Dias atuais, terceiro ano. (I)

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"Então nos apaixonamos. Então nos despedaçamos" - what if this is all the love you ever get?, Snow Patrol.

Acordei esparramada na cama, olhando em volta me senti aliviada por estar no meu quarto, em plena segurança, havia sonhado com ele novamente e aquilo me perturbava de tal forma que estava suando e com o coração ainda disparado, não era justo sentir essas coisas, não era justo sofrer os mesmo transtornos há tanto tempo.

Levantei-me me obrigando a ignorar esses pensamentos, mas era uma tarefa difícil, ultimamente estava pensando muito nele e queria apenas que minha mente me explicasse o porquê.

Fui direto ao banheiro tentando inutilmente fugir de mim mesma, um banho quente como todos devem saber é a pior coisa, quando sua mente está infestada de pensamentos, o que as pessoas mais fazem no banho é pensar e eu não fujo disso, por mais que eu queira.

Eu tentei não demorar no banho, pois era meu primeiro dia de aula do terceiro ano e tudo o que eu queria é que esse ano corresse o mais rápido possível e sem nenhum percalço no caminho para que eu pudesse ir para a faculdade e viver esse sonho jovem como qualquer outra pessoa.

Assim que me arrumei, desci as escadas para comer alguma coisa, meu pai não estava a vista, acreditava que ele já havia saído para o trabalho e agradecia por isso, porque apesar de ser meu pai, ele as vezes me causava arrepios. Era um homem fechado, você nunca conseguiria prever qual seria a reação dele a nada. Desde que minha mãe o havia deixado há uns cinco anos atrás, quando não estava trabalhando como parasita em uma empresa multinacional, ele estava em algum bar ou cassino gastando seu dinheiro, e por mais que a situação de morar com ele fosse desagradável não era pior do que o novo namorado da minha mãe, acredite, pior do que morar com um pai que não ligava muito para mim era morar com um padrasto que ligava demais, se é que podem me entender.

De café da manhã, comi nada mais que uma maça, já havia me acostumado a isso e por mais que fosse tentador aceitar a proposta de meu pai de contratar uma empregada para nos ajudar eu não gostava de aceitar certas mordomias desnecessárias, eu podia fazer meu próprio café da manhã, se eu tivesse tempo, mas não tinha, então peguei a maça e sai de casa para mais um maravilhoso e horrível ano do ensino médio.

Na verdade eu não tinha muita coisa a reclamar do ensino médio em si, só mesmo um fato, um fato que tinha mudado muito as coisas, para pior, mas também para melhor. Basicamente nunca havia me dado bem nas outras escolas por onde havia passado, mas quando decidi morar com meu pai quando tinha quatorze anos as coisas mudaram um pouco, entrei em uma boa escola e conheci pessoas que me acolheram de braços abertos, fiz algumas amizades importantes como com Olivia e com Matheus, e tive momentos importantes, até eu me apaixonar. 

Havia um garoto na minha sala, que era realmente bonito, mas distante, parecia algo inalcançável pra mim e isso me deixava ainda mais apaixonada. No começo eu gostava apenas de sentir, de sonhar que poderíamos ser alguma coisa futuramente, entretanto com o tempo as coisas mudaram dentro de mim. No meio do primeiro ano eu já me encontrava completamente perdida, falava tanto dele para Olivia que ela já nem aguentava mais, pela primeira vez havia me apoiado a ir conversar com ele, porem minha timidez nunca me deixava fazer isso.

Eu já o observava há muito tempo, sempre que alguém se aproximava ele era ríspido, principalmente com garotas, mas eu o entendia.Já havia escutado sua história, seu melhor amigo havia falecido no ano anterior, na verdade havia se suicidado e desde então ele mudou muito. Olivia dizia que ele era muito extrovertido, conversava com todo mundo, costumava namorar garotas bonitas, mas depois que Lucca morreu ele havia se fechado e entrado em um mundo de onde não podia sair.

Eu queria ser diferente para ele, não gostava da ideia de ser tratada como mais uma garota que quisesse se aproximar, por mais que fosse exatamente essa a situação. Eu só queria encontrar um jeito de tentar ajuda-lo de fazer ele enxergar que por mais que venha sofrendo, o mundo nem sempre é um inferno, ainda mais naquele lugar, uma escola com ótima estrutura, ótimos professores e ótimos alunos, tudo o que o dinheiro podia pagar. Ele precisava voltar a se abrir e eu queria ser a pessoa especial que fosse capaz de fazer isso, mas era uma utopia longe da realidade até o dia que nos falamos pela primeira vez.

Não me abandoneOnde histórias criam vida. Descubra agora