Estávamos no restaurante sentados na mesa em que costumava me sentar com minha mãe sempre enquanto ainda morava ali, tamborilava os dedos na mesa tentando me acalmar, quinze minutos, estávamos ali a quinze minutos e nem sinal dela. Peterson segurou os dedos que eu tamborilava na mesa entre os seus, sorriu tranquilizador tentando me acalmar e voltou a olhar para o estacionamento através do vidro.
Eu não sabia o que eu estava fazendo ali, não sabia o que eu falaria para ela ou como falaria, só sabia que devia estar ali e que precisava falar, meu nervosismo estava me enlouquecendo, mas no momento em que me lembrei do telefonema de Ronald o nervosismo passou e eu soube muito bem o que devia fazer.
Peterson apertou ligeiramente meus dedos entre os seus e eu segui seu olhar em direção ao estacionamento, sabia que ela tinha chegado, mas não consegui enxergar nada através do vidro sujo. Segundos depois a porta do restaurante se abriu e eu a vi, seus olhos varreram o salão procurando por nós e quando os seus se encontraram com os meus ela sorriu abertamente vindo em nossa direção.
Senti um grande alivio ao vê-la e desatei a correr na sua direção sem me preocupar com as poucas pessoas a nossa volta, a alcancei rapidamente e me atirei em seus braços deixando toda a saudades se esvair. Todos os dias, desde que parti para longe, tinham sido uma tortura e nos últimos tempos tinha sido ainda pior porque o medo de perdê-la me rondava o tempo todo, mas ali estava ela, sã e salva.
Me afastou ligeiramente para me olhar com uma expressão carinhosa, depois me abraçou de novo ainda mais forte.
- Nem acredito que você está aqui! – Disse sorrindo – E está tão linda e crescida.
- Mãe eu senti sua falta – Disse ainda me segurando a ela, pois eu sabia que assim que soltasse tudo teria que ser explicado.
- Também senti a sua filha – Seu tom de voz era agora triste – Acho que nunca devia ter te deixado ir.
O medo percorreu meu corpo, não podia nem imaginar como poderia ter sido mil vezes pior se eu não tivesse ido. Eu a soltei rapidamente tentando controlar as emoções que poderiam estragar tudo.
- Mãe esse é o Peterson – eu lhe apresentei transmitindo a ele um breve sorriso.
- Nos conhecemos ontem – Ela sorriu me lançando um olhar curioso – Aliais porque você não veio até em casa?
Eu congelei por um segundo, mas foi breve, a determinação ainda me amparava.
- É sobre isso que precisamos conversar – Olhei ligeiramente ao nosso redor – Mas não aqui.
- Tudo bem, mas você parece tão misteriosa – Seus olhos observaram Peterson imaginando que fosse algo que o envolvesse – Onde podemos conversar?
Eu já havia pensado nessa resposta.
- No desfiladeiro.
Ela sabia onde era, pois havia sido ela que me mostrou aquele lugar e por anos foi meu lugar preferido no mundo, talvez ainda fosse, mas depois de hoje eu duvidava muito que continuasse assim.
- Tudo bem, então vamos lá – disse ela rapidamente, parecia animada apesar da curiosidade visível em seu rosto.
Saímos do restaurante rapidamente e caminhamos devagar para longe do centro, o dia estava bonito e naquela manhã eu havia me sentido maravilhosa, mas agora eu estava perto de arruinar o dia e talvez a vida de minha mãe.
Mas era preciso e eu repeti isso para mim mesma até conseguir reunir todas as minhas forças para fazer o que devia.
Chegamos à ponta do desfiladeiro rapidamente, minha mãe se virou pra mim com um sorriso esperando que eu começasse a falar e Peterson se colocou ao meu lado segurando minha mão para me apoiar.
- O que aconteceu Melanie? – Seus olhos passavam de mim para Peterson – É algo serio?
- É algo muito serio – Disse já sentindo as lagrimas nos olhos, respirei fundo para controla-las.
- Você está me assustando Mel – Ela se aproximou rapidamente segurando minha mão livre – É algo com seu pai? – ela observou Peet de novo – Ou com você?
- Não – apertei ligeiramente sua mão tentando buscar mais forças – É sobre algo que aconteceu há um tempo – desvie meu olhar para longe – quando eu estive aqui da ultima vez.
- Você estava estranha – seus olhos tentavam me decifrar – foi embora antes da hora, até Ronald ficou preocupado.
Eu estremeci com menção a ele, tanto Peterson quanto minha mãe notaram isso, os dois genuinamente preocupados. Dessa vez as lagrimas vieram fortes de mais e eu não pude conte-las.
- Mel... – sua voz soava preocupada e ela se aproximou tocando meu rosto.
- É sobre ele mãe – Disse rapidamente entre soluços – Sobre o que ele fez...
Eu não sabia se era capaz de continuar, só conseguia ver confusão nos olhos dela e não queria ver tristeza ali.
- O que foi que ele fez Melanie? – Perguntou um pouco alterada – o que você sabe?
- Mel – Chamou Peet segurando minha mão ainda mais firme, era bom saber que ele estava ali por mim.
- O que foi filha? Pode me contar – Sua mão afagou meu braço protetoramente – Ele me traiu ou algo assim?
Seus olhos suplicavam por uma resposta e a dor no meu coração só aumentou.
- Ele é um canalha mãe – Disse sentindo também a raiva aumentar – Vem pra casa comigo, deixe ele pra trás.
- O que? Do que você está falando? Achei que vocês tinham começado a se entender, sei que ele é um pouco instável às vezes...
Peterson ao meu lado estava quase tão nervoso quanto eu.
- Não é isso – disse rapidamente – Ele não é só instável, ele é um monstro.
- Por que você diz isso? – Seus olhos estavam confusos e tristes – Filha...
Eu queria mesmo sair correndo dali, ir para qualquer lugar e esquecer que tudo isso tinha acontecido, mas não se tratava só de mim, se tratava da segurança dela que eu vinha negligenciando a um tempo. A lembrança da voz gélida de Ronald invadiu minha mente.
- Ele fez algo muito errado mãe... – Os soluços aumentaram e as lagrimas também – Quando eu estive aqui... – Meus olhos se embaçavam cada vez mais – Comigo...
Ela parecia ainda mais perturbada, seus olhos me observavam tentando entender as lacunas que eu deixei.
- Mel... – Sua voz se perdeu e seus braços me envolveram com o mesmo desespero que transparecia no seu rosto – O que ele fez filha?
Eu só consegui me apegar a ela e desabar em lagrimas, ela tinha entendido a grávida por mais que não tivesse entendido o que realmente aconteceu. Talvez eu pudesse convence-la a ir comigo sem ter que lhe explicar tudo, mas eu não podia fugir disso, tudo o que eu podia fazer agora era o que Peterson havia me dito ontem encarar o que aconteceu de uma nova forma.
- Ele chegou bêbado uma noite, entrou no eu quarto e eu não pude fazer nada... – As palavras saíram rapidamente e eu tentei observar a reação dela, seu rosto era um choque e seus olhos demonstravam uma tristeza intensa e as lagrimas já se acumulavam.
- O que? – Sua mão tapou a boca para evitar um alto soluço, eu esperei observando todas as reações passarem por ela, assim como foi quando contei para Peterson.
Ela por fim havia entendido, nem foram necessárias tantas palavras, mas só essas bastaram para me deixar destruída novamente e eu tinha a leve impressão de que sempre seria assim, isso sempre estaria ali entre nós agora e só me restava esperar que fizesse algo bom para o nosso relacionamento ao invés de destruí-lo. E bem quando me perguntava o que seria, ela me abraçou muito forte e caiu no choro junto comigo.
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Não me abandone
Romance[Finalizado] Na verdade eu não tinha muita coisa a reclamar do ensino médio em si, só mesmo um fato, um fato que tinha mudado muito as coisas, para pior, mas também para melhor. Basicamente nunca havia me dado bem nas outras escolas por onde havia...