Capítulo 19 - Provérbios 18:21

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19


AVA


Escorregou na grama molhada quando seus pés parraram de correr; o desequilíbrio repentino a fazendo chutar pedaços de terra até que se arrastasse até a árvore mais próxima, batendo as costas com força no tronco e escolhendo as pernas ao máximo. Aproveitou do momento para limpas as mãos e secar o cabo da espada de divinium que segurava como se sua vida dependesse daquilo. Tentou ao máximo acalmar a respiração que, de tão forte, fazia um barulho que ela não gostaria de fazer, inclusive deixando fumaças de ar quente pelo ar congelante que facilmente denunciariam sua posição. Preferiu ficar de frente para a árvore, apoiando a testa nas lascas soltas e sentindo aquilo a incomodar, mas aquela posição era mais propicia para esconder o brilho que emanava da espada.

Os olhos castanhos se abriram com rapidez quando escutou um galho se quebrar, mas não quis pensar que tinha sido achada. Não seria negativa. Suas pálpebras se fecharam conforme ela se lembrava dos ensinamentos de Lilith e focava apenas em sua percepção, apurando os sentidos de seu corpo. Podia sentir o cheiro da terra úmida e da madeira desgastada a sua frente, sentia o gosto salgado do suor que escorria de sua testa e tocava os lábios, percebia o cabo metálico e gelado da espada esquentar por conta de todos os apertos nervosos e, por fim, podia claramente escutar as folhas caídas das árvores se afastarem pelo solo ao mesmo tempo em que eram empurradas por uma bota de couro. Não esperou que seu perseguidor aparecesse, apenas saiu de onde se escondia e cortou o ar com a espada. Alguns troncos se entortaram com a onda de energia, outros caíram, mas sua audição captou o baque oco das costas do homem contra um deles.

— Golpe baixo, Ava — a voz saiu abafada e seca.

E só então pode vê-lo. Lúcifer já estava se pé e alinhava o terno enquanto batia no tecido para tirar os resquícios de terra que tinham voado junto a seu golpe. Com uma expressão calma em seu rosto ele moveu os punhos no ar, retrucando o ataque da garota. Respirou fundo após desviar dificilmente das três rajadas de energia que foram enviadas contra si. Ainda era impressionante para ela que tivessem poderes similares, mesmo tendo consciência de que ele já fora um anjo e, bom, suas habilidades eram provenientes de uma auréola de um.

Mesmo que os movimentos com a espada fossem mais forte e perfeitamente direcionados, eles eram lentos comparados aos golpes certeiros e arredondados de Lúcifer. Tal constatação a fez largar a arma, unindo-se ao anjo caído numa luta onde ambos usavam da mesma técnica. Era uma batalha quase silenciosa já que as ondas que saiam se seus membros eram similares a ventos fortes, só que mais precisos. Ava podia jurar que se não fosse o leve tilintar áspero e vibrante, parecido com o som de pequenos raios elétricos, ela com certeza se imaginaria no mundo de Avatar onde ela e Lúcifer seriam dobradores de ar. Lúcifer certamente era um Mestre e ela não passava de uma aprendiz, o que tornava aquela luta assustadora para si. Tudo era tão similar ao desenho animado, a pagã podia até mesmo sentir os arrepios na pele a alertarem da proximidade dos golpes do homem, ajudando-a a desviar deles.

— Peguei você — de início, ela não entendeu o sorriso presunçoso que ele carregava nos lábios, nem mesmo a posição em que se encontrava; os joelhos dobrados, as mãos abertas com os dedos juntos enquanto apontava para o chão. Ao olhar para baixo ela viu o que pareciam chicotes de ar fazerem seu caminho por entre as gramíneas no chão. Era rápido e ela nem conseguiu se mover antes dos chicotes agarrarem seus tornozelos. Seus olhos se levantaram em surpresa, voltando a encarar a expressão divertida no rosto de Lúcifer. Ele piscou um dos olhos, fechando as mãos em punho e, puxando os cotovelos para trás, ela sentiu os pés saírem do chão, perdendo o ar quando suas costas bateram no solo; alguns galhos finos e sorrateiros perfurando sua pele.

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