Segundo ano, Ensino médio. (Depois das Férias de Verão) II

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- Mel - Peet sussurrou no meu ouvido depois de um longo tempo de silencio - Eu amo você.

Senti as lagrimas voltarem, mas elas eram tranquilas exatamente o oposto de alguns minutos atrás, talvez Deus tivesse me enviado Peterson para que eu pudesse superar isso, para que eu tivesse um equilíbrio entre coisas boas e ruins e só mesmo um amor tão verdadeiro e bonito poderia me ajudar a superar aquilo.

- Eu também te amo Peet, muito - Disse chorosa.

- Vai me dizer o que aconteceu? - Perguntou tranquilo.

- Não quero - Disse sentindo as lagrimas mais fortes - Não posso.

- É claro que pode Mel, você é minha namorada, estamos a quase cinco meses juntos e você pode acreditar que nunca gostei e nunca vou gostar de alguém como eu gosto de você, sabe disso não sabe? - Perguntou beijando minha testa.

- Sei - Respondi tentando ainda me controlar.

- Então você pode confiar em mim, pode me dizer tudo, é pra isso que estou na sua vida - Disse de forma tão apaixonante que me fez acreditar por um segundo que talvez eu pudesse realmente contar o que aconteceu.

- Eu não posso - Disse tanto pra ele quanto para mim mesma.

- Por que não pode? - Perguntou angustiado.

- Porque você me trataria diferente, todos me tratariam diferente se soubessem - Foi quase um pensamento em voz alta e quando notei que as palavras realmente saíram de mim senti a dor apertar o meu peito e as lagrimas voltaram incontroláveis.

Me apertei a ele tentando conter meus soluços e ele me aconchegou nos seus braços. Acabei adormecendo e a dor passou por algum tempo.

Eu estava sozinha no meu quarto escuro, ouvi algum barulho vir do andar de baixo e me aconcheguei me enrolando no meu edredom, estava frio aquela noite, estava frio e havia um silencio perturbador tirando as pesadas passadas fazendo barulho na escada. A porta do meu quarto se abriu deixando a luz do corredor invadir o escuro e eu me sobressaltei quando notei que alguém estava parado na porta me observando. Era um homem, alto e corpulento com um cabelo desgrenhado. Ronald, o namorado de minha mãe.

- Ronald? - Perguntei um pouco assustada.

- Shhhh, não vamos acordar sua mãe - Sua voz estava carregada, a voz de um homem bêbado.

Ele fechou a porta lentamente atrás de si e ficamos nós dois sozinhos no escuro.

- Ronald?! - Minha voz saiu tremula, eu queria correr, levantar da cama e fugir, mas eu não sabia onde ele estava e não era capaz de enxergar nada.

- Está mais bonita do que nunca Melanay - Sua voz surgiu mais próxima do que eu imaginava com aquela pronuncia horrível do meu nome que sempre me deu arrepios.

Senti o choque tomar conta de mim, o tipo de choque que me impedia de me mexer, o tipo de choque que fazia minha mente torcer para ser um sonho.

- Shhh, sshhh - Em um único movimento ele subiu sobre mim tapando minha boca - Faça qualquer barulho e eu mato você, você e sua mãe - Senti seu halito de álcool e me senti tonta, lagrimas rolaram pelo meu rosto - Eu prometi ser um bom padrasto pra você não foi Mel? Chegou a hora de cumprir - Sua voz parecia maníaca e aquelas palavras se repetiram na minha cabeça como o prenuncio do que ia acontecer.

"Chegou a hora de cumprir" "Chegou a hora de cumprir"

Senti um grito engasgado na minha garganta e acordei atordoada, haviam mãos ao meu redor me debati sem controle tentando fugir delas, dele.

- Mel?

Cai da cama e permaneci sentada no chão, chorando descontroladamente.

A luz do dia ainda entrava pela janela, havia uma tarde morna lá fora, uma tarde que não me importava porque pra mim parecia noite, parecia que aquele escuro nunca mais iria me abandonar.

Peterson estava parado no pé da cama, vestia apenas sua calça e parecia preocupado.

- Mel - disse se aproximando e sentando ao meu lado, rapidamente me aconcheguei em seu peito - Tudo bem, foi só um sonho - Disse também chorando - Foi só um sonho - Repetiu alisando minhas costas.

- Não - Os soluços ainda não haviam me abandonado - Não foi só um sonho - Limpei minhas lagrimas sabendo que ainda viriam muitas mais - Foi real, realmente aconteceu Peterson - Me separei dele para poder olhar seu rosto - E se eu pudesse faria alguma coisa pra mudar, não sei - As lagrimas continuavam desesperadas - Teria gritado, esperneado, fugido - Segurei meus joelhos perto do meu peito, sentindo minhas mãos tremendo - Mas eu não fugi, não fiz nada, nem mesmo depois - Sentia como se em algum momento eu iria simplesmente desaparecer depois de sentir tanta dor, mas nem eu, nem mesmo a dor desapareciam.

- Mel... - Encarando seu rosto eu vi um semblante de entendimento, mas eu tinha que dizer, ele precisava ouvir.

- Ele entrou no meu quarto a noite - Não conseguia olha-lo enquanto falava - Disse que se eu gritasse ele me mataria - senti mais soluços, um atrás do outro - mataria minha mãe, Peterson, eu não soube o que fazer - enfiei minha cabeça entre os joelhos tentando fugir.

Ele levantou abruptamente me fazendo observa-lo, colocou as mãos sobre o rosto e haviam lagrimas ali, andou de um lado para o outro descontrolado.

- Peterson - Chamei ainda chorando e preocupada com sua sanidade.

Ele parou de costas pra mim, negando freneticamente com a cabeça.

Senti uma dor profunda no meu coração, agora ele sabia, nunca mais me trataria da mesma forma, talvez nunca mais quisesse me ver e se assim fosse eu não teria mais motivos para viver.

- Isso não devia ter acontecido - Disse finalmente se voltando para mim, chorando dolorosamente - É culpa minha - Disse se ajoelhando próximo a mim.

- Como isso pode ser culpa sua Peterson? - Perguntei entre lagrimas.

- Eu devia estar com você - Disse pegando meu rosto entre suas mãos - Devia cuidar de você - colou sua testa a minha - Devia saber que estava em perigo.

- Você não tinha como saber Peterson, ninguém tinha como saber, a culpa é minha - Disse enquanto os soluços voltavam violentos.

Peterson me observava ainda segurando meu rosto, tentei fugir de seus olhos porque tudo o que eu sentia era vergonha, mas ele segurou meu queixo e me obrigou a olha-lo.

- Não amor - Disse ainda com lagrimas nos olhos - Você não devia passar por isso, isso não é sua culpa - Disse e me abraçou e eu me aconcheguei nos seus braços tentando acreditar em suas palavras - Sinto muito, sinto muito mesmo Melanie - Estávamos os dois juntos tremendo devido aos soluços incontroláveis.

Não me abandoneOnde histórias criam vida. Descubra agora