Dias atuais, terceiro ano. (III)

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Acordei com um incomodo calor invadindo o quarto, era uma manhã de março extremamente calorosa como todos os dias vinham sendo, além do calor outra coisa incomoda era a rapidez em que os dias passavam, parecia que haviam decidido correr em disparada em direção ao holocausto que seria minha vida no próximo ano. Apesar de me sentir aliviada por finalmente finalizar essa etapa maluca da minha vida, ainda havia um medo que surgia do nada e me desesperava como se eu estivesse caminhando a passos largos em direção ao precipício, realmente era mais ou menos isso, eu não sabia o que seria de mim depois de cruzar a linha de chegada, o que é que tinha do outro lado? Até esse momento da minha vida, estava sendo empurrada com a barriga pelas minhas obrigações, mas depois disso seriam minhas decisões que me definiriam, definiriam minha vida e não sabia ao certo se estava preparada para isso.

Olhando o relógio percebi que ainda era cedo, mas como seria impossível voltar a dormir nesse calor, me levantei e fui tomar um banho para despertar. Depois de me arrumar desci as escadas animada, teria tempo o bastante para preparar algo para comer, pela primeira vez.

Eu nunca havia sido uma maravilha de cozinheira então o máximo que consegui foi ovos mexidos, algumas torradas e mais um café da cafeteira, comi tranquilamente pensando na escola, era considerada uma das melhores alunas da sala agora, afinal havia enfiado a cabeça nos livros pra esquecer meus dramas e se não fossem me render uma alegria contagiante pelo menos poderiam me render à entrada em uma boa faculdade.

Quando finalmente terminei de comer, fui em direção ao banheiro novamente para escovar os dentes, encontrei meu pai descendo as escadas o que raramente acontecia ou ele saia muito cedo ou acordava muito tarde.

- Bom dia, pai - disse passando por ele rapidamente.

- Bom dia, Melanie - Respondeu polidamente - podemos conversar antes de ir pra escola?

- Claro - respondi meio insegura, fui pega de surpresa - já desço, vou apenas escovar os dentes.

Afirmou com a cabeça enquanto descia o resto dos degraus, minha mente se encheu de possíveis motivos para essa conversa e nenhum deles era no mínimo plausível.

Quando voltei para cozinha ele estava sentado a mesa fitando a parede enquanto bebia seu café.

- O que quer falar pai? - Perguntei capturando sua atenção.

- Bom, eu conversei com sua mãe ontem, ela me pediu pra falar com você sobre o que vai fazer depois que terminar a escola - Disse deixando sua xícara de lado.

- Eu não sei direito - Disse me encostando à bancada - Pretendo ir para faculdade, mas isso vai depender das minhas notas.

Afirmou lentamente com a cabeça parecendo pensativo.

- Era sobre isso que eu gostaria de falar, faculdade custa caro e isso foi a primeira coisa que eu pensei quando você nasceu - Disse com um meio sorriso e uma fisionomia nostálgica - Apesar de todas as dificuldades que eu enfrentei com sua mãe Melanie, sempre pensei em você e talvez eu não seja um bom pai, o pai que você merecia, mas eu sou o seu pai e me preocupo, sempre me preocupei - Disse me olhando nos olhos e parecia sincero - Há muito tempo comecei uma poupança pra você, filha, pensei no seu futuro e sabia que não seria como sua mãe, você vai ser alguém na vida e tem um bom dinheiro pra te ajudar nisso.

- Serio? - Disse meio neurótica, ele confirmou com a cabeça novamente serio - Isso é maravilhoso - Estava quase saltitando e me questionava se ele se incomodaria com um abraço - Obrigado pai, não sei como agradecer.

- Não precisa agradecer Mel, só prometa que vai ser alguém melhor tudo bem? Melhor do que sua mãe e melhor do que eu.

- Tudo bem - Disse sorrindo - Obrigado de novo pai, mas agora eu tenho que ir, se não vou me atrasar - Sem pensar muito depositei um beijo estranho de tchau em sua bochecha.

Ainda um pouco incrédula caminhei rapidamente para a escola, assim que cheguei, como sempre fui direto para a cafeteria, apenas me sentei em uma mesa com o romance que estava lendo para esperar o sinal bater.

- Um longo amor - Uma voz conhecida me surpreendeu instantes depois anunciando o titulo do meu livro.

Matt se sentou na minha frente com um sorriso.

- É bom? - Perguntou apontando para o livro.

- Não sei direito ainda, mas parece que sim - Respondi deixando o livro de lado, não conversava com Matt desde um bom tempo - Como você está Matt?

- Eu vou indo bem até - Disse tranquilo - E você Mel? Anda tão quieta, tão concentra nos seus livros.

- Eu estou muito bem, estou mesmo tentando me concentrar nos estudos sabe, esse ano é o grande ano.

- É - Disse Matt - O grande ano, é só pra se concentrar nos estudos mesmo ou tem outros motivos pra você estar assim?

Não sabia bem o que Matt queria dizer com "assim", afinal, nunca havia sido uma garota extrovertida nem nada assim.

- Ajuda a distrair também, das outras coisas - Disse esperando que ele entendesse e pareceu ter entendido.

- Sei bem como é - Disse me olhando nos olhos - fugir do drama as vezes é a melhor coisa.

Confirmei com a cabeça tentando entender porque Matt estava voltando a falar comigo tão de repente.

- E você está conseguindo fugir dos seus dramas Matt? - Perguntei depois de um instante.

Ele riu irônico.

- Não - Balançou a cabeça parecendo sofrido, mas divertido - Afinal, estou sentado bem em frente ao maior drama.

- E por quê? - Não pude evitar perguntar.

- Porque às vezes não adianta fugir - Disse encarando a mesa - Às vezes o drama volta ou nunca vai embora.

- Eu sei - Disse tentando não pensar no meu drama.

- Eu só queria voltar a falar com você Mel, não quero ir embora sem nem poder me despedir de você sabe, esse é nosso ultimo ano e independente das coisas que aconteceram ano passado, você ainda é a Melanie que eu gosto - Disse olhando meus olhos - Eu prometi pra você que seriamos amigos acima de qualquer coisa e me desculpe por demorar tanto pra cumprir isso.

- Tudo bem Matt, é bom saber que você ainda tá aqui, é muito bom poder falar contigo - Disse sorrindo e logo após isso o sinal bateu, Matt e eu fomos pra sala lado a lado como os velhos amigos que éramos.

Não me abandoneOnde histórias criam vida. Descubra agora