Capítulo 21 - João 15:13

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BEATRICE


Ninguém tem amor maior do que este: de dar a alguém a sua vida pelos amigos - João 15:13


A Église Notre-Dame d'Espérance tinha uma aparência claramente antiga. Tinha paredes de pedra, uma porta de entrada dupla, mas ainda assim pequena, de madeira escura; havia varias fitas brancas e vermelhas coladas nela, juntamente com uma placa de plástico que, resumindo todo o texto em francês, dizia para que a população não ultrapassasse as fitas, pois o local estava fechado por ordem estatais e religiosas. Olhando para o topo da única torre que ficava ao lado esquerdo da igreja, um relógio ainda funcionava e marcava as 22:41 daquele dia.

Estavam ali a muito tempo, observando o local e avaliando as casas e seus residentes. O bairro possuía ruas estreitas e com residências tipicamente com a mesma aparecia da igreja. Os moradores daquela região eram em sua maioria idosos e usavam roupas claras, combinando com o ambiente provecto. Isso, infelizmente, destacava as guerreiras que usavam preto da cabeça aos pés, mas não chegavam a chamar atenção por conta da túnica – também preta – que vestiam; as inúmeras armas escondidas por baixo do tecido. Apesar de todos os detalhes que as denunciava, havia uma praça pequena em frente a igreja. Não tinham bancos, ou espaços verdes, era apenas um espaço vazio com uma parede no final, que na verdade era um ponto de observação do bairro, já que haviam escadas por ambas as laterais da parede, ali elas se escondiam da vista das outras casas que, por sorte, ficavam nas ladeiras abaixo dali.

Ele certamente está aí. Estou sentindo uma energia ruim Camila sussurrou perto de si.

Mary tomou a frente ao arrancar as fitas da porta, puxando a placa com uma força a mais. Por fim, um chute não foi necessário para romper as trancas. Foi necessário que Lilith usasse suas garras e sua força sobre-humana para rasgar os cadeados e empurrar as portas para que as trancas internas se estilhaçassem.

O interior as assustou. Adriel estava sentado na cadeira central do presbitério, onde o Padre costuma sentar, mas ele não estava sozinho. Os bancos da igreja estavam tomados por pessoas aleatórias que se portavam com uma postura ereta, mãos em cima das coxas; paralisados. Estavam todos de olhos fechados como que realmente estivessem celebrando uma missa, mas em um momento de oração. O lugar estava um completo caos. As cadeiras ao lado de Adriel, onde os coroinhas e cerimoniários se sentavam, estavam repletas de papeis manchados de o que parecia ser sangue, outras tinham caixas com latas de ração canina e ela se recusou a pensar que era com aquilo que Adriel estava alimentando aquelas pessoas. No altar, diversas garrafas de vinho literalmente sujavam a superfície, aparentemente Adriel não sabia abrir uma garrafa sem quebrar o gargalo, por isso o cheiro de álcool era forte e não combinava nem um pouco com o cheiro de canil vindo das rações.

Vincent apareceu logo depois, surgindo pela abertura na parede atras do presbitério, onde ficavam os itens utilizados nas missas. O fato dele carregar Jillian por uma corrente que prendia os braços da mulher quase a fez avançar para intervir, mas o olhar assassino de Adriel a parou. Vincent a puxou; o tilintar do metal ecoando pelo ambiente silencioso, e a forçou pelos ombros para se sentar no chão ao lado da cadeira principal, colocando-a como um, literalmente, animal de estimação ao entregar a correia para o "dono". O Padre se afastou após deixar as correntes com seu mestre e se curvou diante do altar, mas não para a imagem de Jesus Crucificado que ainda estava pendurada ali, mas para Adriel, que sorriu perante a lealdade de seu servo.

You know I do - AvatriceOnde histórias criam vida. Descubra agora