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BEATRICE
Não sabia dizer se as garotas a sua volta na mesa não tinham dormido direito, ou apenas estavam nervosas com que teriam que fazer durante o dia. Camila tinha o seu inseparável tablet posto logo ao lado do prato, ela lia algo em algum aplicativo social, mas Beatrice notava sua mão livre inquieta sobre a mesa; os dedos batucando incansavelmente na superfície de madeira, assim como a perna que tremia e a fazia notar o singelo balançar da cadeira da freira.
Lilith aparentava estar calma. A aparência tranquila dela deixava Beatrice aflita por simplesmente saber que a garota não era assim; quando viviam juntas no Berço do Gato, mesmo antes das missões, Lilith sempre estava disposta a dar alguma confiança para o time, mas, naquele momento, sua postura paralisada – olhando para o exterior através da porta de vidro – estava a assustando.
Somente Ava e Mary estavam num estado mais aceitável. A pagã não aparentava ter sido afetada pelo vinho que bebeu na noite anterior; ela suspeitava que as propriedades de cura do Halo tinham ajudado nisso. Ava conversava baixinho com guerreira de tranças, o assunto parecia importante, mas ao mesmo tempo banal. Mary se mantinha calada, apenas escutando tudo que a garota do seu lado tinha para falar. Beatrice gostava do detalhe na personalidade da negra em parecer desinteressada no assunto, mas no fundo ela estava prestando atenção e considerava tudo que era dito.
A inglesa não estava se importando em manter seus olhos atentos em Ava. Sabia que nenhuma das garotas estava concentrada no que fazia; na forma que só mexia os talheres sob a omelete, dando uma falsa visão de que estava comendo, ou na forma em que seus olhos se mexiam frenéticos em acompanhar os movimentos de Ava. Por vezes a pagã lhe encarava também, se surpreendendo por não ter uma Beatrice nervosa que desviaria seu olhar em segundos, mas uma Beatrice que, ao ser flagrada pela dona de olhos brincalhões, apenas se inclinava um pouco sobre a mesa e erguia o canto esquerdo dos lábios em direção à portadora do Halo.
A verdade é que sua cabeça estava tão cheia de informações; sentia-se como uma densa floresta onde não conseguia achar a luz do sol para guiá-la para longe de todas as vinhas que eram seus problemas. Gostava de colocar dessa forma porque, aparentemente, Ava era todos os eventos naturais que interferiam na floresta. Era a chuva torrencial que alagava todo o solo, regando toda a flora. Era o vento que afastava as folhas das copas das árvores para a entrada do sol, o que ela também era. Um sol quente e acolhedor, que chegava para trazer alguma luz para a floresta escura e alimentar as plantas e flores para que elas crescessem e, assim, mais problemas fossem criados dentro de si.
Quando acordou e se soltou da mão de Ava que esteve tocando a sua durante toda a noite, ela saiu do quarto, mas não sem antes desligar o aquecedor já que o dia tinha amanhecido quente, dessa forma, o quarto já estava começando a ficar abafado. Desceu as escadas e no corredor até a cozinha viu a pequena depressão na parede. Lá havia um singelo altar; a cruz com Jesus preso a ela, uma vela apagada, algumas imagens de santos e santas estavam posicionadas ao fundo de forma organizada e, por fim, um pequeno recipiente de metal coberto quase totalmente por um tecido fino e branco tomava o centro em frente a cruz. Reconhecia aquela delicada peça e sabia o que tinha em seu interior.
Apenas se ajoelhou no piso de mármore, apoiando os antebraços na superfície de gesso do altar, juntando as mãos em frente ao rosto. Sentia seu peito se apertar ao se dar conta de a quando tempo não fazia uma pausa apenas para rezar. Pediu perdão por não ter se importado com seus deveres religiosos durante todo período em que ficou naquele cháteau. Em frente a Jesus Eucarístico ela chorou e pediu que o Senhor a guiasse na loucura que sua vida tinha se tornado, confessou seus sentimentos confusos de forma indireta, afinal, as reais palavras entaladas em sua garganta, nunca confiantes o suficiente para serem ditas em voz alta, travando muitas vezes até mesmo em seus pensamentos.
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You know I do - Avatrice
FanfictionApós o desastre no Vaticano, as irmãs guerreiras são aterrorizadas pelas consequências. Adriel e o Padre Vincent fugiram, e a Ordem da Espada Cruciforme suspeita que eles demorarão a realizar um outro ataque devido a situação atual da Igreja. É o mo...