Só por cima do meu cadáver

3K 375 131
                                    

Cirilla

 A ressaca com a qual despertei na manhã seguinte foi ainda pior do que eu havia tido anteriormente, contudo, eu me lembrava claramente dos acontecimentos da noite passada. A sequência de atos imprudentes realizados por mim se sucederam em vislumbres rápidos diante de meus olhos, como um lembrete de toda a dignidade que perdi, ou melhor, que joguei fora.

 Geralt permanecia sentado na frente da porta, impedindo-a que fosse aberta tanto por mim quanto por alguém de fora do quarto, porém o bruxo não mais dormia. Suas órbes amarelas e ferinas estavam fixas em mim, imóveis enquanto pareciam me predar em silêncio. 

 - Espero que tenha se divertido noite passada. - seu tom era sério e acusatório.

 Pisquei algumas vezes, pouco a pouco recobrando os movimentos do meu corpo, para então me sentar na cama e esticar os braços e pernas, acordando meus músculos preguiçosos e retesados. A luz da manhã que penetrava pelas janelas ardia minha visão e tornava a dor de cabeça quase que insuportável. Tudo ao redor girava, como se de alguma forma eu ainda estivesse embriagada.

 - Poderia ter sido melhor. - respondi, massageando as têmporas. - Infelizmente você a arruinou. 

 - Eu a arruinei? Estava te protegendo de si mesma. - vociferou, ficando em pé em um pulo.

 Sentei-me na beirada da cama e calcei as botas, visto que estava quase totalmente vestida, faltando apenas as braçadeiras e luvas.

 - Pois então continue fazendo esse bom trabalho. - revirei os olhos e sorri em provocação. 

 - Hmm. - o riviano torceu os lábios ao murmurar em descontentamento.

- Só não se esqueça de que minha avó te pagou para proteger a minha vida, e não minha "virtude". - prossegui, ficando em pé e afivelando os acessórios em meus braços.

 Em um piscar de olhos ele foi em minha direção, cobrindo a distância que havia entre nós com um grande passo. Sua respiração pesada soprou em meus cílios, fazendo-me piscar algumas vezes.

- Meu único dever, princesa, é garantir que fique longe de imbecis que possam te machucar ou lhe fazer algum mal.

 Por conta da proximidade, eu não conseguia visualizar seu rosto por completo, logo, fixei minha atenção na boca de Geralt enquanto ele falava, e percebi que de alguma forma o homem fazia o mesmo. Percebendo o aumento da tensão, dei um pequeno passo a frente, resultando no choque do meu corpo ao seu e a percepção de sua respiração cada vez mais pesada. Assim como a minha. 

 - Então por que se importa com quem eu durmo? - questionei, fitando seus olhos, lutando contra as minhas próprias borboletas no estômago.

 - Eu não me importo. - rebateu, aproximando o rosto do meu e sibilando em tom de ameaça. - Na verdade, estou pouco me fodendo para quem você abre suas pernas. Quando essa merda acabar e eu te devolver para a rainha, foda com quantos quiser, mas enquanto estiver comigo, faça o que eu mandar. Se eu mandar você correr, você corre. Se eu mandar você parar, você para. Se eu mandar você ir dormir e não dar corda para flertes baratos de bêbados, você me obedece. No momento, Princesa Cirilla, eu sou a única pessoa que separa você da morte. 

 Ouvi suas palavras boquiaberta e com as narinas infladas. Furiosa, porém contendo toda a frustração. Eu me perguntava quem ele pensava que era para sequer imaginar que possuía algum poder ou domínio sobre mim. Que percepção distorcida da realidade o fazia crer que tina o direito sobre minhas ações? 

 - Só por cima do meu cadáver. 

 Em um movimento rápido, Geralt firmou a mão em minha nuca, emaranhando meus fios desgrenhados em seus dedos. Ele foi tão veloz que só me dei conta quando seu gesto refletiu-se em um arrepio que se apoderou instantaneamente do meu corpo, como se todos os meus músculos respondessem unicamente ao seu toque.

Lei do Destino [Reta Final]Onde histórias criam vida. Descubra agora