Não me abandone

Dias atuais, Terceiro ano (O Fim)

Despertei solenemente com o sol entrando pela janela do meu já tão familiar quarto, o relógio na cabeceira mostrava 6h02min da manhã e mesmo sendo tão cedo ainda, sabia que não conseguiria dormir. Levantei-me e fui até a escrivaninha de madeira antiga que já estava vazia a essa altura, a não ser pelo meu notebook novo que ganhei de formatura. O liguei me espreguiçando na cadeira giratória, meus olhos demoraram a se acostumar à luminosidade da manhã, mas meu corpo já estava desperto.

A tela se acendeu e a foto que estava de papel de parede era uma recente na qual eu, Ollie, Matt e Peet estávamos abraçados ainda de beca e capelo segurando nossos diplomas como prova de uma façanha e tanto. Um sorriso surgiu nos meus lábios inconscientemente, todos nós havíamos passado por muita coisa, juntos e separados, mas no fim, mesmo depois de tanto desentendimento estávamos juntos. Mesmo Matt e Peterson ainda não se darem bem, mesmo Olivia agindo feito louca como sempre, mesmo eu tendo contado tudo finalmente, mesmo assim ficamos juntos e nada mudou, na verdade, tudo mudou, mas do melhor jeito possível.

No começo não foi fácil, quando eu voltei pra casa trazendo minha mãe junto comigo tive que explicar, primeiro para o meu pai e depois para eles o que realmente havia acontecido e como tudo aquilo chegou aquele ponto. A reação de meu pai foi a pior possível, como eu já devia esperar, ele acusou minha mãe de negligencia e eles tiveram uma briga horrível, eu entendia seu ponto de vista, mas ela já se culpava o suficiente e no fim só existia mesmo um culpado nessa história, então eu supliquei ao meu pai que entendesse e observando o meu sofrimento ele compreendeu e até hoje também não deixa de se culpar. Por sua vez Olivia ficou histérica com minha confissão, não saia mais do meu lado por um segundo, sempre me dirigindo um olhar de pena, mas isso passou e há alguns dias atrás ela confessou que agora me via como a garota mais forte que já conhecera e isso me fez me sentir agradecida por tê-la como minha melhor amiga. Matt ficou em silencio por muito tempo quando eu o contei e achei que ele estava pensando no modo certo de agir comigo dali pra frente, mas era só um choque momentâneo, nada mudou entre nós depois daquilo, seu jeito fraternal e apaixonado era o mesmo, o que com toda certeza deixava Peterson bem incomodado, mas ele também parecia entender que o Matt era pra mim quase como um irmão.

Nós últimos dias eu tenho me sentido a pessoa mais sortuda do mundo, mesmo com todos os transtornos pelos quais havia passado, ainda conseguia sorrir e me sentir plenamente feliz. Olhei em torno do quarto que agora estava quase vazio, toda a minha vida estava nas caixas no corredor e hoje era o meu ultimo dia ali, três anos havia se passado, muito coisa havia acontecido e eu sabia que sentiria falta de cada centímetro daquele lugar. Hoje eu já dormiria em outra cama, em um quarto que eu provavelmente dividiria com outras duas garotas, na faculdade que eu escolhi e que me escolheu também. Eu faria letras como vinha almejando há um tempo e torcia para que fosse tudo o que sempre sonhei, Olivia não estaria comigo, sua escolha foi uma academia de artes dramáticas que ela mesmo trabalharia para pagar, já que seus pais não concordavam com a decisão, mas Matt estaria, mesmo cursando matérias diferentes estaríamos perto um do outro e isso já era o suficiente.

O único problema era mesmo Peterson, quilômetros de distancia nos separariam e tudo era piorado pelo seu ciúme por Matt estar por perto enquanto ele estivesse longe. Eu não queria deixa-lo e cheguei a cogitar seriamente em não ir para a faculdade para podermos ficar juntos, mas no fundo eu sabia que era a coisa errada a se fazer, nós nos amávamos e se isso fosse realmente verdadeiro daríamos um jeito e nada nem ninguém nos separaria mais. O medo de que tudo desse errado me acompanharia por qualquer lugar que eu fosse, mas eu já não podia me impedir de ir embora e sabia que Peterson também nunca me pediria para ficar.