantos chegam e não saem?quantos tem seus problemas resolvidos?Quantos saem sem  uma solução?

Olho para Laura, ela adormeceu rápido logo após fazer a medicação. Nós vamos sair daqui. Não aguento mais esse lugar. 

A empresa precisa de mim. Tenho alguns gerentes administrando as coisas, Katherine está lá, e consigo responder e decidir algumas coisas pelo computador ou celular. Mas grande parte do trabalho está se acumulando. A situação na Argentina está se agravando e meus fundos acabando.

Mas não consigo sair daqui sem Laura. Me recosto na cadeira e fecho os olhos. Parece ter areia neles. 

Sou puxado do leve embalo do sono quando escuto um murmúrio. Levanto e vou até a cama.

Laura se mexe muito, murmura coisas desconexas. Logo algumas palavras fazem sentindo, ela está sonhando. Se debatendo, tento contê-la. Ela não pode se bater desse jeito.

Tento ser o mais delicado possível. Seguro ambos os braços.Ela logo desperta assustada.

- Shhhhh, calma...foi só um sonho. Você está segura.

Ela me olha com medo, puro e palpável medo. 

Posso sentir o pavor dela. Sei que não é para mim,ela não reconhece de imediato quem a segura, ainda confusa com o despertar do sono. 

Mas sei quem causou esse medo. Sei quem é o monstro em seus sonhos. Sei quem, o que  fez, por que fez. Sinto uma batida forte no peito e junto com ela um desejo de violência e morte.

Infelizmente Laura parece perceber algo em meus olhos e fica mais apavorada, se debate com mais força

- Laura calma. Você vai se machucar.

- Me solta! Me solta por favor!

Retiro as mão rapidamente. Ela está apavorada por eu estar prendendo-a. Meu sangue gela, ao me dar conta do por que.  Não tenha medo de mim minha linda, de mim não...

Preciso esclarecer. 

- Eu jamais machucaria você! Você estava sonhando, gritando e se debatendo.

- Eu...me desculpe eu ....

Ela se ajeita melhor, procura controlar a respiração, e foge do meu olhar.

- Olhe nos meus olhos. Você sempre teve coragem para fazer isso.

Vamos.Olhe pra mim. O desafio surte efeito. Quando os olhos chegam aos meus não consigo evitar de sorrir. 

- Me desculpe eu confundi o sonho....a realidade...você ficou com raiva...

- Não de você Laura. Jamais. Minha raiva é pra ele.

Tento não tocá-la...mas é em vão. Eu preciso disso. Levo a mão ao seu rosto o mais docemente que consigo. Ela não se esquiva.

Eletricidade me percorre. Não tenha medo de mim. Por favor, não tenha medo de mim. Estou aqui para você, por você. Apenas me aceite amor....apenas aceite. 

Gostaria de falar tudo para ela. Mas resumo tudo em uma frase.

- Eu amo você Laura.

Sinto o choque dela. Mas...não há rejeição, Laura parece mais...confusa...

- Logan...eu...

- Não é o momento. Mas eu precisava falar.

- Eu...não sei o que dizer...

- Não diga nada. Você acabou de passar por uma experiência horrível com alguém que amava.

- Eu não....amava...ele.

Quase grito. Quase. 

Pressiono mais um pouco:

- Bom, estava apaixonada então...mesmo assim...

- Eu não estava apaixonada...quer dizer estávamos nos conhecendo, eu gostava da companhia e tudo... mas não sentia...

Graças a Deus! Ela não tinha sentimentos mais fortes por aquele infeliz. Seria muito mais doloroso e difícil para ela. Fico aliviado, feliz na verdade. 

Na verdade fico animado. Laura não estava apaixonada. Talvez, ela tenha sentido o que eu senti em Dubai, talvez....ela sinta algo ...por mim....talvez...

Encaro o olhar com vergonha dela. As palavras fogem da minha boca.

- Eu gostaria de ter falado com você antes então.

- Logan, por favor não entenda mal...eu..

- Eu vivi os piores dias da minha vida nessas últimas duas semanas. Me dê o benefício do silêncio.

Antes que ela consiga dizimar qualquer esperança que eu tenha, volto para minha cadeira. Fecho os olhos, mas não durmo até ter certeza que ela adormeceu de novo.

                                                                 ★★★★★★★★★

Laura é levada para a cirurgia logo cedo. E passa por ela sem problemas. Mas fica os dias seguintes  sonolenta e distante. 

Na verdade o sono dela está mais agitado desde a última noite. Apenas cochilos e não um sono completo. Por que agora ela parece ter pesadelos toda vez que fecha os olhos. 

Não consigo ficar tranquilo. Assim que vejo a agitação dela,me aproximo. Minha vontade é abraçá-la, mas não intervenho sempre. Laura também precisa enfrentar seus demônios. tirar dela a chance de lutar suas próprias batalhas, não vai ajudá-la.

Mas fico perto. E a acordo se for preciso.

Outro padrão logo aparece. Ela tem medo dos homens que se aproximam. Até mesmo dos médicos e enfermeiros. 

Pensei ter imaginado na primeira vez. Mas na segunda vez que ela se esquivou de um médico eu percebi o desconforto dela. Ela esfrega as mãos, parece se encolher.

Conversei com Daniel e ele acha normal. Por um tempo é natural o receio dela. 

Isso me incomoda. Preciso ser muito sutil ao me aproximar para qualquer coisa.  Passo mais tempo trabalhando e tentando dar espaço a ela. 

Laura parece ter aceitado que não vou ir a lugar nenhum até que ela saia daqui. Cada dia a mais nesse lugar parece me drenar um ano de vida.

Ô inferno que é ficar em um hospital sem estar doente!

Acabo descontando meu mau humor em todos que cruzam meu caminho. Em pouco tempo fico sem meus mousses, sem travesseiros extra...e logo percebo que estou sendo punido por estar sem paciência.

Laura e eu estamos em sintonia nisso. Os dois de mau humor e entediados. Eu ainda pra completar atolado de trabalho. Passo a tarde no computar enquanto ela assiste algo na pequena televisão na parede.

O vai e vem no corredor é constante, quase ininterrupto. Mas percebo algo fora do normal e vou até a porta ver.



Aiai....ogrinho mais impaciente que esse ta pra nascer...não é???

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Quando Fechei Meus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora