Qualquer Lugar

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Cirilla

Os pesadelos não vieram da forma como eu estava acostumada, através de sonhos cujo enredo eu não podia controlar, e sim, quando grandes mãos envolveram meu corpo e me chacoalharam, obrigando-me a despertar com um sobressalto.

- Acorde, princesa! - Geralt parecia gritar, fazendo sua voz reverberar em meus tímpanos sensíveis. - Precisamos ir. Agora!

Levantei-me com dificuldade, estiquei meus braços acima da cabeça e soltei um longo bocejo, me arrependendo por conta das dores no corpo que vieram junto com meus movimentos. Minha cabeça latejava, minha boca estava seca e meu estômago revirava

- Não temos tempo para isso. Vista-se. - ordenou, jogando minhas roupas em cima da cama.

O obedeci. Subi as calças e vesti os outros acessórios, sem saber ao certo a origem de seus temores e o motivo do homem ter me acordado tão cedo após uma longa noite de bebedeira e decisões ruins.

- O que está acontecendo, Geralt? - o questionei, confusa ao vê-lo calçar as botas com agilidade.

- Nilfgaard está na cidade. Estão procurando por você.

- O que? Mas como? Pensei que os tivéssemos despistado.

- Só por um momento, mas eles não vão parar enquanto não a pegarem. Precisamos ir embora, e rápido.

Assenti, colocando o resto de minhas roupas com urgência.

O contraste entre aquele instante e a noite anterior quando estive nos braços do bruxo era inquietante. Se em um momento eu me sentia segura, no outro dei-me conta de que o que havia acontecido era apenas uma breve pausa na quebra da minha existência. Um momento de paz em meio as ruínas que minha vida havia se tornado. Tudo o que eu queria era sentar-me a mesa com os meus avós comer pães e uvas. Queria acordar de pesadelos e ter a minha criada para me confortar. Queria discutir com a rainha sobre vestidos e festas, no entanto, eu estava beijando bruxos e fugindo de um reino que me queria como objeto, tudo porque Calanthe não foi capaz de aceitar que há dezoito anos a filha estava apaixonada por um homem enfeitiçado com cara de ouriço.

- Está pronta? - ele perguntou, reunindo suas últimas poções e guardando seus pertences na bolsa de couro.

Por sorte seus ferimentos estavam melhores e ele estava quase que completamente recuperado.

- Acho que sim. - respondi com um frio na barriga diante das lembranças do ataque de Nilfgaard em meu aniversário há apenas alguns dias. Se eu fechasse os olhos, ainda podia ver os corpos empilhados e sentir o cheiro ferruginoso do sangue. - Vamos.

O homem atravessou o quarto e escancarou a porta, percorrendo com agilidade o estreito corredor do andar superior. Eu o segui de perto, indo até as escadas que nos levariam ao térreo, quando de repente ele estacou, fazendo-me colidir com seu corpo rijo. Precisei esquivar-me apenas um pouco para ver o motivo de sua súbita pausa: Nilfgardianos irrompiam pela entrada da taverna, revirando mesas, arremessando cadeiras e empalando quem ficasse no caminho.

- Geralt? - indaguei, rendendo-me aos tremores que possuíam meu corpo.

- Temos que voltar. - sua voz grave foi como mãos chacoalhando meus ombros, colocando-me em estado de alerta.

Pisquei diversas vezes e dei meia volta, arrastada pelo bruxo que me puxava pelo pulso. Retornamos ao quarto, visto que não havia um andar superior. Ele percorreu o cômodo, procurando por algo, alguma passagem ou talvez um milagre.

Gritos vindos da taverna faziam o meu estômago revirar.

- Precisamos pular. - Geralt disse, ao alcançar a janela, colocar a cabeça para fora e constatar que não tinham soldados naquela rua.

Lei do Destino [Reta Final]Onde histórias criam vida. Descubra agora