Capítulo 9 - Isaías 43:26

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9


BEATRICE


A primeira noite tinha sido difícil para ela. Sentia-se acostumada com todo o barulho das ruas; pessoas que festejavam e motores de veículos. O som do sino da Igreja que estava sempre pronto para soar antes das missas e as 6h, 12h e 18h. Tinha sido um completo martírio dormir sob o mais fino silêncio com seus toques de calmaria, como as folhas das copas das árvores se movendo, o leve barulho do sino de ventos que ficava pendurado na varanda posterior da casa. Em certo ponto da madrugada, ela conseguiu fechar os olhos e se entregar ao sono após a cansativa viagem até a França.

Quando acordou, o quarto estava razoavelmente escuro, já que as cortinas de tons claros não impediam que todos os raios solares fossem barrados por elas. Surpreendeu-se, arregalando os olhos, ao observar o horário no despertador. Beatrice nunca tinha se permitido dormir tanto em toda sua vida. Ainda atordoada, ela se dirigiu para o banheiro, rezando para que um banho quente acalmasse os nervos que seu longo sono não conseguiu.

Em sua caminhada pelo cháteau, não conseguiu encontrar ninguém. O ambiente estava quieto e somente o som dos seus sapatos em contato com o mármore ecoava por ele. Ao chegar na cozinha, a inglesa soltou uma sutil risada ao ver Camila com seu inseparável tablet apoiado no balcão. A pequena freira estava vestida em roupas esportivas; os fios de cabelo grudados em sua testa evidenciavam que ela tinha acabado de sair de um treino. Camila usava fones de ouvidos e balançava minimamente o corpo com a música que saia dele.

- Mila? – tentou chamá-la, mas a garota estava muito focada no que estava fazendo.

Beatrice apenas negou com a cabeça enquanto continuava rindo, dando de ombros e indo até a pequena mesa redonda que tinha no cômodo, onde o café da manhã ainda estava posto. A inglesa comeu com os olhos no pequeno show que Camila estava proporcionando a ela sem ao menos saber.

A freira ergueu a cabeça para cantar uma nota mais alta, assustando-se com a expressão divertida que ela mantinha.

- Bea! – ela puxou os fios do fone, arrancando-os do ouvido. – A quanto tempo você está aí?

- Tempo suficiente para lhe aconselhar a entrar num coral.

Os olhos de Camila brilharam. – Você acha que eu consigo?

Beatrice engoliu em seco ao perceber o que tinha feito.

- Eu, ahm... – limpou a garganta. – Se for isso que você deseja, acho que sim... – franziu a testa ao soar quase como uma pergunta.

- Obrigada – a irmã enrolou o cabo junto ao tablet para caminhar para fora da cozinha. – Ava está na antiga adega da plantação com Lilith – disse antes de sair.

- Ok...?

Ficou olhando para o corredor onde Camila tinha sumido, sem entender o motivo da garota ter lhe dado aquela informação. Apenas balançou a cabeça, voltando a tomar mais um gole de seu café antes de recolher as louças que tinha usado e lavá-las. Caminhou novamente pela casa vazia, saindo pela porta dos fundos.

A vinícola não funcionava a anos e a enorme residência era usada como uma casa de campo para uma colônia de férias, por isso seu dono a tinha decorado como tal. Nos fundos, uma grande piscina estava protegida por uma lona, haviam alguns brinquedos infantis mais à esquerda do quintal e a uns bons metros a frente das áreas de lazer, uma plantação morta se estendia por alguns hectares.

Era quase no meio do vinhedo que havia uma construção de madeira. A tal adega tinha o tamanho mediano, até porque não era a única da vinícola. Ao se aproximar, um sorriso brotou em seu rosto ao escutar um grito seguido por um xingamento. Ava caiu aos seus pés no exato minuto em que ela abriu a porta, encarando a inglesa de um ângulo invertido.

You know I do - AvatriceOnde histórias criam vida. Descubra agora