O Curso das Coisas

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Cirilla

Dessa vez eu não me encontrava no fundo de um rio, submersa, lutando por oxigênio. Meus dedos agarravam as raízes presas nas bordas de um penhasco enquanto meu corpo balançava no ritmo da ventania. Minhas mãos estavam dormentes e ameaçavam me arremessar para baixo, onde não havia nada para ser visto a não ser neblina, indicando que eu estava a uma grande altura. Tentei içar meu corpo para cima, me impulsionar com os braços, no entanto, eu parecia debilitada e mal tinha forças para me manter pendurada.

Então eu senti, o abraço da morte que me carregaria até o final daquele penhasco onde meu corpo repousaria. Sabe-se lá onde. Eu gritei, na esperança de obter algum tipo de ajuda mesmo sabendo que era praticamente impossível, no entanto, diante dos meus olhos, uma enorme figura apareceu e tampou as nuvens cinzentas. Gritei seu nome, contente em vê-lo, e ele estendeu sua mão para mim, me resgatando.

De repente, uma fraca luz atingiu minha retina coberta pelas pálpebras. Eu havia sonhado novamente com o homem misterioso. Em meus sonhos eu via nitidamente o seu rosto, contudo, ao acordar não conseguia me recordar de um único detalhe sobre sua aparência. Como era mesmo o nome dele?

Ainda de olhos fechados, constatei que permanecia no chão da floresta, encolhida e com os cabelos repletos de pequenos galhos e folhagens. Me sentia exausta, pois fomos montar o acampamento de madrugada, e como Geralt ainda não havia me acordado para seguirmos viagem, eu sabia que ainda deveria ser bem cedo.

Dei um longo bocejo, estiquei os braços acima da cabeça e abri os olhos lentamente, e assim que o fiz tomei um belo de um susto. Dei um grito de pavor e instintivamente joguei uma pedra no bruxo enquanto entoava o maior número de palavrões que eu conhecia.

- Porra, Cirilla. - ele guinchou quando a pedra que arremessei acertou sua testa.

- Pro inferno, Geralt! O que é isso? - gritei, ficando de pé e cambaleando no processo de me afastar do lobo branco. Que se encontrava mais branco ainda.

Todo o seu rosto estava branco como giz, sua pele parecia fria e sem vida, enquanto seus olhos se mostravam completamente negros, como se suas pupilas tivessem se expandido tanto a ponto de cobrir toda a córnea.

Ele sorriu, deixando sua aparência mais aterrorizante.

- O que foi, princesa? Minha aparência não lhe agrada?

- Você está horripilante. - respondi, levando as mãos ao peito na tentativa de acalmar meus batimentos cardíacos.

- Eu bebi uma poção um pouco depois que você dormiu. Ela potencializa os meus sentidos. - explicou, se levantando e chutando as folhas em direção da fogueira apagada, encobrindo a prova de que estivemos ali.

- E te deixa com a aparência de um cadáver.- completei. - Podia ao menos ter me avisado para eu não ter acordado de um pesadelo e ter dado de cara com isso. - apontei em sua direção.

O bruxo soltou um rosnado, mas creio que também ria. Ele juntou suas coisas, recolheu a manta que havia me dado para me proteger do frio e guardou em sua bolsa. Em seguida se dirigiu a Plotka e a desamarrou da árvore.

Seguimos por mais algum tempo por entre as árvores, nos atentando a cada ruído no percurso. Em determinado momento, quando me virei para fazer algum comentário, notei que seu rosto já tinha retornado ao normal - ou tão normal quanto poderia, visto que seus olhos eram de uma tonalidade muito incomum.

Eu já estava para reclamar de sede quando por coincidência fomos parar em um riacho. Geralt puxou as rédeas da égua, que foi trotando até a beirada do curso d'água. Ele desceu, fazendo com que minhas costas sentissem falto da pressão de seu corpo contra o meu, e estendeu a mão para me ajudar a chegar ao chão.

Lei do Destino [Reta Final]Onde histórias criam vida. Descubra agora