Eu Nunca...

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Cirilla

Vagarosamente senti a suave claridade do dia que estava nascendo alcançar minhas pálpebras, me dando um leve vislumbre do sol se erguendo ao lado de fora.

Permaneci deitada e de olhos fechados. Estava me sentindo tão confortável que cogitei passar o dia todo na cama, então me aconcheguei nos lençóis e abracei o travesseiro com um pouco mais de força, acariciando o tecido suave com o meu rosto. Dei um sorriso de satisfação, no entanto, comecei a achar algo estranho.

Primeiro - aquele travesseiro não era macio como eu me lembrava. Ele tinha o aspecto meio endurecido, como pedra envolta em uma fina camada de algodão.

Segundo - eu sequer havia ido dormir com um travesseiro a mais na noite anterior.

Arqueei as sobrancelhas e abri os olhos, e naquele momento o sorriso se derreteu em meus lábios. Ao meu lado, deitado imóvel estava Geralt sem o seu gibão, trajando apenas a camisa preta que notei estar rasgada. Meu rosto entrou em combustão, fervendo juntamente com o resto do meu corpo que foi atravessado por um arrepio e uma sensação estranha.

Arregalei os olhos, imaginando que raios havia acontecido enquanto eu estava dormindo. Ele parecia não estar acordado, e sim, embalado em um sono calmo. Afastei o rosto de seu peito onde antes eu repousava e vagarosamente encolhi meu braço que há segundos envolvia seu corpo, me levantando o mais silenciosamente possível para não acordá-lo.

Assim que me levantei da cama, olhei mais uma vez em sua direção e tomei um susto quando o vi de olhos abertos e um sorriso sacana no rosto.

- Inferno! - praguejei, batendo os pés diversas vezes no chão e levando a mão ao meu peito, sentindo as batidas aceleradas do meu coração. Voei até o travesseiro disposto no chão e o arremessei na direção do riviano, que para o meu descontentamento e aumento de minha fúria o pegou no ar, impedindo que o objeto se chocasse contra seu rosto.

- Dormiu bem, Ciri? - o bruxo me provocou.

- Não. - respondi secamente, indo até onde eu havia deixado minhas roupas e vestindo-as rapidamente, torcendo para ele não ter notado que eu estava apenas com a camisa branca. Literalmente.

- Me pareceu que sim.

- Por que você estava na cama comigo? - questionei depois de já trajar as calças de couro.

Geralt se sentou, apoiando as costas contra a cabeceira da cama, e feito aquilo, pude notar o grande ferimento em seu ombro direito. O local estava enfaixado com um pedaço da camisa do homem, deduzi, e o tecido parecia estar encharcado de sangue.

- Olhe para mim, princesa. - me pediu mesmo sabendo que eu já o fazia. - Acha que eu teria condições de dormir no chão assim?

Ele realmente não me parecia muito bem. Suas feições estavam abatidas e seu rosto pálido, sem falar nas roupas rasgadas e seu ombro ensanguentado, no entanto, mesmo ferido e levemente debilitado, ele ainda lembrava do bruxo que eu havia conhecido no dia do meu aniversário de dezoito anos enquanto eu jogava bugalha na rua com meus antigos amigos - grande, forte, destemido e munido de sarcasmo.

- O que aconteceu ontem?

- Como eu suspeitava, havia mais de um ghoul.

- E um deles fez isso em você? - apontei em direção ao tecido ensanguentado em seu ombro.

- Ah, esse arranhão? Não foi nada demais. - brincou. Eu sabia que havia sido grave, do contrário, ele teria dormido no chão. - O outro quebrou minhas costelas. Mas já estou bem, a poção que bebi ontem quando cheguei permite me recuperar mais rapidamente. - acrescentou quando notou o espanto em meu rosto.

Lei do Destino [Reta Final]Onde histórias criam vida. Descubra agora