Capítulo 3 - Provérbios 10:12

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AVA


Sabia que devia estar prestando atenção em Camila. A jovem tinha se disponibilizado para passar todas as anotações que seu time tinha feito sobre o livro para ela. Entretanto, suas pálpebras pesavam a todo momento e ela tentava achar distrações que não a fizessem afundar a cabeça entre os braços para dormir. Olhava para a janela, observando as casas menores próximas ao convento, encarava as prateleiras repletas de livros. Sempre voltando-se para Camila após cada percepção. Embora não soubesse do que ela falava, podia notar seu entusiasmo com o que estava explicando. Por essa razão, Ava manteve os olhos atentos e reverentes para que a outra não se sentisse desanimada ou ignorada; Camila era quase um anjo na Terra e ela já estava se sentindo uma pessoa terrível por não conseguir se concentrar nas palavras da garota.

Não tinha conversado com as meninas ainda sobre o que estava passando, mas sabia que devia. Não era justo que elas se desdobrassem para ajudá-la e que, mesmo assim, Ava não prestasse atenção. Beatrice tinha sido a primeira a notar que ela estava mais calada e se deixando levar uma surra durante os treinos. Ela conseguiu inventar a desculpa de que, com os eventos do Vaticano, o Halo estava demorando para recarregar e por isso ela se sentia esgotada, mas é claro que Beatrice não acreditou, ela viu isso na expressão franzida e claramente chateada da irmã guerreira.

A verdade é que toda vez que fechava seus olhos para se entregar ao cansaço ela se via viajando para um outro plano; era azul e cinzento igual a cripta onde Adriel ficou preso por tantos anos. E então ela o via e, em todas as vezes, ele a perfurava com a mão, arrastando-a por entre seus órgãos para alcançar o Halo. Ela sentia tudo e, por isso, preferia se mantar acordada para não sentir novamente.

- Ava? – ergueu a cabeça para Camila, que tinha seu corriqueiro sorriso infantil. – Já está na hora do seu treino com Beatrice, não é?

Girou-se na cadeira para fitar o relógio na parede atrás de si, constatando que não estava apenas na hora, mas que também estava atrasada.

- Merda – ela se levantou com pressa, batendo os joelhos na mesa e desajeitando todos os livros e papeis que estavam nela.

- Linguagem! – a irmã gritou.

Apertando os olhos, ela girou em seus calcanhares, voltando até a biblioteca e se apoiando no batente da porta dupla apenas para gritar um rápido pedido de desculpas, regressando à sua corrida pelos corredores em seguida.

Teve que esconder um pouco os olhos ao chegar ao jardim posterior devido à luz do sol das seis da tarde. Respirou fundo, recuperando o ar da corrida e finalmente focou em uma Beatrice entediada.

- Desculpa pelo atraso – disse ao se aproximar.

A inglesa estava apoiada em um bastão sobre o gramando, enquanto outro descansava embaixo de seu braço. Ótimo, tudo que eu quero agora são mais alguns roxos pelo meu corpo, ela pensou. Beatrice nada disse ao entregar o objeto de madeira para ela, dando um passo para trás e desferindo um golpe na mão dela, que deixou o bastão cair no chão.

- Porra – ralhou. – O que foi isso? – perguntou.

- Você está escondendo algo e não vai sair daqui enquanto não disser o que é.

Ava arqueou as sobrancelhas chocada com a atitude. Tomou novamente a arma branca para si, afastando-se poucos passos da garota.

- Eu já disse que apenas estou cansada.

Beatrice avançou, o golpe sendo bloqueado por Ava, que girou o braço para contra-atacar. Porém, a guerreira foi mais rápida ao desviar e atingir o braço direito dela.

You know I do - AvatriceOnde histórias criam vida. Descubra agora