Segundo ano, Ensino médio. (Depois das férias de verão) (III)

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Depois de me aconchegar novamente na cama sobre seu peito, Peterson e eu caímos novamente no sono, talvez fosse a única coisa que nos acalmaria agora.

Ele soube exatamente o que dizer e fazer pra me fazer sentir melhor, mas ainda era quase impossível suportar as lembranças. E mesmo tentando me ajudar sabia que Peterson estava perdendo a cabeça, dizendo que Ronald não podia se safar dessa, ameaçando caça-lo com suas próprias mãos, como se isso fosse mudar o que tinha acontecido.

Quando já era noite, nós dois despertamos ainda meio letárgicos.

- É melhor você ir Peet, seu pai vai ficar preocupado.

- Não vou a lugar nenhum - Disse me analisando - Não vou deixar você aqui sozinha.

- Não pode me fazer companhia o tempo todo, seu pai vai se preocupar e o meu volta em alguns dias.

- Eu posso ligar para o meu pai, ele vai entender.

- Não quero que conte pra ninguém Peet - Disse me sentando ao seu lado - Ninguém pode saber.

- Mel - Disse capturando minha atenção - Não acha que devia ir a policia?

Eu entrei em colapso só de imaginar ter que passar por milhares de exames e todos saberiam o que aconteceu.

- De jeito nenhum Peterson - Disse já com lagrimas caindo novamente - Não quero que ninguém saiba, ninguém, entendeu?

- Mas Mel, pensa bem - insistiu - É um cara perigoso que vive com sua mãe.

As lagrimas se tornaram mais fortes em pensar no que poderia acontecer a ela, mas eu não era forte o bastante para fazer isso, não era forte o bastante para protegê-la.

- Shh - Disse me aconchegando novamente - Tudo bem Mel, não precisa fazer nada, estou aqui com você e se não quiser não precisa fazer nada, Eu te amo.

- Também te amo Peterson - Disse me desviando de seu abraço - Mas você tem que me prometer, que não vai contar nada pra ninguém, e que não vai nem pensar em se aproximar dele Peterson.

Sua face ficou sombria instantaneamente.

- Não pode me pedir isso - Disse duro.

- Posso sim - Disse firmemente - Não vai fazer bem nenhum a nenhum de nós, essa sua ideia de vingança Peet.

- Vai fazer muito bem a mim - Disse ainda duro, com uma voz sombria.

- Mas não a mim - Disse chorosa de novo - Preciso de você Peet, preciso que fique comigo e cuide de mim, preciso que pense no que é bom pra mim agora, tudo bem?

Ele me analisou com lagrimas nos olhos.

- Tudo bem - Disse assim que sua primeira lagrima rolou.

- Promete? - Pedi docemente.

- Prometo - Disse ainda um pouco receoso.

Nos abraçando forte e nos aconchegamos debaixo do cobertor, ainda podia sentir os soluços baixos em seu peito e as lagrimas descendo em seu queixo, me agarrei a ele como a ultima esperança de que as coisas ficassem bem, ele era literalmente o único que podia me salvar.

Não queria dormir, mas mesmo depois de dormir tanto eu ainda tinha sono, não tinha fome, nem sede, apenas sono. Depois de alguns minutos Peterson desceu para beber água, comer alguma coisa e ligar para seu pai. Ele demorou muito lá embaixo, tanto que eu adormeci completamente antes que ele pudesse voltar.

Quando acordei a luz do sol entrava fraca pela janela ultrapassando a cortina de renda, estava sozinha na cama e não havia mais nenhum vestígio de Peterson ali, senti um pânico tomar conta de mim, talvez ele tivesse desistido, talvez não conseguisse suportar o peso daquilo. As lagrimas já inundável meu rosto quando peguei meu celular para constatar que havia uma mensagem dele ali.

"Achei melhor voltar pra casa essa manhã" "Não pense nada errado Mel, Eu te amo e sempre estarei com você, mesmo quando não estiver"

Eu sempre estarei com você, mesmo quando não estiver

Senti que me lembraria dessas palavras por muito tempo e mesmo com todo aquele peso nas costas me sentia leve agora, como se pudesse chorar e respirar sem nenhuma preocupação.

Me deitei novamente na cama tentando não pensar em nada, apenas deixar o tempo passar rapidamente, quando ouvi um som vindo do andar de baixo, meu sangue congelou nas veias e meu coração disparou, mesmo com medo me obriguei a levantar e descer as escadas lentamente. Não havia nada na ampla sala e então o barulho se repetiu seguido de uma voz.

- Puta Merda! - Consegui respirar finalmente quando reconheci a voz do meu pai.

Entrei na cozinha de onde vinha a voz e vi meu pai todo relaxado com uma garrafa de vodka na mão.

- Pai? - Chamei baixinho.

Ele se virou bruscamente, parecia estar muito bêbedo.

- Melanie - Disse com a voz embriagada.

- Quando chegou? - Perguntei curiosa e ainda um pouco amedrontada.

- Ontem à noite - Disse meio lesado.

- Ontem à noite? - Perguntei estupefata, Peterson estava aqui ontem à noite.

- É filha - cuspiu as palavras bravo - Cheguei a tempo de ver a orgia que estava rolando no seu quarto - Disse desdenhoso gesticulando com as mãos pro alto.

- Pai eu... - Meu coração estava disparado e eu estava preparada pra pior reação possível.

- Que pai que nada - Interrompeu mais raivoso ainda - Primeiro você tem o disparate de desobedecer aquele que você chama de pai, sai com aquele playboyzinho idiota, tem a coragem de apresenta-lo como namorado e agora trás o lixozinho pra dentro da minha casa? Você não é minha filha! É igualzinha sua mãe!

Eu não consegui dizer nada, não tive coragem e nem vontade de dizer, ele estava certo em estar bravo e eu não iria discutir com ele bêbedo.

- Me desculpa Pai - Disse sentindo as lagrimas rolaram na minha bochecha.

Ele pareceu surpreso, até se inclinou mais para frente para tentar enxergar se eram realmente lagrimas o que via.

- Tanto faz! - Disse parecendo desistir da briga também.

Me senti pior ainda por ele realmente não se importar. Sai da cozinha o deixando sozinho com sua garrafa e voltei para o meu quarto me enfiando em baixo da coberta. Por isso Peterson foi embora, ele deve ter visto meu pai, pensei um pouco apreensiva.

Não me abandoneOnde histórias criam vida. Descubra agora