Dias atuais, Terceiro ano. (XIII)

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Cheguei a rodoviária as dez da manhã e o ônibus sairia em uma hora, depois de comprar minha passagem fui à praça de alimentação comer alguma coisa.

Eu não tinha um plano, não tinha a minima ideia do que poderia fazer, saí de casa dizendo ao meu pai que iria visitar minha mãe e a única outra pessoa que sabia para onde iria era Olivia, quase contei tudo a ela, mas não quis a transtornar mais, decidi que contaria depois que estivesse tudo resolvido.

Iria embarcar naquele ônibus, checar se minha mãe estava bem e a convenceria a ir embora comigo, mesmo que eu precisasse lhe contar a verdade. Só estava rezando para encontra-la sozinha, se ela estivesse com ele não sabia o que poderia nos acontecer.

10:30. Paguei a conta na lanchonete e desci as escadas rolantes até o embarque. Busquei pela minha plataforma e meu coração já estava descompassado.

10:45. O ônibus entrou na plataforma e um medo surgiu no meu peito, medo de dar tudo errado, medo de ter que dizer a verdade para minha mãe, medo de não encontra-la, se algo acontecesse seria tudo culpa minha, eu havia sido covarde desde o início, então precisava arrumar coragem e concertar tudo que já havia estragado. A coragem me acertou como um turbilhão, segui pela plataforma em direção ao ônibus, faria aquilo que tinha que fazer, era minha última chance.

- Melanie! - Uma voz masculina surgiu atrás de mim, não precisava me virar para saber quem era, me virei apenas para ter certeza que não era uma ilusão.

Peterson corria em minha direção carregando uma mochila que parecia pesada.

- Melanie, graças a Deus! - Disse ofegante parando na minha frente - O que estava pensando? Vai voltar lá sozinha!?

- O que faz aqui? - Perguntei incrédula - Como soube?

- Obriguei a Olivia a me contar e eu vim te impedir, isso é loucura Melanie! - Parecia bravo, mas era eu quem devia estar.

- Você não sabe nada Peterson! - Gritei irritada - Não pode me impedir, preciso ajudar minha mãe.

- Aconteceu alguma coisa? - Perguntou preocupado - Eu posso te ajudar Mel.

- Me ajudar? - Algumas lágrimas amargas escapavam pelos meus olhos - Você só pode me machucar Peterson! Me machucou quando me fez me apaixonar por você, me machucou quando terminou comigo quando eu mais precisava e me machuca toda vez que volta com essa cara de arrependido.

Ficou em silêncio me encarando por um minuto.

- Me desculpe - Sussurrou com lágrimas nos olhos também - Nunca quis te magoar, mas não pode me mandar embora agora, não estava da última vez que aquele idiota encostou em você, mas vou estar dessa vez e vou mata-lo se tentar algo. 

- Não, não vai estar - Disse decidida - Vou fazer isso sozinha, não preciso de você, Peterson.

- Vai enfrentar aquele maníaco sozinha? - Ele me olhava nos olhos e transbordava preocupação genuína.

- Ele não vai estar lá - Disse rezando mesmo por isso - Vou convencer minha mãe de voltar comigo.

- E se ele estiver? - Perguntou preocupado.

- Eu não sei, vou dar um jeito - Olhei para o ônibus e para o grande relogio na plataforma, ele estava prestes a ir embora.

- Me deixa ir com você, Melanie - Segurou minha mãe e olhou nos meus olhos - Por precaução.

- Você não pode, precisa de uma passagem - Disse triunfante.

Ele deu um sorriso ainda mais triunfante e levantou em sua mão direita um papel impresso.

- Eu já tenho - Seu sorriso de lado me deixou ainda mais brava, mas não havia mais tempo para discussão, apenas embarcamos no ônibus que saiu imediatamente.

Me sentei perto da janela e encarei a cidade pelo vidro meio embaçado, algumas lagrimas ainda escapavam e imaginar o que me esperava não ajudava a relaxar.

- Hey - Peterson sussurrou perto do meu pescoço e segurou minha mão - Estou aqui por você.

Olhei em seus olhos e me senti um pouco mais tranquila, mas era difícil lidar com todo o drama que bagunçava minha cabeça. Afastei minha mão da sua e me encolhi mais para perto da janela.

- Mel - Ele me chamou meio choroso - Me deixa te ajudar. 

- Você está aqui não está? - Disse impaciente.

- Você disse que não me odiava - Disse me encarando - Mas obviamente odeia.

- Por que me beijou naquela festa Peterson? - Também o encarei.

Continuou me encarando em silencio por um tempo.

- Eu amo você - Disse inabalável - Por isso.

- Mas por que agora? - Não conseguia entender e estava cansada de tentar.

- É hora de você saber a verdade, Melanie.

- Você diz isso o tempo inteiro, mas nunca realmente diz essa tal verdade.

Ele sorriu parecendo cansado. 

- Você nunca me deixa dizer.

Comecei a rir de nervoso e ele fez o mesmo.

- Não me importo se não me quiser na sua vida depois de tudo isso - Disse mais serio - Sei que vai para a faculdade, conhecer pessoas novas e ser muito feliz, mas deixa eu te ajudar, pelo menos agora.

- Obrigado, Peterson - Olhei em seus olhos e senti uma vontade repentina de beija-lo, mas não o faria, apenas peguei em sua mão e encostei minha cabeça em seu ombro - Sabe o quanto isso é importante.

- Eu sei Mel e talvez, só talvez, você consiga me entender no final de tudo isso.

Tentei não pensar muito nas coisas que ele queria dizer, tudo isso só me deixava mais confusa, ele estava ali por mim e aquilo me bastava por enquanto.

Adormeci em seu ombro com lembranças antigas, a melhor delas era do primeiro ano, eramos já dois bobos apaixonados, foi quando aconteceu nosso primeiro e surreal beijo.

Não me abandoneOnde histórias criam vida. Descubra agora