Dias atuais, Terceiro ano. (XII)

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- Então, você e Matt? - Olivia perguntou me analisando.

Estavamos no quintal de casa, deitadas sobre um pano xadrez onde tinhamos acabado de fazer piquenique.

- O que tem eu e o Matt? - Olivia continuava a me analisar como se tivesse certeza que eu havia feito burrada de novo e ficado com o Matt.

- Ele te trouxe para casa? - Perguntou pretenciosamente.

- Trouxe Ollie, mas você sabe que não aconteceu nada - Disse meio impaciente.

- Sei? - Sorriu maliciosamente.

- E você e o William? - Perguntei mudando o foco do assunto.

Analisando a expressão de Ollie percebi que havia algo de errado acontecendo. Ela não respondeu e colocou seus óculos escuros, havia lágrimas rolando abaixo de seus olhos.

- Ollie? - Chamei preocupada e me sentei para avalia-la melhor.

- É complicado Mel - Disse e se sentou também juntando seus joelhos no peito.

- Você sabe que eu entendo bem coisas complicadas, Ollie - Segurei suas mãos para tentar tranquiliza-la - Pode me dizer tudo, estou aqui para te ajudar.

- Ele não quer saber de mim, não quer um namoro nem nada assim - Suas lágrimas rolavam ainda mais - Mas eu gosto dele, realmente gosto, as vezes ele é tão perfeito e do nada muda comigo, eu não sei o que fazer.

Era absolutamente estranho ver Ollie assim, tão insegura.

- Ele pareceu ser um cara legal - Tentava procurar as coisas certas para dizer, mas isso nunca é fácil - Mas quando alguém não quer, Ollie, não há o que fazer.

- Mas eu não consigo simplesmente evitar gostar dele - Disse limpando as lagrimas.

- Isso eu entendo - Sorri amargamente - A gente sempre acaba gostando do que nos faz mal.

- Então não tem jeito? Nascemos para ser infelizes?

- Não, Ollie, claro que não - Disse tentando anima-la - Nascemos para destruir corações.

Ela sorriu com umas últimas lagrimas escorrendo.

- E como faço isso se não consigo nem manter o meu intacto? - limpou as últimas lagrimas e voltou a se deitar olhando para o céu.

- Só acho que você devia se desapegar aos poucos dele - Me deitei ao seu lado também contemplando o céu - A gente sofre quando nos apegamos demais, mas se você gosta realmente dele de um jeito em tudo isso.

- Como? - Perguntou me olhando.

- Faça ele se apaixonar por você.

- Como se fosse fácil - Se deitou virada para mim apoiada no cotovelo.

- Você é simplesmente deslumbrante, Ollie, só precisa que ele perceba todas as suas qualidades.

- E o que você sugere? - Parecia mais a Olivia que eu conhecia, determinada.

- Vá aos shows dele, seja uma boa fã, o seduza deixe-o louco por você.

Abriu o sorriso mais fabuloso dos últimos tempos.

- Posso fazer isso - Se deitou novamente de costas - Mas acho que ele já se enjoou de mim.

- Então mostre as outras mil Olivias que há ai dentro - Talvez fosse uma péssima ideia tudo isso, mas conhecendo Olivia como conhecia seria ao menos divertido para ela.

O telefone de casa tocou e eu me levantei rapidamente para atender, esperava que fosse minha mãe finalmente retornando minha ligação.

- Alo? - Chamei ouvindo a respiração na linha.

Ouvi um tempo de silêncio e depois uma risada invadiu o fone, meu sangue esfriou no corpo e todos os meus pelos se arrepiaram.

- Malanay - A voz de Ronald saiu embaçada, mas trouxe milhares de lembranças de volta para minha mente.

Fiquei paralisada com o fone no ouvido sem responder.

- Sei que é você - Ele riu novamente.

- Porque está me ligando? - Perguntei perturbada.

- Senti saudades - A risada surgiu novamente me arrepiando - Estou com o telefone da sua mãe, vi seus recados e não queria te deixar preocupada, por que não vem me visitar mais Melzinha?

- Não devia ligar aqui, se meu pai atendesse...

- Seu pai é um idiota, um fraco - Ele interrompeu quase gritando, parecia fora de controle - Todos vocês são.

- Eu devia chamar a polícia - Disse sentindo a raiva tomar conta de mim.

- Sabe o que pode acontecer a sua mãe se fizer isso? Não brinque comigo Melanie.

Senti as lágrimas rolarem pela minha bochecha, uma mistura de desespero e ódio.
- Não vai fazer nada a ela! - Gritei loucamente para o telefone.

- Não farei se você for boazinha - Podia imaginar um sorriso amarelo e perverso - mas eu posso dar um sumiço na sua mãezinha a qualquer momento.

- A polícia te acharia seu canalha - Ainda não conseguia acalmar meus nervos, era tudo surreal.

- Acredita mesmo nisso? Acho que não - Respondeu a própria pergunta - A vida da sua mãe vale o risco Melanay?

Não respondi, devia desligar de uma vez, mas a preocupação com minha mãe me impedia.

- Venha me visitar, ver como sua mãe está - Continuou com um riso na voz - Para ter certeza de que ela está bem, a gente pode se divertir de novo.

- Nunca mais vai encostar em mim seu canalha nojento - Gritei desesperada de novo - E eu vou matar você se fizer algo a minha mãe.

- Então espero que faça isso logo - Disse bravo - Porque vou cuidar da sua mãe rapidinho.

Não! Senti meu coração bater descompassado.

- Por favor, não - Sussurrei, toda a raiva já havia sumido dando lugar para o medo.

- Venha me ver Melanay e nada acontecerá a ela - Seu riso perverso dominou novamente meus ouvidos.

Antes que eu pudesse dizer algo mais ele desligou o telefone. Desabei no sofá sentindo minha sanidade se esvair, as lágrimas saiam descontroladas.

- Melanie? - Olivia entrou na casa preocupada - O que houve? - Perguntou se sentando ao meu lado e me abraçando.

Me confortei em seu abraço sem dizer nenhuma palavra.

Eu tinha que ir atrás dele, tinha que impedi-lo de fazer algo contra minha mãe, isso tinha que acabar de uma vez por todas.

Não me abandoneOnde histórias criam vida. Descubra agora